Arte: Talita Ai lô. Foto: Felipe Campos Melo / Fotos Públicas

“Quem prepara o outro pão?
Assim como o outro pão
Deve o pão da justiça
Ser preparado pelo povo.
Bastante, saudável, diári0”.
(Bertold Brecht)

Com um governo de costas para a população e para o futuro, o Brasil já agoniza com inflação em disparada, crise da energia elétrica, seca, carestia da cesta básica, do gás de cozinha e outros combustíveis, queda nas exportações, ao que se somam a falta de vacina contra a Covid-19 e o crescente volume de famílias que voltaram a viver em situação de insegurança alimentar ou fome.

O que justifica a atual situação do Brasil? A pandemia? O desastroso e irresponsável governo Bolsonaro? A articulação desencontrada da esquerda? A resposta não é simples, assim como a solução não virá sem grande mobilização democrática para alavancar um projeto popular de fôlego com projeções a médio e longo prazo.

É notório que a alta de preços se espalhou por boa parte da economia brasileira e os problemas citados acima são apenas alguns indicativos do cenário de caos econômico, social e sanitário que o país enfrenta, enquanto nas ruas e nos meios digitais ecoa cada vez mais forte o grito: Fora Bolsonaro!

De acordo com levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas, no acumulado em 12 meses até julho de 2021, a inflação do Brasil chegou a 9%, o que coloca o país como a terceira maior inflação da América Latina, ficando atrás apenas de Argentina e Haiti.

Destaque-se que o primeiro enfrenta uma persistente e dura crise econômica, enquanto o segundo vive em constante ebulição política e social, marcadas por desastres naturais. A estimativa é que o Brasil encerre o ano com inflação em 7,58%, bem acima do centro da meta estipulada pelo governo, de 3,75%.  

O que isso significa? A inflação vem sendo sentida com força na mesa da população brasileira – especialmente entre as pessoas mais pobres, entre as mulheres que sustentam sozinhas suas famílias e na fila do desemprego que só aumenta. Para as famílias com renda de um salário mínimo, o preço da cesta básica de alimentos chega a consumir 65,32% dos ganhos mensais.

De acordo com Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada mensalmente pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) em 17 capitais, em julho de 2021, o custo médio da cesta básica de alimentos aumentou em 15 cidades. A cesta mais cara foi a de Porto Alegre (R$ 656,92), seguida pela de Florianópolis (R$ 654,43) e pela de São Paulo (R$ 640,51). Ao comparar julho de 2020 a julho de 2021, o preço do conjunto de alimentos básicos subiu em todas as capitais que fazem parte do levantamento.

As ruas trazem possibilidades reais para mudarmos esse cenário, mas como vamos calibrar o combate à pessoa do Bolsonaro ou a superação do bolsonarismo e a tudo que signifique o atraso ou o retrocesso, com propostas políticas e econômicas que retomem a soberania popular?

Estarmos nas ruas é fundamental para defendermos a democracia acima de tudo e para pautarmos o país não apenas com o Fora Bolsonaro. Faz-se necessário um projeto para além da perspectiva eleitoral, com propostas que traduzam os anseios e necessidades reais do povo brasileiro e que consigam garantir minimamente a lisura das instituições no Estado democrático de direito.

As manifestações do dia 7 de setembro, no 27º Grito dos Excluídos e Excluídas, uniu-se à campanha Fora Bolsonaro, mostrando em mais de 200 cidades, a força do Grito, a mística, espiritualidade, criatividade, capilaridade e força da luta e organização popular.  Do outro lado, o bolsonarismo optou mais uma vez pelo caminho da violência: criar e espalhar o terror, além de disseminar mentiras com maquiagem de “notícia”.  O povo que mais sofre com a inflação e a carestia, também representa a camada da população que convive diretamente com a violência das milícias e do crime organizado, e agora também é alvo preferencial das milícias digitais que espalham as chamadas Fake News.

Apesar do barulho das últimas semanas, e da inteligência política do bolsonarismo que constrói o caos social e institucional, o golpe em curso foi temporariamente esvaziado porque as forças organizadas da sociedade civil foram capazes de contrapor a agenda bolsonarista com o povo nas ruas, ao que se somou a luta indígena em Brasília contra o Marco Temporal e pela vida dos povos tradicionais em seus territórios.

No campo tático, quanto mais o cerco político contra este governo avança, concomitante será a inflamação de sua base, para instaurar por meio da intimidação, o medo político. Não nos deixamos intimidar!  Cada força política, cada sujeito político, será imprescindível para vencermos o bolsonarismo!

Seguiremos cobrando a responsabilidade das autoridades sobre os crimes cometidos pelo presidente Bolsonaro e pelo seu governo. Os atos do dia 7 de setembro foram animadores para a continuidade da construção do projeto popular que queremos para o Brasil.

A rua é o espaço da nossa afirmação enquanto povo brasileiro e lugar da resistência ao golpe que segue em curso. É o espaço para dizermos que é preciso resistir e que vamos resistir, de esperança em esperança! De luta em luta!

Não devemos! Não pagamos!

Somos os povos, os credores!

Rede Jubileu Sul Brasil, 14 de setembro de 2021

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