Diante deste cenário de crise sanitária, política, econômica, ambiental e social, o Grito dos Excluídos Continental e o Jubileu Sul/Américas, em preparação ao 23º Grito dos Excluídos nas Américas, realizam processo de escuta das demandas Latino americanas e caribenhas.

Por Grito dos Excluídos Continental e Jubileu Sul Brasil

O 23º Grito dos Excluídos e Excluídas Continental acontece no próximo 12 de outubro, com realização da live “Qual desenvolvimento e democracia nós queremos”, que será retransmitida pela Rede Jubileu Sul Brasil, pelo Grito dos Excluídos Continental, entre outras redes.  

Para debater e definir os próximos passos da mobilização, a coordenação do Grito Continental realizou reunião organizativa no último dia 8 de setembro, com análise de conjuntura discutindo a realidade socioeconômica, política e ambiental dos países da região. 

Luiz Bassegio, da coordenação do Grito dos Excluídos Continental, conduziu a atividade, que contou com os comentários do Dr. Armando de Negri Fº, da Rede Brasileira de Cooperação e Emergência (RBCE). 

Bassegio lembrou que a edição brasileira do Grito dos Excluídos aconteceu em todo o território nacional e a população saiu às ruas para gritar por justiça, contra a fome, por saúde, emprego, educação, vacina e também pelo Fora Bolsonaro.

“No Caribe Resistimos”. Assim começa sua fala Hilda Guerrero, da Comuna Caribe, articuladora do Grito e do Jubileu Sul/Américas em Porto Rico. Ela afirmou que os povos caribenhos vêm combatendo os ataques repressivos do capitalismo e da onda neoliberal e colonial impostos ao país. “O povo não quer mais corrupção e venda de suas riquezas. Quer auditoria completa e integral das dívidas”, afirmou. 

“Um grito de resistência a todos irmãos e irmãs latino americanos”. Assim, Sócrates Pagura, articulador do Grito na República Dominicana, lembra que enfrentar as pretensões do grande capital impõe seguir articulando com os movimentos sociais, “principalmente para fazer frente a esta direita continental cada vez mais violenta”.  

Armando de Negri, médico da Rede Brasileira de Cooperação e Emergência e do Grito Continental, comenta que o que foi apresentado ilustra uma situação que afeta a todas e todos, e reforça o processo de financeirização das vidas, o endividamento como sistema de dominação dos nossos povos.

“Diante de uma classe política que não dignifica o ser humano, pelo contrário, produz descaradamente a violência, cabe aos povos a resistência”. Gerardo Cerdas Veja, sociólogo, da secretaria continental do Grito, recorda que, neste bicentenário de independência da América Central, “o povo reivindica soberania, e refundar as repúblicas em um marco de justiça social e ambiental”.

Já o movimento panamenho, frente ao governo extrativista, Carlos Escudero, jornalista e articulador do Grito no Panamá, explica que há resistência nas ruas e também nas ações de formação e conscientização, criando espaços de convergências entre indígenas, camponeses, sindicatos, igrejas e ambientalista para defender uma agenda comum: a defesa da vida. 

Ao abordar o modelo de endividamento e seus vários impactos sobre as populações do Sul Global, Martha Flores, secretária geral do Jubileu Sul/Américas, afirmou que é importante tratar do problema da dívida não só a partir da perspectiva financeira, mas também a dívida ecológica e social sobre os territórios e corpos dos indígenas e das mulheres na América Latina e Caribe. 

Com a pandemia, os níveis de endividamento dos países aumentaram ainda mais, chegando a mais de 50% do Produto Interno Bruto (PIB) em alguns casos, como em El Salvador, onde chega a 80% devido a empréstimos junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2020. Apesar da destinação de recursos ao enfrentamento da pandemia, a dirigente observa que é importante entender que a composição financeira do modelo de endividamento não pode operar “senão por meio das estruturas já existentes, tendo o Banco Mundial, o FMI e o Banco Interamericano de Desenvolvimento -BID como atores principais. Isso significa que nossos Estados não são soberanos”. 

“O extrativismo é o braço do neoliberalismo, nunca protege a vida”, diz Soledad Requena, do Centro da Mulher Imigrante e Refugiada (CEMIR).  Ela chamou a atenção para a onda de conservadorismo em toda a América Latina, que coopta setores atrasados em termos de direitos sociais que afetam, sobretudo, as mulheres. 

Jorge Buonomo, de Argentina, se soma ao Grito “para que o continente se una em organização, força e luta para eliminar estas novas formas do neocolonialismo”.

Roseli Pereira Dias, representante de Cáritas/RS, do Brasil, vê com muita alegria a soma dos esforços organizativos para superar este momento de crise por qual passa o país e todos os povos. “Estamos juntos com o Grito Continental neste esforço”.  

Rosilene Wansetto, do Jubileu Sul e Grito dos Excluídos Brasil, diz que “estamos resistindo a este projeto de morte e de violência, mas que, de pé, vamos desmontar este governo”.

Por fim, Armando de Negri falou dos traços comuns para a reflexão dos passos futuros: 

“Não há dúvidas que há muita resistência, há muitas lutas sociais. E estamos num cenário de acumulação de mortos, de assassinatos, de fracassos e derrotas. O balanço sobre esta vitalidade e resistência e sua capacidade estratégica de transformação é o debate que teremos que fazer rumo ao 12 de outubro. Precisamos construir e potencializar coletivamente o que estamos fazendo com tanto sacrifício: um projeto de poder alternativo”. 

A atividade faz parte do debate sobre temas prioritários da Rede e faz parte do processo de mobilizações na região, com apoio do Jubileu Sul/Américas e Jubileu Sul/Brasil por meio do projeto Fortalecimiento de la Red Jubileo Sur / Américas en el logro del desarrollo y de la soberanía de los pueblos latinoamericanos y caribeños, cofinanciado pela União Europeia.

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