Traduzido por Jubileu Sul Brasil
Fotos – Autoconvocatoria por la Suspensión del Pago e Investigación de la Deuda

45 anos depois de “A Noite dos Lápis”¹ e poucos dias depois de a cidadania virar as costas ao rumo do governo nas Primárias Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO), a Auto Convocatória para a Suspensão de Pagamentos e Investigação da Dívida rejeitou neste 17 de setembro o pagamento ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e convoca para Dia de Divulgação e de Reclamação, neste dia 22 (quarta-feira), na Argentina. 

Em coletiva de imprensa em frente ao Congresso, representantes e membros de dezenas de organizações atuantes na Campanha pela Suspensão do Pagamento e Investigação da Dívida também apelaram ao governo de Alberto Fernández, a legisladores e candidatos, a atuar em conformidade com a gravidade da situação do povo e o caráter fraudulento do acordo feito pelo governo Macri com o FMI, suspendendo imediatamente os pagamentos e investigando toda a dívida reclamada ao país.

“Roubos não se pagam”, enfatizou em seu discurso Nora Cortiñas, do movimento de mães e avós da Praça de Maio. “Dizemos não ao pagamento de uma dívida fraudulenta que não devemos e que o povo não tem como pagar. Exigimos que legisladores e candidatos suspendam todos os pagamentos até que investiguem, sancionem e repudiem essa dívida. Continuaremos a fazer o governo entender que não pode fazer com que as pessoas que passam fome e pobreza paguem uma dívida fraudulenta, que isso atrasa o país e prejudica a atenção à crise social, econômica e ambiental ”.

Unidos à mobilização estão representantes do Diálogo 2000, organização membro do Jubileu Sul/Américas, e ainda Economistas de Esquerdas, a Associação Sindical de Profissionais de Saúde da Província de Buenos Aires (CICOP)  e a Federação Sindical dos Profissionais de Saúde da República Argentina (FESPROSA), MST, Movimento Popular, a Coordinadora de Unidad Barrial Movimiento Teresa Rodríguez (CUBa-MTR), Opinião Socialista, Marabunta, entre outros. 

As organizações reivindicaram ao Congresso que rejeitasse o projeto de Orçamento 2020, apresentado na Argentina na noite do último dia 16, por considerá-lo a continuidade do ajuste exigido pelo FMI para pagar uma dívida classificada como crime econômico contra a humanidade no Julgamento Popular contra a Dívida e o FMI, promovido pela Auto Convocatória durante o ano de 2020.

O Dia de Divulgação e de Reclamação é convocado para 22 de setembro,  coincidindo com a data do primeiro pagamento exigido pelo FMI sobre os US$ 45 bilhões que o Fundo entregou ao governo de Mauricio Macri, sabendo que seu destino era a fuga desses mesmos recursos. O presidente Fernández denunciou a fraude, mas, contraditoriamente, insiste em negociar o pagamento ao FMI. O Congresso também não avança na apuração dos créditos cuja “sustentabilidade” e pagamento aprova, e o Poder Judiciário continua sem se pronunciar a favor do cumprimento dos direitos do povo.

Chega de impunidade e violação dos nossos direitos! Esse pagamento e um eventual novo acordo com o FMI, antes ou depois das eleições, comprometerão a economia nacional por décadas. Por isso, a partir do Auto Convocatória para Suspensão de Pagamento e Investigação de Dívidas, continuaremos a convocar a mobilização, a denúncia e a luta nas ruas, pois só com a força e a unidade popular se pode torcer o braço do capital financeiro e ser capaz de alocar recursos econômicos para atender à crise social, econômica e ambiental.

¹ Ocorrida em 16 de setembro de 1976, na cidade argentina de La Plata, “A Noite dos Lápis” marca a data do sequestro e tortura de dez jovens de 16 a 18 anos – Claudio de Acha, María Clara Ciocchini, María Claudia Falcone, Francisco López Montaner, Daniel Racero, Horacio Ungaro e Pablo Diaz, capturados numa operação do 601º Batalhão do Exército. A maioria dos jovens era da União dos Estudantes Secundaristas (UES), que reivindicavam transporte gratuito aos alunos do ensino médio. Levados ao centro de detenção clandestino conhecido como “Poço de Aranas” foram torturados por semanas até a transferência ao “Poço de Banfield”, outro centro clandestino, este em Buenos Aires. Foram libertados  Moler, Díaz, Miranda e Calotti, enquanto os outros seis estudantes se somam às mais de 30 mil pessoas desaparecidas durante a ditadura. 

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