Historicamente o Brasil acumula uma dívida social com a população negra e empobrecida, quadro que é ainda mais grave com as mulheres e com os povos tradicionais. Os nomes pelos quais se apresentam são inúmeros –  indígenas, quilombolas, ribeirinhos, quebradeiras de coco, pescadores e pescadoras artesanais, entre muitos outros.

O avanço dos grandes empreendimentos sobre os territórios também resulta em uma imensa dívida social, climática e ecológica que interfere diretamente na vida das pessoas, além de gerar uma dívida financeira que reduz a capacidade do Estado em todas as esferas para assegurar as políticas públicas, notadamente no campo da seguridade social. Esse cenário afeta de forma mais intensa as famílias com baixa renda e baixa escolaridade, que têm maior dificuldade para garantir sua sobrevivência.

As comunidades com as quais a Rede Jubileu Sul Brasil trabalha atualmente estão situadas em biomas que têm quase a metade de sua área comprometida pela devastação ambiental, decorrentes do avanço das fronteiras agrícolas, das diferentes formas de geração de energia e dos megaempreendimentos, no meio urbano e em outras áreas, provocando impactos na vida dessas comunidades e com alto impacto para as mudanças climáticas.

São exemplos dessa situação: a instalação de grandes hidrelétricas na região amazônica, a expansão do agronegócio no cerrado e na Amazônia, a construção de parques eólicos, usinas termoelétricas, e a crescente e desordenada urbanização em todas as regiões do país aprofundada pela especulação imobiliária.

Outro fator estrutural é a questão da terra, tanto no espaço urbano, quanto no rural. A expansão da especulação imobiliária nas cidades e do agronegócio no campo tem fortes consequências sobre a vida da população. Na cidade, proliferam espaços com moradias precárias, em que predomina a ação do crime organizado, aprofundando problemas com a segurança nas comunidades e a vida de mulheres, crianças e jovens negros especialmente. No campo, ocorrem ondas de migração dos homens adultos e jovens, o que faz recair sobre as mulheres todas as responsabilidades pelo cuidado com filhos e filhas, bem como assegurar a subsistência do núcleo familiar.

Durante a pandemia a moradia ganhou contornos ainda mais graves. Evidenciou um dos problemas históricos, e já não permite que governos e sociedade civil façam vistas grossas para o escândalo da falta de teto no país que aumenta visivelmente cada vez mais nas grandes cidades. Sem moradia digna não há saúde, não há relações sociais justas. Sem endereço não há acesso à educação, trabalho e renda, não há dignidade humana.

Para a Rede Jubileu Sul Brasil, não podemos analisar somente os dados da dívida pública brasileira sem olhar as dívidas sociais, que são históricas e desde a colonização carregam recortes do racismo, do patriarcado, dos privilégios de grande parte da população branca deste país. Além do que incluímos nesta análise as dívidas climáticas e socioecológicas que abarcam o conjunto da vida no planeta, da espiritualidade, das culturas, dos modos de vida.