A Rede Jubileu Sul Brasil (JSB) foi representada pela articuladora nacional Sandra Quintela. O momento foi marcado por encaminhamentos políticos que também determinaram a mudança do nome da Plataforma.

Grupo reunido em Luziânia (GO). Foto: Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político.

Por redação | Com informações da Plataforma

Ousadia para construir outro sistema político. Esse foi o espírito compartilhado pelas 118 pessoas presentes no Encontro Nacional da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político. O evento realizado em Luziânia (GO) nos dias 2, 3 e 4 de dezembro de 2022 reuniu representantes de 96 organizações que compõem a Plataforma e contou com o apoio da União Europeia.

“Tudo passa pela política. Um elemento central discutido no Encontro Nacional foi a questão de que o sistema político não se resumo à eleição, envolve a democracia direta, a participação popular de forma direta, ou seja, colocar nas mãos da sociedade os rumos da democracia brasileira. Além disso, a economia também é um eixo central de discussão da Plataforma, o tema, por exemplo, da dívida pública, a questão do capital financeiro, fazer o enfrentamento dessas questões passa pela luta para a democratização da economia. Termos a Rede Jubileu participando desse espaço fortalece essas pautas no processo de luta pelas reparações do que chamamos de dívidas sociais”, destaca a economista, educadora popular e articuladora nacional da Rede Jubileu Sul Brasil (JSB), Sandra Quintela, que representou a Rede no encontro.

Sobre as repercussões dos encaminhamentos e discussões deste encontro para a Rede, Sandra aponta que “são exatamente o fortalecimento de um campo crítico, autônomo, que tenha uma agenda construída a partir das organizações e movimentos sociais. Essa agenda tende a ter mais força e capilaridade a partir do novo governo eleito, mas sem esquecer que temos a postura de mantermos a autonomia com relação a governos e vamos seguir construindo uma agenda de democratização de fato, a partir das instituições que compõem o sistema político, além de lutar para que o Estado funcione a serviço da sociedade e não a serviço de um pequeno grupo que detêm o poder econômico e financeiro e por isso influencia e domina a gestão dos recursos públicos, como Rede somamos na construção desse campo crítico, autônomo, que tenha compromissos a partir das bases populares”.

Futuro da Plataforma

O encontro trouxe marcos significativos para o futuro da Plataforma. A começar pela proposta de mudança de nome, consolidando os debates feitos sobre a necessidade de pensar a construção de outro sistema político, em vez de reformá-lo. Dessa forma, o novo nome será: Plataforma dos Movimentos Sociais por outro Sistema Político.

A síntese das principais discussões que vêm sendo feitas também subsidiou a Versão 3 da Plataforma, apresentada para a plenária e que segue aberta para novas contribuições. Durante o encontro, também foi escolhido o novo Grupo de Referência da Plataforma, com as entidades que se colocaram à disposição para seguir pensando e ajudando a fortalecer essa rede de articulação que hoje reúne 138 organizações, movimentos e coletivos.

O primeiro dia de encontro contou com uma análise de conjuntura que revelou a diversidade de representações que estão na Plataforma, com demandas que fazem pensar os desafios para os movimentos sociais e populares, a partir das realidades locais. Foi consenso a compreensão de que o novo ciclo de governo traz uma coalização ampla, que vai exigir dos movimentos o trabalho constante para avançar com suas pautas e incidir nos espaços de poder. Da mesma forma, foi valorizada a atuação para além da institucionalidade, fortalecendo a luta nos territórios e nas redes onde as organizações atuam.

Contribuindo para definir os nortes e estratégias da Plataforma, foi debatida a sua versão 3. O documento reúne o acúmulo de debates feitos ao longo dos últimos anos, a partir dos eixos e temas de atuação da Plataforma. A partir da minuta apresentada, as pessoas presentes também puderam trazer novas contribuições, perpassando diversos temas, como a inclusão dos eixos de Democratização da Economia e Democratização da Vida Social. As falas também reforçaram a importância de um olhar interseccional sobre as pautas debatidas pela Plataforma, tendo a compreensão do racismo, machismo e classismo que estruturam a sociedade brasileira.

A partir dessas discussões, uma nova versão do documento será apresentada, ainda que sua construção seja constante e as contribuições poderão ser dadas a qualquer momento. Para dialogar com as teses e ações propostas, as organizações também pensaram estratégias de atuação para conseguir avançar com as pautas da Plataforma, sobretudo na perspectiva de construir outro sistema político capaz de assegurar uma democracia participativa, representativa e com soberania popular.

Grupo de Referência

Além de pensar a atuação externa, o encontro também possibilitou a ampliação do debate sobre a organicidade dentro da Plataforma, com o objetivo de construir formas e métodos capazes de ampliar a articulação entre organizações e fortalecer as ações conjuntas. O debate sobre organicidade partiu de princípios fundamentais, como a horizontalidade, transparência, diversidade e inclusão. A avaliação feita pelas representações é que a possibilidade de um encontro presencial foi essencial para avançar com o fortalecimento institucional da Plataforma, a partir de discussões que antes vinham sendo feitas de forma remota.

Por fim, foi definida a nova composição do Grupo de Referência (GR), responsável por facilitar a articulação política e conduzir as estratégias e decisões construídas coletivamente, além de buscar alternativas para garantir a sustentabilidade da Plataforma. A escolha se deu de forma consensual, a partir da manifestação das organizações que se dispuseram a compor o GR – 19 organizações estarão nessa composição durante os próximos anos: Abong, Articulação de Mulheres Negras Brasileiras, Cáritas Nacional, CEDENPA, CENARAB, Central dos Movimentos Populares, Coletivo Amazônico LesBiTrans, Coletivo Arewá, CONIC, Conselho Nacional do Laicato do Brasil, Fórum da Amazônia Oriental, INESC, Intervozes, Instituto EcoVida, Instituto Soma Brasil, MCCE, Rede Afro LGBT, Rede Brasileira de Justiça Ambiental, Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos.

A escolha do novo GR levou em consideração a diversidade regional, racial e de gênero, além de reunir as diferentes lutas de cada organização. Um GR diverso também simboliza a própria pluralidade da Plataforma, que reúne movimentos feministas, antirracistas, indígenas, de juventudes, dentre outras.

Na avaliação geral do encontro, foi destacada a autonomia da Plataforma e o potencial das organizações de seguirem se articulando e construindo lutas coletivas em defesa de uma democracia que contemple a diversidade da população brasileira e descentralize os espaços de poder historicamente demarcados. O momento de luta também foi permeado por confraternizações, arte, conversas, encontros e reencontros que reforçaram os laços pessoais e as articulações institucionais. Após um ano tão desafiador, o encontro nacional da Plataforma possibilitou renovar as energias e acreditar em um novo ciclo político mais esperançoso.

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