No marco do bicentenário da independência do Brasil, Rede Jubileu Sul Brasil lança no Rio de Janeiro o livro “Brasil, 200 anos de (in)dependência e dívida. A publicação apresenta 13 artigos e reflete sobre as dívidas sociais acumuladas.

Foto: Karoline Kina/PACS

Por Karoline Kina | PACS

O livro “Brasil, 200 anos de (in)dependência e dívida: o endividamento marca nossa história e perpetua desigualdades sociais”, iniciativa da Rede Jubileu Sul Brasil  em parceria com a 6ª Semana Social Brasileira e Grito dos Excluídos e Excluídas, foi lançado em evento presencial no Rio de Janeiro na última sexta-feira (25), com apoio do PACS – Instituto políticas Alternativas para o Cone Sul. O encontro aconteceu no Armazém do Campo e contou com a participação de Sandra Quintela, organizadora da obra, além de Marcos Arruda e Virgínia Fontes, que compõem o grupo de autores do livro. O evento foi mediado pela  educadora popular e coordenadora do Instituto Pacs, Aline Lima. Mais de 50 pessoas prestigiaram presencialmente o lançamento.

Marcando o bicentenário da independência do Brasil, o livro aborda as dívidas sociais acumuladas e chama atenção para as reparações necessárias e urgentes. A ideia da crítica histórica e econômica está assinalada no próprio nome do livro que coloca o prefixo “in” entre parênteses — (in)dependência — indicando um processo incompleto, cheio de debilidades e incoerências em sua gênese.

O formato da publicação permite que os artigos possam ser usados como instrumento de formação em momentos coletivos como rodas de conversa, seminários ou encontros, além de também poderem ser lidos de forma espontânea, individualmente. Trata-se de um conteúdo valioso para movimentos populares, organizações sociais, educadores/as populares e estudantes.

“O espírito desse livro materializa o desejo de construir um outro processo de independência. Pouco se fala da desmilitarização do 7 de setembro, e um dos artigos que a publicação traz, escrito pelo Grito dos Excluídos e das Excluídas, fala justamente sobre isso. Nós comemoramos a nossa independência com desfiles militares, com esse aparato de repressão e violência do Estado. Então, o que nos inspira a escrever esse livro é a construção também, aos longo desses 27 anos, do próprio Grito”, contou Sandra Quintela.

Sandra Quintela, durante lançamento no Armazém do Campo, Rio de janeiro. Foto: Karoline Kina/PACS

O Grito dos Excluídos e Excluídas é um conjunto de manifestações populares que ocorrem no país, desde 1995, ao longo da Semana da Pátria, que culminam com o Dia da Independência do Brasil, em 7 de setembro. A proposta não só questiona os padrões de independência do  povo  brasileiro,  mas  ajuda  na  reflexão  para  um  Brasil  que  se quer  cada  vez  melhor  e  mais  justo  para  todos  os  cidadãos  e cidadãs. Assim, é um espaço aberto para denúncias sobre as mais variadas formas de exclusão.

Em 2022, o lema do Grito foi “Brasil: 200 anos de (in)dependência. Para quem?”. Para Sandra, o livro traz justamente o questionamento sobre essa estrutura fundante do Brasil, que está alicerçada no latifúndio, no trabalho escravo e na produção para exportação: “O livro traz elementos pra gente refletir: que país nós queremos? Que Brasil nós queremos? Que América Latina nós queremos?”, completou Sandra.

Para Virgínia Fontes, há enraizada na sociedade uma interpretação sobre a independência que deixa muito claro o por que é preciso lutar contra o capitalismo e contra todas as outras classes dominantes: “A independência brasileira foi em um momento em que se substituiu um colonizador estrangeiro por um colonizador nacional, e que assim que o mesmo assumiu as rédeas do poder, multiplicou a escravidão em proporções até então inimagináveis”, explicou. Outro ponto trazido pela professora foi a discussão do discurso desenvolvimentista pautado pela burguesia brasileira: “A construção de uma classe dominante brasileira é uma catástrofe. E eu trago isso para reafirmar: Não acreditem em desenvolvimentismos pilotados por essa burguesia”.

Cerca de 50 pessoas participaram do lançamento no Rio de Janeiro. Foto Karoline Kina/PACS

Assim como Virgínia, Marcos Arruda também levantou durante o encontro a discussão sobre a formação da humanidade e as consequências herdadas do chamado “desenvolvimento”: “No processo de industrialização da nossa sociedade, o eu coletivo virou o eu individual e ele foi se impondo às estruturas sociais, às relações de produção, e fomos aos poucos evoluindo para um lado com mais tecnologia, mais capacidade de transporte e etc. Produtos de metais que não eram convertidos em bens, de repente passaram a virar, entre outras coisas, armas, e assim, pouco a pouco, a humanidade evoluiu na tecnologia, mas não evoluiu no campo das relações humanas”, explicou. Para o economista e geógrafo, diante de todo o contexto abordado, é preciso buscar e construir alternativas que priorizem, acima de tudo, o Bem Viver.

Veja outros eventos de lançamento agendados

O livro impresso está sendo distribuído em diversas cidades do país. Como forma de contribuir para que este conteúdo alcance um número maior de pessoas, a Rede Jubileu Sul Brasil disponibilizou uma chave Pix e incentiva a contribuição solidária de R$ 20,00 por exemplar, além de doações a partir de R$ 50,00 ou outros valores para que as equipes possam distribuir o livro a quem não tem como fazer uma contribuição solidária. A primeira tiragem foi de 1.000 exemplares.

A publicação no formato digital também está disponível na biblioteca da Rede Jubileu e das organizações parceiras.

Chave PIX para doações solidárias:

PIX: 08.623.218/0001-04 (CNPJ)

Banco do Brasil

Titular: Instituto Rede Jubileu Sul Brasil

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