Participantes fizeram retrospectiva, avaliaram a trajetória, desafios e conquistas, e assistiram ao Ocupa Mulheres!, documentário que retrata a luta por direitos protagonizada por lideranças da “Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais”

Encontro de avaliação e continuidade da Ação Mulheres em Fortaleza.

Por Flaviana Serafim – Jubileu Sul Brasil

Memórias de luta, partilha de experiências e relatos emocionados marcaram a conclusão da Ação “Mulheres por reparação das dívidas sociais” em 2023. Os encontros de encerramento, realizados ao longo do mês de novembro, reuniram a equipe e as beneficiárias da ação em  Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP). A ação foi impulsionada pela Rede Jubileu Sul Brasil (JSB) numa parceria com a Semana Social Brasileira (SSB) e a Central de Movimentos Populares (CMP), além dos parceiros e aliados locais. 

Com fotos, vídeos e apresentações, as articuladoras e as demais participantes resgataram a caminhada trilhada desde 2021, avaliaram a trajetória, os desafios enfrentados, resultados alcançados e as expectativas futuras sobre continuidade da ação. 

Em Belo Horizonte, uma linha do tempo com fotos foi construída coletivamente pelas participantes dos encontros nas ocupações Vitória e Alto das Antenas. Nas duas comunidades, foi exibido o vídeo A necessidade não é só de comida, episódio gravado na capital mineira para a série de videocast “Ação Mulheres”, lançada em 2022.  

No Alto das Antenas, a reflexão trazida após a exibição foi sobre o preconceito com quem mora em favelas e comunidades. Na Ocupação Vitória, as mulheres refletiram sobre os direitos reprodutivos, sobre a falta de acesso à informação e a métodos anticoncepcionais. Algumas contaram suas lutas na ocupação e relataram experiências em relação à educação sexual dos filhos e filhas.

Mulheres reunidas na Ocupação Vitória, em Belo Horizonte. Foto: Karla Monteiro

Nos demais territórios foi exibido o média-metragem Ocupa Mulheres!, lançado pela Rede JSB no último dia 24 de novembro. O documentário destaca lideranças da luta por direitos, sobretudo à moradia digna, retratando a vida, os desafios, conquistas e sonhos de beneficiárias da Ação Mulheres (assista no final do texto).

Em Manaus, o lançamento do “Ocupa Mulheres” reuniu parceiros e comunidades numa feira de economia solidária realizada em parceria com a Cáritas. Além da confraternização, a conclusão de atividades de 2023 na capital amazonense teve oficina de formação sobre práticas de gestão para as mulheres dos grupos produtivos de geração de renda, nas comunidades Nova Vida, Coliseu 1 e 3, em Manaus (AM). 

Elas conheceram o passo a passo para elaborar um planejamento pessoal e o planejamento do grupo produtivo, com definição de metas, prazos, etapas e recursos necessários. Aprenderam sobre organização financeira, elaboração de plano de ação e cronograma, dialogaram sobre metas e sonhos pessoais. 

Oficina de práticas de gestão nos grupos produtivos da ocupação Coliseu 1, em Manaus.

Entre outros, os grupos de Manaus produzem artesanato indígena e não indígena, e itens de higiene e limpeza sustentáveis, como o sabão ecológico da ocupação Coliseu 1. As experiências, resultados e os impactos dos grupos produtivos nos territórios de todo o país são destaque na edição 2023 da Revista Ação Mulheres

Na região da Pequena África, na zona portuária do Rio de Janeiro, a conclusão de atividades e a apresentação do “Ocupa Mulheres” fez parte da programação do “Novembro Negro”, em alusão ao Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro, com feijoada, debates sobre ancestralidade e a roda de conversa “Quais lugares ocupamos na cidade? Um diálogo intergeracional”, na ocupação Quilombo da Gamboa.

Roda de conversa uniu diferentes gerações no Quilombo da Gamboa. Foto: Gorete Gama

Foi inaugurada a cozinha produtiva na Ocupação Vito Giannotti, no bairro Santo Cristo, resultado da luta das moradoras engajadas na Ação Mulheres. A cozinha solidária surgiu como alternativa de geração de renda e foi definida no plano de ação construído coletivamente pelas mulheres, aproveitando o potencial e a expertise que já tinham adquirido para fazer “quentinhas” em festas e eventos para outros coletivos e movimentos sociais.

“Os encontros destacaram o aprendizado, as trocas, protagonismo e o ativismo das mulheres dos territórios, um sentimento de fortalecimento”, afirma a articuladora na capital fluminense, Gorete Gama. 

Em São Paulo, a Rede JSB promoveu ações de formação com mulheres idosas do Grupo Geracional, numa parceria com a Pastoral Operária (PO). Na confraternização de encerramento, elas dialogaram sobre a relevância das atividades formativas voltadas às mulheres mais velhas. Também criticaram o fato de muitas vezes não serem consideradas como atuantes politicamente, e a visão de pessoas que acreditam que idosas deveriam estar dentro de casa vendo TV e cuidando dos familiares. Nesse sentido, ressaltaram seu papel como cidadãs atuando e cobrando que se faça justiça social. 

“Elas trouxeram a questão da negligência com as pessoas mais velhas, daí a importância de formações e políticas públicas”, avalia a articuladora Ana Paula Evangelista. 

Moradores das ocupações Dom Paulo e Jean Jacques Dessalines na exibição do ‘Ocupa Mulheres’. Foto: Ana Paula Evangelista

Na Casa de Assis, da Ação Social Franciscana (Sefras), além da avaliação do período, foi feita a leitura do cartaz-mural da dívida às mulheres migrantes no último encontro do ano. Nas ocupações Dom Paulo Evaristo Arns e Jean Jacques Dessalines, no centro da capital paulista, o encerramento teve roda de conversa, com retrospectiva e relatos das participantes da ação, e a exibição do “Ocupa Mulheres”.  

Em Porto Alegre, foi planejada uma reunião conjunta com moradoras da comunidade Conceição e da ocupação Vida Nova, com roda de conversa sobre dívida pública e uma retrospectiva do período. Contudo, a tempestade e alagamentos causados pela passagem de um ciclone extratropical impediram o encontro. Em vez da confraternização, foi realizado um almoço coletivo com distribuição de marmitas na comunidade Conceição, uma das fortemente atingidas pelas chuvas.  

Almoço solidário às vítimas do ciclone extratropical substituiu confraternização em Porto Alegre. Foto: Jamile Mallet

“Foi um momento de solidariedade e de ação emergencial. Uma das moradoras ofereceu sua casa para que as mulheres pudessem fazer e distribuir a comida entre as famílias. Com as arrecadações que fizemos pela Rede Emancipa, compramos cestas básicas para distribuição em várias comunidades, para além das contempladas pela Ação Mulheres”, explica Jamile Mallet, articuladora da ação em Porto Alegre.   

Trilhando o futuro 

Em Salvador, um dos marcos da conclusão das atividades foi a participação das mulheres dos grupos produtivos dos territórios de Águas Claras e Nova Brasília de Valéria na Feira de Arte e Cultura Beneficente, realizada no Centro Educacional Paulo VI, em Valéria, pelo coletivo artístico cultural Notas Coloridas.

Elas expuseram e comercializaram o artesanato que produzem, trocaram saberes e contatos, fortalecendo parcerias e vínculos entre as moradoras das diferentes comunidades. Os itens artesanais foram  produzidos com foco na geração de renda e economia solidária a partir do apoio da Ação Mulheres. 

O encontro de parceiros e representantes da Ação na capital baiana foi em 6 de dezembro, com a entrega do plano de resposta e diálogo sobre a continuidade das atividades. 

Mulheres dos grupos autogestionários de Salvador na Feira de Arte e Cultura Beneficente

Em Fortaleza, o encontro de avaliação e continuidade reuniu as participantes, a equipe executiva e parceiros em 18 de novembro, debatendo as perspectivas para que a ação prossiga com apoios locais. “As mulheres puderam traçar essa linha do tempo com a gente, falar do impacto da ação na vida delas e sobre a importância da continuidade. Elas trouxeram alternativas, como a participação em feiras”, afirma a articuladora Taciane Soares. Os próximos passos já foram dados, com participação em uma feira no dia 4 de dezembro, organizada por moradoras do bairro Planalto Pici e do coletivo Brilho da Lua. 

O Sisteminha de soberania e segurança alimentar, com foco na produção coletiva e partilha solidária, é uma das experiências destacadas. O protagonismo da sociedade civil para implantação do sistema de produção de alimentos foi apresentado internacionalmente pela Rede Jubileu Sul/Américas em 1º de dezembro, em sessão virtual do Fórum Político de Desenvolvimento. A importância do Sisteminha como proposta de política pública ainda foi pauta de audiência pública na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), no último dia 29 de novembro.

Ainda segundo Taciane, na ocupação Zona Vitória, em Croatá, na região metropolitana de Fortaleza, as mulheres “estão fazendo um movimento de participação com a prefeitura não só para o grupo produtivo, mas também para iniciativa de Regularização Fundiária Urbana – Reurb”.  

Os processos de regularização, que envolvem os territórios de atuação do Movimento de Conselhos Populares (MCP), parceiro local do Jubileu Sul Brasil na Ação Mulheres, vão ter seguimento contando com apoio jurídico do Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar. 

Assista o documentário “Ocupa Mulheres!”:

As iniciativas da Ação “Mulheres por reparação das dívidas sociais” contam com apoio do Ministério das Relações Exteriores Alemão, que garantiu ao Instituto de Relações Exteriores (IFA) recursos para implementação do Programa de Financiamentos Zivik (Zivik Funding Program). Também integram o processo de fortalecimento da Rede Jubileu Sul Brasil e das suas organizações membro, contando ainda com apoios da Cafod, DKA, e cofinanciamento da União Europeia.

O conteúdo desta publicação é de responsabilidade exclusiva da Rede Jubileu Sul Brasil. Não necessariamente representa o ponto de vista dos apoiadores, financiadores e co-financiadores.

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