Documento foi enviado ao prefeito Felipe Augusto (PSDB) e à Coordenação de Defesa Civil do município afetado pela tragédia-crime ocorrida em fevereiro último. Entre as reivindicações, a elaboração de um Plano de Redução de Riscos aos Desastres para as comunidades atingidas e que estão em vulnerabilidade climática.

Missão-denúncia na Vila do Sahy, entre as comunidades mais atingidas pela tragédia-crime em São Sebastião. Fotos: Flaviana Serafim

Por Redação – Jubileu Sul Brasil

As organizações e movimentos participantes da missão-denúncia que, de 24 a 26 de julho, apurou violações de direitos humanos sofridas pela população vítima da tragédia-crime ocorrida em fevereiro último, no Litoral Norte de São Paulo, encaminharam à Prefeitura de São Sebastião, um documento com pedidos de providência em caráter de urgência. Os pedidos foram enviados neste 8 de agosto ao prefeito Felipe Augusto (PSDB) e à Coordenação de Defesa Civil do município (confira o documento na íntegra no final do texto).

O documento traz ao todo 18 pedidos em caráter de urgência, entre os quais a elaboração, pela Prefeitura e Defesa Civil de São Sebastião, de um Plano de Redução de Riscos aos Desastres para as comunidades atingidas e que estão em vulnerabilidade climática, com a tomada de medidas concretas como obras de contenção de encostas, sistema de alerta contra chuvas e inundações, desassoreamento de rios, proteção das moradias em área de risco; garantia de acesso à água encanada de qualidade e reconstrução ou realização de obras de saneamento; estruturação da Defesa Civil da cidade, com aumento de quadro técnico e realização de concurso em diversas áreas, e instalação de Corpo de Bombeiros na Costa Sul do município.

Os pedidos em caráter de urgência reivindicam ainda um mutirão de atendimento pelo Centro de Referência em Assistência Social – CRAS em todas as comunidades atingidas para que os moradores tenham acesso efetivo a programas de renda mínima e benefícios sociais, com garantia da renda mínima pela Prefeitura de São Sebastião às famílias, além do pagamento de indenização pelos prejuízos sofridos com a tragédia; acompanhamento psicológico às pessoas interessadas por esse atendimento e construção, pela prefeitura e governo estadual, de moradia definitiva, gratuita, seguro e no território às famílias.

No documento, as organizações alertam para o fato de que, mesmo após seis meses da tragédia-crime que deixou mais de 60 vítimas fatais e centenas sem casa ou em moradias precárias, faltam uma série de medidas por parte sobretudo do poder público municipal. Um exemplo são os entulhos, lama, restos de casas e de veículos destruídos que se encontram espalhados por muitos locais das comunidades, prejudicando as condições de mobilidade.

Boiçucanga: na comunidade Tropicanga, entulhos e as pedras que deslizaram com as chuvas de fevereiro continuam nas ruas

Sem ter onde morar, muitas das famílias que estavam em pousadas ou abrigos provisórios, foram obrigadas a retornar a suas residências anteriores, e seguem enfrentando riscos de novos deslizamentos sempre que volta a chover no Litoral Norte paulista.

Outra questão é até o momento o futuro das famílias é incerto, pois, ao invés de providências para garantia de moradia gratuita, inclusive por indenização frente às perdas sofridas, a alternativa apresentada pela Prefeitura de São Paulo e pelo governo estadual paulista é que as vítimas se inscrevam em programa de habitação da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano.

As famílias ouvidas pela missão-denúncia rechaçam essa medida, ressaltando o sentimento de injustiça pelo fato de terem perdido tudo e ainda serem obrigadas a pagar um imóvel por cerca de 20 anos, após décadas de trabalho para construção de suas casas próprias.   

Luta contra a indiferença e o descaso do poder público

A Rede Jubileu Sul Brasil (JSB) está entre as organizações que participaram da missão-denúncia, realizada de 24 a 26 de julho, apurando as violações de direitos humanos causadas por conflitos fundiários, tragédias decorrentes das mudanças climáticas e da falta de políticas públicas para prevenção de desastres, de megaprojetos e ausência de infraestrutura como acesso à água e saneamento.

A missão-denúncia ocorreu não só no Litoral Norte paulista, mas também na Baixada Santista, numa iniciativa da Campanha Despejo Zero e do Fórum Nacional de Reforma Urbana. A missão visitou e dialogou com a população do Morro do Itararé (São Vicente); dos bairros São Manoel, da comunidade Alemoa e da Ocupação Bela Vista (Santos); da Vila dos Pescadores (Cubatão); do Sítio Conceiçãozinha (Guarujá); dos morros do Esquimó e Pantanal, da Vila Sahy e Baleia Verde, das comunidades Beira Rio e Tropicanga (São Sebastião) e do conjunto Quaresmeira (Bertioga).

Além das visitas às comunidades nos dias 24 e 25 de julho, em 26 de julho foi realizado diálogo dos moradores com o Ministério Público e a Defensoria Pública, na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SP) Subseção São Sebastião, e uma audiência pública popular no auditório do Campus Baixada Santista da Unifesp, em Santos. 

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