Foi pela decima sétima vez que se realizou o anual Encontro dos animadores/articuladores do  Grito dos Excluídos, Excluídas. Com a presença de (10) dez Estados dos (27) vinte e sete, este momento é diferentemente de tantos outros, expressão da construção coletiva que, parte desde o lema, a cada ano  construído e trabalhado por varias entidades eclesiais e movimentos, organismos da sociedade que, vinte e um anos atrás provocaram a Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB para que a celebração do dia da Pátria tivesse outro olhar, o olhar profético que superasse as conjecturas e interesses de parte, o militarismo e olhasse de verdade para o brasileiro, a brasileira e as suas reais necessidades.

Este ano a conjuntura e a própria Campanha da Fraternidade nos convidam como Igreja a olhar para nossa sociedade, seus desafios e a nos colocar em atitude profética de serviço. Foi partindo da visão profética de Dom Helder Câmara, e dos princípios por ele dados  unir os generosos e as generosas, desmentir a mídia, direitos básicos, função do Estado, participação politica, a rua é o lugar e acrescentamos um sétimo eixo as diferentes formas de violência, assim nasceu o lema do grito que faz muito anos tem como tema: “Vida em Primeiro Lugar”.

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Começamos  perguntando-nos: Que País é este? E as respostas vem do dia a dia, das periferias onde sobrevivem as famílias pobres, das juventudes que sofrem as retaliações e as exclusões de uma sociedade elitista e seletiva, dos negros e periféricos vitimas das drogas e do sistema, encarcerados e esquecidos nos porões e pocilgas humanas do perverso sistema carcerário, dos operários a quem aos poucos e sutilmente são retirados seus direitos, dos idosos mendigando o direito a viver com dignidade os últimos dias de sua vida.

Este País que mata gente, onde a corrupção, a violência, as falsas seguranças, o militarismo, o individualismo, o egoísmo, o personalismo, a punição, a vingança, o mais forte, xenofobia, racismo, tomaram o lugar dos grandes valores da vida: solidariedade, honestidade, transparência, coletividade, bem comum, colaboração, respeito e valorização dos diferentes, transformando o projeto de vida e de futuro num projeto de morte, numa cultura que acusa, pune e transforma o ser humano em mercadoria.

E em tudo isso a mídia mente, colocada ao serviço do capital, do marketing, refém e propriedade particular de famílias patriarcais, embora sendo concessão pública, ela se torna o veiculo da alienação, da desinformação, de massificação. Ela cria e constrói nas pessoas um universo irreal, fantasioso, inconsistente onde o outro, o diferente, quem pensa diversamente, quem exerce sua cidadania, seu direito, é criminalizado, condenado, espezinhado. Hoje em dia ela é que governa, determina e dita os padrões de vida, é justiceira, hipócrita, moralista e assassina.

Por isso nos consome, faz-nos escravos do consumismo, obriga-nos a ter um único pensamento, o único olhar, um único jeito de ser, e por isso não admite as diferenças, não aceita um País pluriétnico e pluricultural, onde as diversidades são riqueza, as tradições culturais constituem um mosaico único e precioso para a humanidade, os povos nativos, seus conhecimentos, visão da vida como bem viver, como regra e orientação de vida.

Eis porque mais uma vez o Grito, chegado à maior idade não se pode calar, mesmo não sendo o evento das grandes massas é, porém a fala de quem não se deixou engolir pelo desespero do mundo, pelos ventos de morte e destruição que usando as asas da mídia nos querem roubar a esperança, querem tirar de nós o profetismo que a cada ano que passa se torna mais forte e necessário e que este ano mais uma vez gritará: “Vida em primeiro lugar “,   para depois colocar a questão: “Que País é este, que mata gente, que a mídia mente e nos consome?”

A resposta todos nós a sabemos, agora é necessário unir os generosos e as generosas, defender os direitos básicos, desmentir a mídia chamando o Estado para as suas responsabilidades com a politica das reformas e fazendo da rua o palco, o caminho de uma nova nação, de um novo país, de um novo Brasil.

Pe. Gianfranco Graziola

Vice – Coordenador Nacional da Pastoral Carcerária

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