Participantes reunidos no Centro Cultural de Brasília. Foto: Amigos da Terra Brasil

Encontro reuniu movimentos populares e organizações em Brasília. “A integração a partir dos povos é o caminho para a construção de um projeto democrático de soberania que responda à diversidade de histórias, culturas, línguas e tradições de luta que fazem de nós a Pátria Grande”, pontua a Declaração da Jornada Continental pela integração e cooperação a partir dos e entre os povos

Por Flaviana Serafim – Jubileu Sul Brasil

Movimentos populares, centrais sindicais, organizações e militantes de diferentes segmentos sociais participaram da reunião da coordenação da Jornada Continental de Defesa da Democracia e Contra o Neoliberalismo, realizada nos dias 29 e 30 de maio, no Centro Cultural de Brasília. Membro da Jornada, a Rede Jubileu Sul/Américas participou do encontro representada pelo articulador do Cone Sul, Francisco Vladimir, e ainda Alessandra Miranda, secretária executiva da 6ª Semana Social Brasileira e assessora nacional da Ação “Mulheres por reparação das dívidas sociais”, da Rede Jubileu Sul Brasil (JSB). 

O momento foi de atualização e análise sobre o contexto e os cenários de integração regional, e de diálogo sobre a mobilização continental, questões que também pautaram a carta divulgada ao final do encontro, além da reunião da cúpula regional com presidentes da América Latina, realizada por Lula neste 30 de maio, na capital federal.  

Para o articulador Francisco Vladimir, o encontro foi relevante pelas temáticas abordadas e porque “ Brasil, outros países da América Latina e Caribe passam por ofensivas de governo autoritários e, nesse sentido, a Jornada Continental faz com esses movimentos latinoamericanos e caribenhos tenham ações de resistência a esse autoritarismo”, afirma. 

“O processo democrático é um processo que exige planejamento e atuação estratégica à médio e longo prazo, que dialoga prioritariamente com a integração dos povos, sobretudo na soberania energética, defesa da Amazônia, crise climática, dentre outras. Sejam nos aspectos de reconhecer e valorizar as potencialidades e resistências populares, como para incidir e barrar políticas que perpassam por uma economia que financia a natureza e viola a soberania dos povos, ou na sobrevivência cotidiana de acesso à alimentação saudável, os desafios e violações estão dados”, diz Alessandra Miranda. 

Ela avalia que “o contexto dos países está interligado nos componentes que refletem um avanço da extrema direita, não só no continente, mas em todo o mundo. As ‘vitórias’ progressistas nas eleições, como no Brasil, na Colômbia e no Chile, não resolvem por si às dívidas sociais no continente, mas estão imersas em estruturas de governo e de parlamento em que muitas vezes fica  inviável atuar na transformação dessas estruturas”. 

Ainda segundo a secretária executiva da SSB, além do enfrentamento às questões urgentes, como a fome, saúde, infraestrutura, não é possível uma integração em defesa da democracia que desconsidere os fatores econômicos “e como os mesmos definem o destino, por muitas vezes dramático do continente, sobretudo para os empobrecidos. Importante dizer que acumular forças institucionais para a integração não é o suficiente se não conquistarmos as forças populares, altamente fragilizadas em nosso continente”, completa. 

Nesse sentido, na reunião da Jornada Continental foram definidas estratégias de posicionamento e interlocução que considerem as realidades dos países e com atenção às manobras de imperialistas, como os Estados Unidos e a China. 

Ao final do encontro, foi divulgado a Declaração da Jornada Continental pela integração e cooperação a partir dos e entre os povos, que entre outros pontos destaca que “na tradição solidária de unidade e luta de nossos povos, o internacionalismo e a ação além das fronteiras de nossos países sempre foram uma constante. A integração a partir dos povos é o caminho para a construção de um projeto democrático de soberania que responda à diversidade de histórias, culturas, línguas e tradições de luta que fazem de nós a Pátria Grande” (íntegra no final do texto).  

O documento também ressalta a importância de que essa visão seja fortalecida “neste tempo complexo para a região e o mundo. Atender às necessidades urgentes de nossos povos e avançar na defesa dos bens comuns para enfrentar crises como a das mudanças climáticas exige o fortalecimento das relações de complementaridade e solidariedade entre nossos países”. 

Seminário público

Seminário Público realizado em Brasília. Foto: Comunicação ATALC

Numa parceria entre a Jornada Continental, a Amigos da Terra Brasil e Amigos da Terra  América Latina e Caribe (ATALC), foi realizado em Brasília, nos dias 30 e 31 de maio, o seminário  “Fortalecendo a democracia com poder popular e contra o neoliberalismo na América Latina e Caribe”, 

No evento foram debatidos integração dos povos, a conjuntura política na América Latina e Caribe na perspectiva da justiça ambiental e do feminismo popular, as normas vinculantes para enfrentar as empresas transnacionais e ainda o enfrentamento ao acordo comercial União Europeia Mercosul. 

Francisco Vladimir participou do seminário representando também a Frente Brasileira Contra os Acordos Mercosul-UE e Mercosul-EFTA. A Rede JSB integra a equipe de animação da Frente, com o intuito de fazer uma articulação nacional e levar à população  toda a problemática que o acordo representa, promovendo debates em seus territórios de ação sobre os impactos sociais, econômicos e ambientais caso o tratado seja ratificado no Brasil. 

“São momentos de formação para que haja o entendimento de que esse acordo é perverso e vai continuar fazendo com que os territórios continuem sendo explorados de modo a beneficiar e aumentar os lucros de quem mais tem com a exploração de recursos naturais, com mão de obra barata das trabalhadoras e trabalhadores, e fazendo com todo o meio ambiente seja afetado por um acordo que visa beneficiar somente um lado”, afirma o articulador. 

Francisco Vladimir (ao microfone) nos debates sobre os Acordos Mercosul-UE e Mercosul-EFTA. Foto: Comunicação ATALC

Vladimir afirma ainda que a Rede JSB e suas organizações membro. “Em março último, a coordenação do Jubileu Sul Brasil fez visitas aos ministérios dos Povos Indígenas e da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, e seguimos pressionando o governo brasileiro para que o acordo não seja firmado”, conclui. 

Confira a “Declaração da Jornada Continental pela integração e cooperação a partir dos e entre os povos”