Cumprimento às e aos representantes do cozinha coletiva na entrega do Diploma Paul Singer de Economia Popular. Foto: Gorete Gama

Premiação foi concedida pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Cozinha comunitária contou com apoio da Ação “Mulheres por reparação das dívidas sociais”

A cozinha coletiva do projeto de habitação popular Quilombo da Gamboa, na região portuária da capital fluminense, recebeu neste 19 de março o Diploma Paul Singer de Economia Popular Solidária. Promovida pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), a premiação foi entregue em sessão solene da Frente Parlamentar em Defesa da Economia Solidária, Agroecologia e Produção Orgânica, presidida pelo deputado estadual Flavio Serafini (PSOL).

A premiação reconhece pessoas físicas, jurídicas e empreendimentos que contribuem no desenvolvimento da economia popular solidário no estado, e foi entregue às pessoas representantes da cozinha coletiva pela deputada estadual Marina do MST (PT).

A cozinha comunitária do Quilombo da Gamboa surgiu em 2018 e se destacou em 2019, em meio à crise na pandemia de Covid. Desde então, já distribuiu mais de 5.000 refeições à população vulnerável que vive nas ruas, às famílias do próprio Quilombo e de ocupações próximas, entre as quais a Morar Feliz e Habib’s, numa área da região portuária também conhecida como Pequena África, no Rio de Janeiro (RJ)

A iniciativa foi um dos grupos produtivos de geração de renda contemplados em 2023 pela Ação “Mulheres por reparação das dívidas sociais”, realizada pela Rede Jubileu Sul Brasil em parceria com a 6ª Semana Social Brasileira (SSB) e a Central de Movimentos Populares (CMP), em territórios de Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA) e São Paulo (SP).

Liderança comunitária e moradora do Quilombo da Gamboa, Gorete Gama foi articuladora da Ação Mulheres na capital fluminense. “A diplomação da cozinha coletiva só vem confirmar que é através da luta coletiva, do estar juntas e juntos, que nós da classe trabalhadora podemos alcançar uma sociedade justa e igualitária. É somente a coletividade, a unidade popular, que pode mudar o status quo desse modelo de desenvolvimento excludente que vivemos hoje no Brasil”, afirma.

Ela destaca que, junto com o combate à fome, a cozinha coletiva vem garantido trabalho e renda, sobretudo às mulheres das ocupações, com o atendimento de pedidos para os movimentos populares, para festas e eventos em geral. No Quilombo da Gamboa, a frente de produção das refeições tem 11 pessoas ao todo, sendo nove mulheres e dois homens.

Sessão solene para diplomação na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Foto: Thiago Lontra/Alerj

Espaço político, pedagógico e de ancestralidade

A economia solidária é movida, entre outros, por princípios colaborativos, solidariedade, autogestão e relações mais justas economicamente, socialmente e ambientalmente. Nesse sentido, Gorete ressalta outros aspectos relevantes da iniciativa:

“A cozinha comunitária do Quilombo da Gamboa é resultado da luta de muitos sujeitos e sujeitas, que contribuíram e contribuem para a construção desse espaço político e também é um instrumento pedagógico. Proporciona, através das trocas, da conversa, do diálogo, no próprio fazer da refeição, essa formação humana entre as pessoas, que trocam experiências, falam de suas vidas, dos seus desejos, buscam e conseguem identificar alternativas para a solução de muitos problemas”, pontua.

A liderança avalia que todos os espaços do Quilombo da Gamboa, como a ocupação, a cozinha coletiva e a horta comunitária, “proporcionam o viver para essas mulheres, o refletir sobre sua vida. Porque é nesses espaços que elas encontram afeto e carinho, podem falar de si, de suas dores, desejos, que podem se cuidar através das rodas de conversa e de autocuidado”.

Ainda segundo Gorete, além da troca afetiva, a cozinha do Quilombo da Gamboa se configura num espaço “de conhecimento, de afirmação da ancestralidade porque é isso que a gente faz também. A gente afirma e reafirma nossa ancestralidade.  A cozinha coletiva hoje recebendo essa diplomação só vem reafirmar o quanto estamos caminhando, lutando e indo no caminho certo. E na coletividade, através do afeto, é que conseguimos de fato alcançar um outro modelo de sociabilidade, o bem viver que tanto nós queremos”, conclui.

Além do apoio por meio dos grupos produtivos da Ação Mulheres, a cozinha comunitária contou com parcerias, entre as quais da Gastromotiva, do Sopão do Bem, da ONG Teto no Rio de Janeiro e da Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE).

Confira no vídeo o momento da entrega do diploma Paul Singer de Economia Popular à cozinha coletiva do Quilombo da Gamboa:

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