Sessão solene de iniciativa da Mandata Nossa Cara reconheceu atuação da Rede e suas entidades membro para a organização popular e luta por direitos em territórios vulneráveis da capital cearense

Representantes da Rede Jubileu Sul Brasil e das entidades membro com a vereadora Adriana Gerônimo (ao centro). Foto: Câmara Municipal de Fortaleza

Por Flaviana Serafim – Jubileu Sul Brasil

A Câmara Municipal de Fortaleza (CE) prestou homenagem aos 25 anos da Rede Jubileu Sul Brasil, com homenagem realizada neste 1º de abril em sessão solene de iniciativa das covereadoras Adriana Gerônimo, Louise Anne de Santana e Lila M. Salu, da Mandata Nossa Cara (PSOL).

Durante a sessão, presidida pela vereadora Adriana Gerônimo, também foram homenageadas as entidades membro da Rede: o Grito dos Excluídos e Excluídas, que completa 30 anos neste 2024, e ainda a Ação Social Franciscana (Sefras), a Cáritas, o Esplar Centro de Assessoria e Pesquisa, o Instituto PACS, o Movimento de Conselhos Populares (MCP), a Rede Emancipa, a Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Reprodutivos, e o Serviço Pastoral do Migrante (SPM).

O Jubileu Sul Brasil é uma rede ampla e plural, que atua no combate às desigualdades causadas pelo sistema de endividamento, em defesa dos direitos humanos e sociais. Na sessão solene, a Adriana Gerônimo ressaltou a relevância da Rede nos territórios da capital: 

“É um momento de celebrar a existência e toda a potência de vida que a Rede tem provocado em Fortaleza, mudanças e transformações sociais que são essenciais para a nossa cidade, principalmente nesses territórios muitas vezes conhecidos de maneira pejorativa, com o estigma de que a periferia é dominada pela violência”, pontua. 

Abertura da sessão solene. Foto: Flaviana Serafim/Jubileu Sul Brasil

“Quando o Jubileu Sul e tantos organismos vivos que compõem a Rede mostram o outro lado da realidade, colaboram com a produção da vida, pelo fim e combate aos estigmas que vulnerabilizam tanto nossos territórios”, destacou a parlamentar.

Na capital cearense, o Jubileu Sul Brasil impulsionou projetos como os Sisteminhas de segurança e soberania alimentar – baseado na construção coletiva e partilha solidária de hortas comunitárias,, tanques de peixes e galinheiros – e a Ação “Mulheres por reparação das dívidas sociais”, centrada no protagonismo feminino na luta por direitos, como a moradia digna e o acesso à cidade. 

“Durante a pandemia, mas não só, os Sisteminhas salvaram muita gente. Garantiram comida  na mesa, solidariedade, convívio social e desenvolvimento socioeconômico nos territórios da nossa cidade”, completa a parlamentar. 

Resistência na caminhada

Da tribuna, o articulador da Rede, Francisco Vladimir, agradeceu à Mandata Nossa Cara pelo reconhecimento:

“Não é mérito da Rede, mas das organizações e movimentos populares, que é o fazer de uma forma popular e engajada, onde se possa dialogar nos territórios de atuação. Também é uma rede latino-americana e caribenha, um universo de onde conseguimos traduzir para nosso cotidiano realidades que são muito cruéis, mas onde vamos nos reinventando porque somos um povo em caminhada e resistência”. 

O articulador Francisco Vladimir na tribuna do Legislativo municipal. Foto: Flaviana Serafim/Jubileu Sul Brasil

60 anos do golpe civil-militar

A economista e educadora popular Sandra Quintela, da coordenação da Rede, destacou que o 1º de abril também marca os 60 anos do golpe civil-empresarial-militar de 1964. 

“É um dia de alegria pela homenagem, mas também de memória de uma data em que o Brasil entrou numa noite que vai durar 21 anos de muita perseguição, tortura, mortes. Essa ditadura de 60 anos atrás teve a agenda econômica como central num golpe que abriu o Brasil para os interesses estrangeiros das grandes transnacionais. Os bancos e o mecanismo da dívida foram centrais para se construir o ‘milagre brasileiro”, recordou a educadora popular. 

Fazendo um paralelo com os dias atuais, ela chamou atenção para os níveis de pobreza e de desigualdades que persistem, ao mesmo tempo em que aumenta a concentração de riqueza nas mãos de bilionários. 

Mutirão de construção política

O professor Igor Moreira falou da parceria da Rede com o Movimento de Conselhos Populares e do papel do Jubileu Sul Brasil para formação política e organização popular, a exemplo do Plebiscito Popular da Dívida Externa, nos anos 2000, que engajou mais de 5 milhões de pessoas em todo o país.

A primeira homenagem aos 25 anos da Rede ocorreu em 21 de março, no encontro encerramento da 6ª Semana Social Brasileira (SSB), em Brasília. As atividades celebrativas dos 25 anos prosseguem ao longo de 2024.

Homenagem da Câmara de Fortaleza aos 25 anos do Jubileu Sul Brasil

Sessão solene no canal da TV Câmara Fortaleza:

Sobre a Rede Jubileu Sul Brasil

Formada por uma rede que envolve 27 organizações, o Jubileu Sul Brasil surgiu em 1999, como resultado dos debates e dos movimentos de resistência à dívida externa que cresceram durante a década de 1980. A articulação da Rede começou em 1998, no ensejo das campanhas do Jubileu 2000, a partir da discussão lançada pelo Papa João Paulo II pelo perdão da dívida de países pobres altamente endividados, e da 3ª Semana Social Brasileira que teve como mote as dívidas sociais.

Nestes 25 anos, a Rede tem como pauta central a luta contra o sistema de endividamento, mecanismo de reprodução do capitalismo no qual o Estado transfere dinheiro público para pagar dívidas, contraídas em empréstimos de bancos privados e instituições financeiras internacionais, tais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Isso retira recursos de políticas públicas, como saúde e educação, para atender aos “ajustes” exigidos pelos credores da dívida. 

Os juros e condições perpetuam os pagamentos da dívida pública, mantendo os países num ciclo de novos empréstimos para pagar dívidas anteriores infindáveis, o que aprofunda desigualdades e interfere na soberania, sobretudo nos países do Sul global. Por isso, a Rede JSB também atua reivindicando reparação às dívidas financeira, social, socioecológica, de gênero, racial e histórica devida aos povos e territórios. 

Ao longo dessa trajetória, diferentes bandeiras surgiram e a Rede se somou aos embates, sempre para construir resistências e alternativas ao modelo de dominação capitalista, patriarcal, sexista, racista, classista e extrativista.Saiba mais na história e no Quem somos do Jubileu Sul Brasil.

Deixe um comentário