Encontro presencial em São Paulo foi momento de avaliação de resultados do ano passado e de definir prioridades para 2025
Por Bela Fausferr e Flaviana Serafim

A coordenação nacional da Rede Jubileu Sul Brasil (JSB) realizou encontro presencial entre os dias 20 e 22 de março, na Zona Oeste da capital paulista, para avaliação das ações realizadas em 2024, definição de prioridades e de atividades para o planejamento de 2025. Participaram representantes de dezenas de entidades membros vindos do Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo.
Na análise de conjuntura que abriu o 1º dia do encontro nacional, a filósofa e historiadora Virgínia Fontes trouxe uma série de reflexões sobre os embates frente aos impactos do capitalismo na vida, sobretudo no cenário de colapso ambiental. “A luta de classes é a unidade na diversidade”, diz Fontes, afirmando que não há respostas prontas nesse enfrentamento, mas que as relações sociais concretas são relevantes “porque a saída é coletiva”.
A análise também contou com a participação do jornalista Antonio Martins, editor do portal Outras Palavras, que entre outras questões criticou o sistema da dívida pública e a política de taxa de juros que “captura riqueza coletiva” para transferir às mãos de especuladores e rentistas.
“Há 40 anos, com raros períodos de exceção, o Brasil tem as taxas de juros mais altas do mundo”, pontuou, num sistema que há décadas destina recursos para pagar dívida pública e que deixam de ser investidos em políticas públicas e sociais para a população. “É preciso apontar a dívida que a elite brasileira deve ao conjunto da população. Há uma dimensão de infraestrutura que é impactada pela dívida”, a exemplo da falta de recursos para saúde e educação, destacou.

Jubileu 2025: esperança em tempos de desesperança
Na sequência, a pauta foi o Jubileu 2025, que traz “Peregrinos da Esperança” como tema. Alessandra Miranda, assessora da Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Cepast-CNBB), participou virtualmente. Ela explicou o conceito do ano Jubilar, recordou o nascimento da Rede Jubileu Sul Brasil há 25 anos, no contexto do Jubileu 2000 (leia mais em Trajetória do Jubileu Sul Brasil e o Jubileu da Esperança)
“Passados 25 anos, temos outro Jubileu, a convite do Papa Francisco, que resgata a questão da dívida, dos mais ricos. Ele resgata elementos como a questão do armamento, das guerras. Fala dos peregrinos da esperança, que é uma porta onde se passa em Roma, na Basílica de São Pedro, num ritual de esperança, de perdão, mas o Papa aponta que muitas vezes é algo trabalhado numa forma individualista. O Jubileu não pode se reduzir só a isso. Como pensar em esperança em tempos de desesperança? Pensar sobre o bem que deixamos de fazer e que prejudica e mata?”, questionou Alessandra.
Nesse sentido, a proposta é fazer uma revisão sobre a ilegitimidade das dívidas que assolam os povos, construindo ações a partir do Jubileu Sul Brasil e parceiros para fazer denúncias, motivar e mobilizar, pensar em reparações no ano jubilar. “É um convite para que sejamos peregrinos de esperança mesmo em caminhos de desesperança”, completa.

Resultados de 2024, caminhos para 2025
No segundo dia da reunião, o momento foi de avaliar os resultados, avanços e desafios enfrentados em 2024 nos principais eixos de atuação da Rede JSB – dívidas (socioecológica, cultural, histórica e financeira), desigualdade e soberania; mulheres, direitos e territórios; comunicação popular; articulação e mobilização social; fortalecimento da rede.
Os trabalhos foram conduzidos com mediação de Aline Lima, do Instituto Pacs. Entre os destaques do ano passado, o Seminário “Transição ou transação energética?”, realizado em Fortaleza (CE); as atividades e materiais comemorativos dos 25 anos do JSB; o conjunto de iniciativas realizadas no âmbito da Ação “Mulheres por reparação das dívidas sociais”, em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Manaus, Porto Alegre e Belo Horizonte.
Outro destaque foi a Cúpula dos Povos Frente ao G20, no Rio de Janeiro (RJ), uma atividade alternativa, autônoma e paralela à cúpula dos países entre as 20 maiores economias globais (G20), resultado de uma construção coletiva que engajou centenas de organizações e movimentos populares do Brasil e do exterior.
A partir da avaliação de resultados do ano passado, foram feitas propostas de ação e encaminhamentos para 2025. Na área de formação, estão previstos curso de política internacional para movimentos sociais, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e de comunicação popular, dívida e direitos humanos para jornalistas e comunicadores/as, além de cadernos temáticos voltados às mulheres atendidas nos territórios da Rede JSB e a realização de uma campanha sobre os impactos da dívida pública.
Entre as articulações prioritárias está o Grito dos Excluídos/as, que chega à 31ª edição neste 2025 com o tema voltado ao cuidado com a Casa Comum e a democracia, e também o engajamento nos debates do Fórum Civil Popular da Cúpula dos BRICS, que ocorre em julho próximo, e da 30ª Conferência do Clima (COP 30), em novembro.
No sábado (22), os trabalhos do terceiro dia, conduzidos pelo articulador Francisco Vladimir e pela secretária executiva Rosilene Wansetto, começaram com informes das entidades membros, das atividades previstas e em andamento junto à Rede Jubileu Sul/Américas (JSA), como o encontro da tríplice fronteira (Argentina, Brasil, Paraguai) que ocorre em abril, na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).
O terceiro e último dia do encontro foi ainda momento de revisitar o Planejamento Estratégico 2022-2025, de indicar o processo para elaboração do plano para os próximos cinco anos (2026-2031) e de debate sobre caminhos para fortalecer e ampliar a Rede JSB. Ao final, foi feita a apresentação das contas do ano passado e da mobilização de recursos para responder ao plano de ação definido para 2025.