Para não esquecer, o Partido Campo do Povo (Pati Kan Pèp) lembra a todos que há 99 anos, em 28 de julho de 1915, militares norteamericanos desembarcaram e ocuparam o Haiti. Acreditamos ser importante para todos os patriotas haitianos não esquecer essa data fatídica.

Não podemos esquecer todos os atos de humilhação, os crimes cometidos, os roubos e destruição perpetrados pelos ocupantes norteamericanos no país durante 19 anos, assim como também toda a pilhagem e repressão realizadas com a cumplicidade dos “konze” (traidores), que colaboraram com os ocupantes.

Podemos dizer que a terceira ocupação, iniciada em 2004, é a prolongação da primeira e da segunda ocupação anteriores. Em 1934 os militares norteamericanos se foram, mas deixaram várias estruturas para controlar todos os espaços estratégicos do sistema político, assim como também funcionários para defender os interesses imperialistas.

Desgraçadamente, constatamos uma vez mais que os “konze” estão sempre presentes para colaborar com os ocupantes. Foram os “konze” que pediram, pela terceira vez, outra ocupação; foram os mesmos que assinaram o acordo de junho de 2004 com a ONU para a imposição da MINUSTAH no país, e que aceitaram a cada ano a prorrogação do mandato da MINUSTAH permitindo assim que, dez anos depois, dita força ainda se encontre no país.

Além do mais, ouvimos como o presidente Martelly orgulhosamente diz que “não pode haver golpe de estado contra mim porque a MINUSTAH está presente”. Portanto, as forças de ocupação, representam um orgulho para esses “konze”. A ONU é simplesmente um instrumento em mãos do imperialismo internacional, particularmente o governo norteamericano. Assim, essas forças de ocupação têm o mesmo objetivo, a mesma missão e o mesmo papel.
Tomemos alguns exemplos:

· Em nível econômico: os ocupantes de 1915 roubaram em dezembro de 1914 a reserva de ouro que possuía o Estado Haitiano no Banco Central. Se apropriaram de milhares de hectares de terra, permitindo que uma série de grandes empresas multinacionais se estabelecessem no país para desenvolver negócios agroindustriais para satisfazer o mercado mundial. Estas empresas produzem muitos bens e riquezas que são enviados ao exterior. Hoje, têm a MINUSTAH para lhes assegurar a pilhagem do que nos restou de ouro e reserva de minerais que se encontram em nosso subsolo.

· O Governo de Martelly/Lamothe e seus similares estrangeiros, expropriam os camponeses para instalar zonas francas e espaços para o turismo. É durante o período de ocupação que o Haiti cumpre o papel de fornecedor da mão de obra mais barata de toda a região do Caribe para as indústrias capitalistas. É a ocupação a responsável pelo drama que sofrem nossos irmãos e nossas irmãs na República Dominicana. Este papel de fornecedor de mão de obra barata segue até hoje nas zonas francas desde onde se exportam roupas e são pagos salários de fome.

· Em nível político: os ocupantes de 1915 assassinaram milhares de camponeses que resistiram através da luta armada liderada pelo exército dos Cacos, dirigidos por Carlemagne Péralte e Benoit Betraville. Milhares de pequenos camponeses foram massacrados em Marchaterre, na entrada da cidade de Cayes. E isso porque os pequenos camponeses estavam resistindo contra os tributos impostos pelos ocupantes sobre o “clairin” (rum haitiano). Os ocupantes elaboraram sua própria constituição para o país. E as atuais forças de ocupação – a MINUSTAH – cometeram assassinatos em bairros populares, repressão a manifestantes, repressão no interior das universidades e abusos sexuais.

· Em nível ideológico: os ocupantes de 1915 se aliaram a uma parte das classes dominantes onde reforçaram as práticas racistas. A população perdeu confiança em si mesma, em sua identidade, em sua cultura. Deflagrou-se uma guerra contra a cultura popular e hoje isso está reforçado mediante práticas dos setores evangélicos. As propagandas contra a cultura do país estão ganhando terreno. Atualmente a MINUSTAH tem a sua própria estação de rádio para enganar o povo.

· Em nível social: os ocupantes de 1915 reestabeleceram uma espécie de escravidão (denominada “corvée”) ao impor trabalhos não remunerados a pequenos camponeses. Escreveram sua própria constituição e suas próprias regras para dirigir o país. Agora, desde a imposição da MINUSTAH ao país, os aluguéis são pagos em dólares norteamericanos. Mediante uma série de mini projetos, a MINUSTAH controla a distintas organizações em todo o país. O mais grave é o genocídio perpetrado pela MINUSTAH contra o povo haitiano através da epidemia de cólera introduzida pelos soldados do Nepal em outubro de 2010, que já matou mais de 9 mil pessoas e faz com que aproximadamente outras 704 mil pessoas vivam com o vírus em seu sangue.

O Partido Campo do Povo denunciou a última visita de Ban Ki Moon ao Haiti, uma vez que este veio cuspir nos cadáveres das vítimas da cólera MINUSTAH. O país sofreu outra humilhação durante a visita do Secretário Geral das Nações Unidas quando os dirigentes do país consagraram a impunidade manifestada por Ban Ki Moon diante deste crime sem precedentes contra o povo haitiano.

O Partido Campo do Povo pede a todas as forças progressistas, a todas as forças patrióticas que participem em uma luta sem trégua para expulsar a MINUSTAH e estabelecer um processo de recuperação de nossa soberania e nossa dignidade. Acreditamos que devemos formar uma comissão nacional para trabalhar desde agora por ocasião do centenário da ocupação de 28 de julho de 2015. 99 anos depois dizemos basta e a ocupação há de chegar ao fim.
Assim sendo, seja a ocupação militar norteamericana de 1915-1934, ou a ocupação das Nações Unidas de 2004-2014, trata-se de uma humilhação, de um ato racista, de um ato criminoso contra o povo haitiano. Neste sentido, o Partido Campo do Povo pede a todos, às agrupações políticas, às instituições e organizações consequentes através do país, que se levantem contra a ocupação, para recuperar a nossa soberania.
Abaixo a ocupação, viva um Haiti soberano!

Marc Arthur Fils-Aime
Secretario Geral
Pati Kan Pèp (Partido Campo do Povo)

Porto Príncipe, 28/7/2014

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Tradução para o português de autoria de Jubileu Sul Brasil a partir da versão em espanhol de H. Boisrolín. A versão original em idioma creol haitiano pode ser encontrada em: “Ayiti, 99 lane aprè, fòs okipasyon an toujou la. Ayisyen patriyòt an n ranmase fòs
nou pou n reprann dwa granmoun peyi a” http://papda.org/article.php3?id_article=1229

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