O problema não está no crescimento de 0,9% do PIB, em 2012. Nem no fato de que a média de avanço do PIB no governo Dilma está 1,8%, abaixo da média de 4% dos oito anos de Lula e dos 2,3% de FHC. Também não está no contingenciamento errado que causou a desaceleração econômica de 2011. O problema mais sério reside não só na retração de 4% no investimento em 2012, mas na manutenção dos investimentos abaixo do necessário, há muitos anos.

O crescimento da economia puxado pelo consumo se esgotou justamente porque os investimentos capazes de elevar a oferta não cresceram. E isto está relacionado não só a fatores cíclicos da anarquia do mercado, a exemplo da crise internacional e da psicologia especulativa dos investidores privados, mas também a escolhas e decisões políticas e à operacionalização dessas decisões.

Não é por acaso que a revista Exame, de uma hora para outra, se tornou defensora da Petrobras e acusa o governo Dilma de estar destruindo a estatal. Também não é por acaso que os empresários brasileiros, em sua grande maioria, puxaram o freio dos investimentos e estão preferindo aplicar seus recursos no sistema financeiro. Pouco tem adiantado dar incentivos a eles, elevar as taxas de rentabilidade nos projetos de construção ou reduzir impostos. Enfim, fazer todas as concessões possíveis para despertar o que os economistas costumam chamar de espírito animal dos investidores, sem que isso resulte em mudanças consistentes.

Talvez o governo necessite, com urgência, refazer seu diagnóstico e sua política de investimentos. É evidente que se criou um ambiente de incertezas internacionais e nacionais que afetam a economia e o espírito animal do empresariado. Este tem pressionado no sentido de que só investirá se o investimento privado estiver totalmente no comando. Ou seja, se puder auferir lucros, ou rendimentos, equivalentes aos que auferia jogando na roleta financeira de juros com dois dígitos. Taxas racionais de rentabilidade, especialmente para os setores que exercem poder de monopólio sobre a economia, são ineficientes para despertar seu espírito animal e fazê-los retomar os investimentos.

Numa situação como essa talvez a melhor receita seja a de Franklin Delano Roosevelt que, antes de Keynes dizer alguma coisa, decidiu domar seus capitalistas com unhas e dentes, e colocou o New Deal em ação, tendo em vista sair da crise. Nós não estamos afundados na mesma crise de Roosevelt, mas certamente o espírito animal dos capitalistas brasileiros não deve ser muito diferente do espírito animal dos capitalistas americanos, avesso a lucros baixos. Aliás, também antes de Keynes, Getúlio tomou iniciativas que iam muito além do espírito animal dos investidores nacionais, numa época em que falar em industrialização era palavrão.

Já faz tempo que vários estudiosos da economia brasileira chamam a atenção para o fato de ser um absurdo manter um superávit primário estéril, que em nada contribui para o crescimento dos investimentos públicos em infraestrutura e no adensamento das cadeias produtivas. O que tem pouco a ver com controle fiscal, e tudo a ver com manter o dragão financeiro saciado.

Também faz tempo que esses estudiosos chamam a atenção para uma intervenção mais direta na taxa de câmbio, de modo a influir na coordenação dos preços relativos. E faz tempo que se fala na necessidade de realizar uma coordenação mais fina na atração de investimentos externos, de modo a garantir que eles contribuam não só para modernizar a infraestrutura e adensar as cadeias produtivas, mas também para estimular a concorrência, reduzir preços e constituir um empresariado nacional que seja competitivo, nacional e internacionalmente.

Nesse sentido, a reestruturação em curso na Petrobras é fundamental para torná-la realmente eficiente e elevar sua produção. Por isso mesmo, também é fundamental ter cuidado para manter em pleno funcionamento as milhares de médias e pequenas empresas fornecedoras de produtos e serviços que garantem à Petrobras ficar livre dos preços administrados das corporações empresariais que também prestam serviços a ela, e que ficarão szinhas no mercado se aquelas médias e pequenas empresas falirem ou mudarem de ramo.

Os ataques da revista Exame, na verdade, se aproveitam da complexidade da reestruturação da estatal para fazer política negativa com médias e pequenas empresas que estão enfrentando dificuldades com aquela reorganização. Uma resposta mais completa a tais ataques deveria incluir não só a manutenção do papel de estruturante industrial da Petrobras, mas ampliar tal papel a todas as estatais. Elas são instrumentos fundamentais na instalação de indústrias que elevem a participação de componenes e equipamentos fabricados no Brasil e tenham capacidade de competir no mercado doméstico e internacional.

O mesmo pode ser dito em relação à agricultura e à produção de alimentos. É inconcebível que o Brasil, com a área agrícola que possui, tenha na baixa oferta de alimentos, e nos altos preços decorrentes, um dos principais fatores de pressão sobre a inflação. Em quase todos os países do mundo a agricultura familiar é subsidiada, porque tais países entendem que não se trata apenas de um problema econômico e social, mas de um problema estratégico relacionado com a seguridade alimentar. No Brasil, isso se agrega à necessidade de debelar tensões inflacionárias e melhorar a dieta alimentar da população.

Sem desmerecer os problemas econômicos reais, talvez seja o momento de introduzir mais política no circuito. Aliás, a invenção de Paul Samuelson, de que a economia poderia desdenhar a política, se torna cada vez inefiente para tratar dos problemas econômicos. Estavam certos os clássicos que chamavam de economia política a ciência que trata da economia. Talvez aqui resida o xis do problema.

Wladimir Pomar é escritor e analista político.

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