Ponto de partida é a confiança mútua construída nos territórios, a abertura de espaço para o diálogo e o compromisso para as mulheres se sintam acolhidas

Por Flaviana Serafim – Jubileu Sul Brasil

O papel da mobilizadora para que seja realizada a “Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais” foi o centro da pauta na formação realizada virtualmente na noite deste 6 de outubro, reunindo mobilizadoras, articuladoras e outras profissionais que integram a iniciativa. 

A articuladora Raimunda Oliveira, de Salvador (BA), abriu a atividade convidando à reflexão, seguida da mística conduzida por Raimunda Silva, a Rai, que fez a leitura de “Canção da mudança”, da poetisa Amanda Gorman, ativista afro americana que aborda feminismo, raça, opressão e marginalização.

Beth Silva, de Fortaleza (CE), falou da importância das práticas, iniciativas e pequenos projetos promovidos no âmbito da ação. “A gente se envolve e ao mesmo tempo quer que essas mulheres cresçam, busquem outros espaços, e nosso trabalho é muito importante nesse sentido de ouvir e fortalecer”.

Elas também destacaram a importância das partilhas e trocas de experiências, da escuta da mobilizadora junto à comunidade e do incentivo ao empoderamento feminino. O ponto de partida é a confiança mútua construída nos territórios, a abertura de espaço para o diálogo e o compromisso para que essas mulheres se sintam acolhidas.

“Gosto de dialogar muito e isso faz um efeito muito grande porque uma mensagem por aplicativo não adianta tudo. Sentir o calor da outra é importante. Nesse diálogo queremos que elas tenham autonomia, conhecimento, porque as mulheres da periferia sofrem muito”, disse Rai Silva.

Reunião virtual com as mobilizadoras e demais profissionais envolvidas na ação.

Enfrentamentos e soluções

O momento formativo prosseguiu com as participantes respondendo e refletindo sobre algumas questões, tais como os desafios encontrados, as soluções ou outras propostas de superação do problema.

Da ocupação Vito Giannotti, no Rio de Janeiro (RJ), Ângela Maria Cassiano avalia que o desafio das mobilizadoras na ação com as mulheres “é cativar, é fazer com que elas se abram porque são muito sofridas, têm problemas de alcoolismo, agressão. Moramos numa região de tráfico, uma zona portuária com violência muito grande, e às vezes temos dificuldade de trazê-las porque são mães-solo, trabalham. Por isso o desafio é cativar e passar confiança”.

Da comunidade de Nova Brasília de Valéria, em Salvador (BA), Madalena Trindade Silva comentou que o maior desafio “é o desestímulo enfrentado pelas mulheres devido a tudo o que enfrentam no cotidiano”, tais como as violências por falta de moradia, a violência física e urbana, e destacou a relevância da formação pessoal e social ocorridos a partir da chegada da Rede Jubileu Sul com a ação.  “Não tem hora para os problemas chegarem, mas tem essa relação de confiança”, completa.

Um dos momentos em que o desestímulo vem à tona é quando acontece alguma ação policial contra o tráfico de drogas nas comunidades, relata Raimunda Silva.

“Quando isso acontece a gente não consegue sair por conta do abalo psicológico. Tentamos trazer essas mulheres pra cá, mas muitas são mães solteiras, têm que trabalhar, e estão perdendo oportunidade de participar por conta disso”. Por isso a sugestão é de apoio psicossocial às mulheres beneficiárias da ação e também às mobilizadoras, que “precisam de momentos de formação com psicólogos, para nos fortalecermos. A gente cuida, mas também tem que ser cuidada”, ressalta.

Um outro grande desafio apontado é a geração de renda, avalia Beth Silva, “com as mulheres desenvolvendo seu talento para terem seus próprios recursos. Muitas sofrem muitas vezes por falta de independência financeira”, afirma. Nesse sentido, a aposta da ação é nos grupos produtivos se desenvolvendo nos territórios.

Na terceira parte do encontro, o tema foram as questões administrativas e financeiras relativas à atuação das mobilizadoras, com orientações compartilhadas por Lucimeire Araújo, da secretaria do Jubileu Sul Brasil, que também tirou dúvidas das participantes.

Ao final, a indígena Helen Kokama compartilhou as experiências de seu povo, falou sobre a herança ancestral dos avós, os aprendizados transmitidos entre as gerações dessa população originária que historicamente habita a região do Alto Rio Solimões, no Amazonas.

As iniciativas da Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais ocorrem numa parceria entre o Jubileu Sul Brasil, 6ª Semana Social Brasileira (SSB) e Central de Movimentos Populares (CMP), com apoio do Ministério das Relações Exteriores Alemão, que garantiu ao Instituto de Relações Exteriores (IFA) recursos para implementação do Programa de Financiamentos Zivik (Zivik Funding Program).

As ações também integram o processo de fortalecimento da Rede Jubileu Sul Brasil e das suas organizações membro, contando ainda com apoios da Cafod, DKA, e cofinanciamento da União Europeia.

O conteúdo desta publicação é de responsabilidade exclusiva da Rede Jubileu Sul Brasil. Não necessariamente representa o ponto de vista dos apoiadores, financiadores e co-financiadores.

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