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“De fato, a Igreja como uma ‘comunidade formada pelos que creem e dirigem seu olhar para Jesus, artífice da salvação e princípio da unidade’, não pode ser indiferente às necessidades daqueles que estão ao seu redor, já que os gozos e as esperanças, as tristezas e as angústias das pessoas, hoje em dia, especialmente as dos pobres e de todos os que sofrem, são também os gozos e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”. Com estas palavras o Papa Francisco enviou, nesta quarta-feira, 18 de fevereiro, uma mensagem especial aos fiéis brasileiros por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade 2015, promovida todos os anos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cujo tema é “Fraternidade: Igreja e sociedade”.

Papa Francisco tem sido responsável pela postura mais social da Igreja Católica nos últimos anos.

Francisco observa que durante os próximos 40 dias a Campanha da Fraternidade quer ajudar a aprofundar, à luz do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade, como serviço de construção do Reino de Deus, no coração e na vida do povo brasileiro. Destaca, no entanto, que este não é um compromisso exclusivo das instituições, mas que cada um tem que fazer a sua parte, começando dos lares, dos trabalhos e com as pessoas com as quais nos relacionamos. ”Recordemos que cada cristão e cada comunidade estão chamados a serem instrumentos de Deus para a libertação e a promoção dos pobres, para que possam integrarem-se plenamente na sociedade; e isso supõe ser dócil e estar atento para escutar o grito do pobre e ajudá-lo”.

O Papa chama ainda as pessoas a fazerem um exame de consciência sobre o compromisso prático e efetivo de cada um na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e pacífica. ”Espero que o caminho quaresmal deste ano, à luz das propostas da Campanha da Fraternidade, disponha os corações para a nova vida que Cristo nos oferece, e que o poder transformador que flui da sua Ressurreição chegue a todos em sua vida pessoal, familiar, social e cultural, e fortaleça em cada coração sentimentos de fraternidade e convivência”.

50 anos

Dom Leonardo Steiner fala durante a abertura da CF 2015.

Em 2015, são comemorados os 50 anos do encerramento do Concílio Vaticano II, um dos eventos mais marcantes da Igreja no século XX. A reunião episcopal foi realizada de outubro de 1962 a outubro de 1965. No Brasil, eventos para celebrar o cinquentenário vêm sendo realizados no último triênio. Para este ano, a CNBB propõe uma reflexão mais ampla sobre o Concílio, por meio da Campanha da Fraternidade (CF), aberta oficialmente, em âmbito nacional, na Quarta-Feira de Cinzas. O tema “Fraternidade: Igreja e sociedade” e o lema “Eu vim para servir” abordam a relação entre a Igreja e a sociedade à luz da fé cristã e dos documentos do Concílio Vaticano II.

De acordo com o bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB, Dom Leonardo Steiner, o tema é bastante aberto e provoca um “debate sobre a participação e atuação dos cristãos na vida social”. O objetivo almejado pela CF 2015 é aprofundar, a partir do Evangelho, o diálogo e a colaboração entre a Igreja e a sociedade, propostos pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, como serviço ao povo brasileiro, para a edificação do Reino de Deus.

A Campanha também quer fazer memória ao caminho percorrido pela Igreja com a sociedade, para identificar e compreender os principais desafios da atualidade; apresentar os valores espirituais do Reino de Deus e da Doutrina Social da Igreja; apontar as questões desafiadoras na evangelização da sociedade e estabelecer parâmetros e indicadores para a ação pastoral; aprofundar a compreensão da dignidade da pessoa, da integridade da criação, da cultura da paz, do espírito e do diálogo inter-religioso e intercultural, para superar as relações desumanas e violentas.

Além disso, a Campanha propõe buscar novos métodos, atitudes e linguagens na missão da Igreja de levar a Boa Nova a cada pessoa, cada família; atuar profeticamente, com base na evangélica opção preferencial pelos pobres, para um desenvolvimento integral da pessoa e a construção de uma sociedade justa e solidária.

Documentos que inspiraram a CF

A CF 2015 parte de dois pressupostos fundamentais para a vida cristã, também centrais no Concílio Vaticano II: a autocompreensão da própria Igreja; e as implicações da fé cristã para o convívio social e para a presença da Igreja no mundo. O Papa Paulo VI havia expressado isso em duas perguntas feitas na abertura da segunda sessão do Concílio: Igreja, que dizes de ti mesma? Igreja, dizei qual é a tua missão?

Concílio Vaticano II considerado marco histórico para a renovação da Igreja.

A proposta desta edição é baseada nas reflexões sugeridas pela Constituição Dogmática “Lumen Gentium” e na Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, que tratam da missão da Igreja no mundo.

Conforme Steiner, os presidentes das comissões pastorais da CNBB acharam muito importante ter uma campanha que abordasse esses dois documentos para estabelecer, portanto, uma reflexão entre a sociedade e a Igreja. “Essa Campanha procura lembrar que a Igreja está a serviço das pessoas, ela não quer privilégios. Até porque a Igreja é mais do que uma estrutura, ela é cada cristão, cada batizado, que está inserido na sociedade por meio do trabalho, das instituições e diversas ações. Queremos refletir essa presença da Igreja na sociedade”, destaca o bispo.

O documento conciliar “Lumen Gentium” (A luz dos povos) revela a autocompreensão da Igreja, formada por todos os que aderem a Cristo pela fé no Evangelho e pelo batismo. Assim, mais do que uma instituição juridicamente estruturada, a Igreja é um imenso “povo de Deus”, presente entre os povos e nações de todo o mundo, não se sobrepondo, mas inserindo-se neles.

A partir dessa visão, a Igreja passa a superar uma das grandes questões assumidas pelo Concílio, a visão dicotômica Igreja-mundo. Isto se desdobra no esforço da Igreja para abrir-se ao diálogo com o mundo; de estabelecer uma relação com as realidades humanas; acolher o novo e o bem; partilhar as próprias convicções; contribuindo para o bem comum e colocando-se a serviço do mundo.

Essa nova postura é expressa na Constituição Pastoral “Gaudium et Spes” (A alegria e a esperança), aprovada e promulgada em 1965, por Paulo VI, às vésperas do encerramento do Concílio. Neste texto aparece a visão cristã sobre o mundo e o homem, sua dignidade, existência e vocação, e ainda reflete sobre a comunidade humana e as relações sociais, o sentido do trabalho e da cultura e sobre a participação da Igreja enquanto povo de Deus inserido na sociedade, na promoção do bem de toda a comunidade humana.

Em seus pronunciamentos, o papa Francisco recorda sobre a importância da Igreja estar a serviço de seu povo. Fala de uma Igreja em saída, comunidade samaritana, e afirma que a Igreja não pode se omitir, nem abster de dar sua contribuição para a reta ordem ética, social, econômica e política da sociedade.

A Campanha da Fraternidade retoma então essas reflexões do Concílio, para propô-las novamente, no contexto brasileiro, durante o ano de 2015, especialmente no período quaresmal de preparação para a Páscoa.

Clique aqui para ter acesso aos materiais e conteúdos da CF 2015.

Com informações do Vatican News e CNBB.

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