Sonia Mara Maranho, dos Atingidos por Barragens, criticou que os acordos e decisões do G20 sejam feitos “de portas fechadas”

Por Flaviana Serafim – Jubileu Sul Brasil

Dezenas de pessoas de países do Sul global participaram virtualmente do debate “Austeridade, dívidas sociais e climáticas e a relação G20-FMI/Banco Mundial”, na noite deste 24 de setembro. O terceiro encontro deu seguimento ao ciclo virtual “A Cúpula dos Povos: de pé frente ao G20”, iniciado em julho último tendo como convidados/as especialistas nacionais e internacionais.

Abrindo a discussão, Sonia Mara Maranho, do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) criticou a atuação do Grupo dos 20 países entre as maiores economias do mundo (G20), por seu “modelo capitalista que prioriza o lucro em vez das necessidades do povo”.

“Nós temos um sistema que se apropria dos nossos direitos, dos recursos naturais, dos investimentos do Estado e o lucro de tudo isso é privado, principalmente nesse processo do debate que têm as cúpulas dos governos. Eles têm trazido o discurso da transição energética como uma forma de salvar o mundo, quando na verdade é para ser recolocar, reposicionar nos territórios uma base de alta lucratividade e continuar tendo lucros extraordinários”.

Sonia Mara Maranho, da coordenação nacional do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB).

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Sonia destacou o papel do Brasil, que está no centro da disputa como exportador de hidrogênio verde, energias renováveis e de minerais críticos (como são chamados metais essenciais à transição para uma economia de baixo carbono, para energia por fontes renováveis e uso de tecnologias limpas) e que, junto com a Venezuela, o país é estratégico para o petróleo demandado pelos Estados Unidos.

“Da Arábia Saudita para os EUA são dois meses, a partir da Venezuela são dois dias. É uma mudança de território de exploração que também está em disputa na geopolítica internacional. O centro da questão é que sabemos que eles [os países do G20] vão discutir não a matriz energética em si, mas o modelo de sociedade que está em curso nessa transição energética. Temos que perguntar: a que custo e para quem?”, questiona. A dirigente do MAB criticou ainda os acordos e decisões do G20, tomados “principalmente de portas fechadas”, e defendeu a participação popular organizada para construção de outra proposta de sociedade:

“Acreditarmos na participação profunda da sociedade, na força popular.  A melhor forma de participar é estar organizado, é ter consciência política do que está acontecendo no mundo. Nossa tarefa é organizar e estimular as organizações sociais para que estejam conscientes, em defesa dos seus países e seus territórios. Não se resolve crise ambiental, o problema da fome e das guerras com governos golpistas, bancos, acionistas e rentistas, porque para eles o centro de tudo isso é o que está em disputa”.

O debate “Austeridade, dívidas sociais e climáticas e a relação G20-FMI/Banco Mundial” também teve como convidados o padre Dario Bossi, da Comissão para a Ecologia Integral e Mineração da Confederação Nacional de Bispos do Brasil (CEEM-CNBB), Johana Peña, da Censat Agua Viva (Colômbia), e Sandra Quintela, da Rede Jubileu Sul Brasil, com moderação de Beverly Keene, do Diálogo 2000 (Argentina), e transmissão ao vivo no canal da Tarima Digital (Paraguai).

Ao final, a moderadora Beverly Keene falou sobre os próximos passos das organizações e movimentos populares, incluindo o fortalecimento da educação ambiental popular e a expansão da denúncia de mecanismos como a troca de dívida por natureza ou a ação. Segundo a representante do Diálogo 2000, “fazem parte das falsas soluções promovidas pelo grande capital, através do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Será um dos eixos a discutir no Tribunal dos Povos e da Natureza contra estas instituições”, que se reunirá no âmbito da Cúpula dos Povos frente ao G20, no dia 16 de novembro e 17, no Rio de Janeiro, uma iniciativa coletiva que acontece paralelamente ao calendário oficial do encontro de líderes do Grupo dos 20.

Assista:

Ciclo prossegue até novembro
Iniciado em julho, o ciclo A Cúpula dos Povos: de pé frente ao G20 tem o objetivo de aprofundar o debate sobre temas que estão em pauta na Cúpula de líderes do G20 (combate à pobreza, crise do clima, dívida, desenvolvimento sustentável, governança global e soberania), que ocorre em novembro próximo, no Rio de Janeiro. Por isso, a série de debates dá ênfase à perspectiva dos povos e territórios do Sul global nestas discussões.

Outro objetivo do encontro é fortalecer a mobilização popular e a reflexão sobre como as decisões da Cúpula do G20 afetam a vida cotidiana, pois os chefes de Estado e de governo dos países do G20 é que decidem os rumos da política econômica e do neoliberalismo global.

Os debates ocorrem mensalmente até 26 de novembro, sempre na última terça-feira de cada mês, com transmissão ao vivo no canal da Tarima Digital e na página do Jubileu Sul Brasil.

Reserve a data dos próximos encontros virtuais:
29/10 – “Justiça e reparação: colonialismo, escravidão, genocídio”, com a economista e educadora popular Sandra Quintela, do Jubileu Sul Brasil, e Camille Chalmers, da Plataforma para o Desenvolvimento Alternativo do Haiti (PAPDA), professor na Universidade do Estado do Haiti e dirigente do partido Rasin Kan Pèp la.
26/11- Balanço: como seguimos?

O ciclo é uma iniciativa da articulação do Cone Sul na Rede Jubileu Sul/Américas, em parceria com a Rede Jubileu Sul Brasil, Alba Movimientos, Diálogo 2000 (Argentina), Tarima Digital, Campanha Itaipu Causa Nacional (Paraguai), Conselho de Educação Popular da América Latina e Caribe – CEAAL e a Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo.

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