Transmitido ao vivo, evento aprofundou debate sobre o tema nos territórios de atuação da Rede Jubileu/Américas, visando à Conferência Internacional sobre Soberania Financeira, prevista para agosto de 2021

Como parte da campanha A vida Acima da Dívida, a Rede Jubileu Sul/Américas realizou o fórum virtual O avanço dos financiamentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID e os impactos sobre as comunidades na América Latina e no Caribe, promovendo um debate neste 1º de dezembro sobre os financiamentos de bancos internacionais e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) aos territórios da América Latina e Caribe.

Com a mediação de Vladimir Francisco, da Rede Jubileu Sul Brasil, e Aurora Donoso, da Acción Ecológica, do Equador, o primeiro objetivo foi apresentar mapeamento dos projetos de desenvolvimento financiados pelo BID nas cidades, territórios e comunidades, e os impactos da ação do Banco Internacional de Desenvolvimento. A atividade também foi preparatória para a Conferência Internacional sobre Soberania Financeira, prevista para agosto de 2021.

Coube a Magnólia Said, membro do Jubileu Sul Brasil, feminista e advogada agrarista, a fala de abertura. Ela lembrou que o BID muitas vezes não é muito considerado quando se trata de discutir a relação das instituições financeiras e a relação delas com a dívida. Segundo Magnólia, embora seja um banco regional, há uma carência de estudos mais profundos no Brasil, principalmente na área acadêmica, que parece muito mais voltada ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

Desde sua fundação, que coincide com a Revolução Cubana, em 1959, o BID mostra a sua intenção em conter conflitos anti-imperialistas no território Sul-Americano. Magnólia ressalta que a instituição está presente em 48 países, dos quais 26 são mutuares – países disponíveis para receber recursos financeiros por empréstimos e financiamentos – sendo todos da América Latina e Caribe, com exceção de Cuba, e 22 não mutuares, incluindo Estados Unidos, Canadá, China e Europa.

Segundo a advogada “o banco é interamericano e os países não mutuares, que não fazem parte das Américas, integram o BID e somam mais de 15% dos votos. Esses países não estão na área de atuação do banco, mas têm um grande poder de decisão sobre as políticas voltadas para a nossa região”. Magnólia lembra ainda que a assistência financeira e técnica oferecidas são o principal meio pelo qual os membros não mutuários do BID intervêm nos processos decisórios e obtêm recursos.

Leia também: Jubileu Sul/Américas debate avanço dos financiamentos do BID e os impactos sobre as comunidades na América Latina e no Caribe

Em seguida, Martha Flores, coordenadora geral da Rede Jubileu Sul/Américas, apresentou os métodos de atuação do BID, expondo os modelos de parceria público-privada e aumento das formas de endividamento como meio de prolongar a dominação dos territórios.

Martha finalizou chamando atenção paro o caso específico de Honduras. “Após a passagem dos furacões em nossa região foi anunciado que as restaurações, recuperação, reconstrução de um dos setores que foi afetado em sua infraestrutura de energia, será liderado por um dos integrantes do grupo BID.  Isto é extremamente preocupante em termos dos impactos que sabemos que isso tem em relação ao território”, conclui.

O debate prosseguiu para a discussão sobre as lutas anti-BID apresentadas pelos expositores. Cosme Victor, representante da Associação de Favelas de São José dos Campos, mostrou casos de vítimas da guerra pelo controle do tráfico em sua cidade, parte do projeto de “desfavelização” da prefeitura de São José dos Campos financiado pelo BID, o que construiu um projeto de gentrificação e especulação imobiliária por meio da violência.

Cosme destacou que a estrutura de remoção forçada do projeto tem como foco a remoção de lares da região central de São José dos Campos, de forma compulsória e sem nenhum tipo de compensação, sendo três principais atingidos – a Nova Detroit, Caparaó e Nova Tatetuba, totalizando 450 famílias.

Juan Pablo Villamizar, das comunidades Sembradoras de Territórios, Águas y Autonomias (SETAA) afetadas por Hidroituango e vinculadas ao Movimento Rios Vivos, lembrou que não só as populações mais carentes pagam mais pelos projetos de desenvolvimento do BID, mas também o meio ambiente. Ele afirma que, com o aumento das políticas neoliberais durante o período de Felipe Calderón como presidente do México, de 2006 a 2012, abriram-se as fronteiras do capital internacional no México.

Essas parcerias entre Estado e capital financeiro internacional, da qual o BID fez parte, trazem um discurso de energia renovável e capitalismo sustentável, mas, na prática, são parte da mesma lógica do lucro acima da vida. Atuando em setores críticos como saneamento básico, transportes e energia, levam à expansão dos megaprojetos que agridem o meio ambiente e deixam como herança uma série de desastres climáticos.

Ao final do debate, propôs-se a criação de um dossiê de todas as irregularidades e crimes cometidos contra as populações em cada projeto executado com apoio do banco, tendo como referência as próprias práticas ambientais e sociais do BID.

O objetivo é cancelar esses financiamentos de projetos que são parte de um modelo de “financeirização da vida”, e, além disso, trazer para o debate público essa forma de atuação do banco, que é privado acima de tudo, desmistificando assim essa estrutura e priorizando a vida acima do capital.

Confira o debate completo abaixo:

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