Ex-deputado cassado invadiu e ameaçou mulheres da ocupação Maria Lúcia Petit, recém criada para ampliar rede de enfrentamento à violência contra as mulheres. Caso foi registrado na delegacia de Campinas (SP), com pedido de medidas protetivas
Redação – Jubileu Sul Brasil
A ocupação Maria Lúcia Petit, no bairro Botafogo, em Campinas (SP), foi invadida pelo ex-deputado estadual Arthur do Val na tarde da última sexta-feira (5/5). Ele invadiu, fez provocações e ameaças às mulheres. Foi registrado boletim de ocorrência e feito pedido de medidas protetivas às ocupantes ameaçadas por do Val.
A ocupação foi recém criada, em 30 de abril, para ampliar a rede contra a violência às mulheres, frente à ausência de políticas públicas de atendimento na Região Metropolitana de Campinas. No momento da invasão, uma atividade cultural estava sendo realizada na ocupação, que é liderada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário.
Com a reação de parlamentares campineiros em defesa das mulheres , Arthur do Val também ameaçou vereadores, entre os quais a vereadora Mariana Conti (PSOL), presidente da Comissão da Mulher na Câmara Municipal. Ela acompanhou as ameaçadas à delegacia de Campinas e expressou preocupação “com a escalada da violência que é fomentada por sujeitos como esse. Esse abusador esteve na ocupação ameaçando as mulheres e incitando as pessoas e cometerem violência contra as mulheres que estão ali. Aqui na delegacia, Arthur do Val insinuou que eu deveria apanhar”, denunciou em vídeo publicado no Twitter.
URGENTE ???? | Além de tentar invadir a ocupação de mulheres e incitar a violência contra nós, Arthur do Val disse que a Polícia Militar deveria me agredir. Estamos preocupadas com a escalada da violência que é fomentada por sujeitos como esse, por isso iremos registrar + pic.twitter.com/1otZ5q69Ei
— Mariana Conti (@mariana_psol) May 5, 2023
Coordenadora da ocupação, Mayara Fagundes afirmou em assembleia no espaço Maria Lúcia Petit que, apesar das ameaças e da invasão, há um acúmulo “muito maior que o cansaço que estamos sentindo, que é a vitória que a gente tem de estar aqui pisando nesse chão, um espaço que se propõe a acolher contra a violência e também um ambiente cultural para essa cidade”, afirma.
Ainda segundo a coordenadora, “esse playboy não tem o que fazer, porque de fato não trabalha, ele vive de renda, da herança dele, da família dele que explorou nosso povo. Mas tenho um recado muito claro pra ele: esse espaço é do Olga Benário, é da Maria Lúcia Petit, é do povo campineiro e não especulação imobiliária”, ressaltou em vídeo divulgado nas redes sociais pelo movimento de ocupação.
A militante Ana, membro do movimento, criticou a invasão e destacou que as mulheres residentes “são trabalhadoras, são estudantes que estão aqui resistindo às ameaças desses fascistas que arrancaram nossas bandeiras e invadiram a ocupação. Foi um parlamentar cassado por ter ido à Ucrânia fazer turismo sexual, é esse tipo de fascita que vem aqui ameaçar as mulheres”, criticou.
Mais conhecido como “Mamãe falei” o ex-deputado teve o mandato cassado há cerca de um ano na Assembleia Legislativa de São Paulo, com votos de todos os 73 votos parlamentares presentes à sessão de 17 de maio de 2022, e perdeu os direitos políticos por oito anos.
Em meio aos refugiados e o conflito bélico com a Rússia, do Val viajou à Ucrânia e, em áudios vazados de grupos de troca de mensagem, fez declarações machistas e misóginas, como a afirmação de que as mulheres ucranianas “são fáceis porque são pobres (…). Não peguei ninguém, mas eu colei em duas ‘minas’, em dois grupos de ‘mina’. É inacreditável a facilidade”.
O nome da Rede de Apoio a Mulheres em Situação de violência da Região Metropolitana de Campinas homenageia a guerrilheira paulista Maria Lúcia Petit, que iniciou sua militância no movimento estudantil e está entre as vítimas da ditadura civil-brasileira. Foi assassinada em junho de 1972, na Guerrilha do Araguaia.