As ações estimulam a organização coletiva e o desenvolvimento da vocação produtiva e talentos femininos locais em Fortaleza, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador. Em 2023, ações em Belo Horizonte e Manaus também serão apoiadas.

Em Salvador, mulheres participam de oficina para produção de absorventes higiênicos sustentáveis. Foto: Mila Souza

Por Meg  Stuart e Jucelene Rocha

Como parte das iniciativas da Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais, projetos sociais foram selecionados para receber apoio. Todos eles buscam estimular o desenvolvimento de grupos femininos produtivos, a partir da autogestão. Em 2022, os projetos apoiados ficam em Fortaleza (CE), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ) e Salvador (BA).

“A seleção foi realizada buscando apoiar os projetos sociais em autogestão e que buscassem estimular o desenvolvimento de grupos produtivos dentro das ações já executadas pela Rede Jubileu Sul Brasil e seus parceiros”, sinaliza Carolina de Mendonça Rodrigues Silva, assistente de projetos da Rede.

Geração de renda para as famílias em situação de vulnerabilidade social, articulação das mulheres, implementação de iniciativas autogestionárias de soberania alimentar e geração de renda, capacitação das famílias em situação de vulnerabilidade social, diagnóstico territorial participativo, são alguns dos resultados esperados, a partir do fortalecimento das iniciativas locais.

“Dentro do atual contexto socioeconômico das famílias, a questão da geração de renda é fundamental para que as mulheres se sintam fortalecidas e tenham condições inclusive de participar das lutas, das articulações, das mobilizações. Os grupos produtivos podem fortalecer a geração de renda para as mulheres, a segurança alimentar para as famílias e comunidades. Também favorece momentos de encontro, formação e debate com a comunidade sobre a temática da segurança alimentar e sobre o modelo econômico implantado no país que privilegia a produção de grãos e não de alimentos. O Jubileu tem se colocado com a tarefa de apoiar, de fortalecer os grupos produtivos entendendo que para além dos resultados que se pode alcançar temos o fortalecimento dos processos de articulação e mobilização nas comunidades”, destaca a secretária executiva da Rede Jubileu Sul Brasil, Rosilene Wansetto.

Mão na massa

Este ano quatro propostas foram selecionadas. Em Salvador (BA) a iniciativa contemplada é o projeto Mulheres Mantenedoras do Alicerce ao Teto da Casa, na comunidade Nova Brasília de Valéria. O apoio contribui com o fortalecimento das mulheres em torno de oficinas formativas e práticas para a materialização do direito à moradia digna e saúde da mulher. Em momentos formativos, as mulheres aprendem noções básicas sobre autogestão e finanças solidárias, com foco em fundos rotativos solidários. Na prática, elas também colocam a mão na massa e compartilham conhecimentos para a produção de blocos artesanais. A ideia partiu de uma das mulheres da comunidade. O sonho dessas mulheres é construir em mutirão, primeiramente, o espaço comunitário para a realização das atividades coletivas, sobretudo com crianças e adolescentes.

No Rio de Janeiro (RJ) o apoio chegou até o grupo produtivo do Quilombo da Gamboa e vai fortalecer as ações da Cozinha Coletiva. A comunidade tem como objetivo produzir e comercializar alimentos saudáveis. “A Cozinha Coletiva com capacidade de produção de alimentos saudáveis, como já acontece, e de produtos de padaria, possibilitará a autonomia econômica das famílias do Quilombo da Gamboa, que por sua vez, também fortalecerá o sentimento de pertencimento ao local e ao território”, destaca Maria Gorete da Gama, articuladora local.

No Rio de Janeiro, mulheres realizam reunião de planejamento. Foto: Icaro Gama

Já em Porto Alegre (RS), o projeto fortalecido com o apoio é o Mães à Obra. A iniciativa fica em São Borja e tem como objetivos promover a independência das mulheres no campo da construção civil e dos reparos domésticos, além de promover capacitação para adentrarem o mercado de trabalho da construção civil e se organizarem para prestação de serviços nesta área. As mulheres também sonham com a construção da sede comunitária. “Este projeto foi uma oportunidade de conquistarmos uma transformação estruturante, permitindo que nossa atuação vá além das ações de solidariedade e acolhimento.  Buscamos com este projeto dar início à construção de uma sede para a Associação de Mães – Mãos à Obra, conquista que permitirá o fortalecimento da Associação e a ampliação das suas possibilidades de atuação. Neste espaço, poderão ocorrer diversos tipos de atividades entre as mulheres, crianças, jovens e demais moradores da comunidade, como encontros, reuniões, festas, assembleias, oficinas e cursos de capacitação em diversas áreas. Esta sede poderá tornar-se um espaço de grande relevância dentro da comunidade, em que ações relacionadas à educação popular, à geração de renda, ao fortalecimento de vínculos comunitários e à emancipação das mulheres poderão acontecer”, afirmam Tatiane Santos Godoy, Presidenta da Associação de Mães – Mãos à Obra e Jamile Tabbal Mallet, Articuladora da Ação Mulheres e Arquiteta do coletivo Mãos Arquitetura.

Em Fortaleza (CE) o apoio da Ação Mulheres vai beneficiar sete iniciativas produtivas. As atividades são lideradas pelo projeto Autogestão Grupos Produtivos do Ceará. “O projeto proporciona o fortalecimento e a organização dos grupos de produção através da capacitação e da formação política sobre o contexto socioeconômico da vida das mulheres, soberania alimentar, direitos das mulheres, direitos humanos e da organização comunitária para geração de renda”, afirmam Nenzinha Ferreira, articuladora local e Cícera Maria Silva que coordena as ações.

Em Porto Alegre mulheres realizam mutirão para a construção da sede da Associação de Mães – Mãos à Obra, com a instrutória da ONG Mulher em Construção.

Entre as iniciativas apoiadas em Fortaleza estão dois grupos de mulheres no território Planalto do Pici (Brilho da lua e Margarida Alves), um grupo no Conjunto Palmeiras (As Guerreiras), um grupo na ocupação Raízes Praia (Mulheres Raízes da Praia) e um grupo na ocupação Zona Vitória – Croatá. Também são apoiados dois Sisteminhas — organização do viveiro para a criação de peixes—, um no Conjunto Palmeiras e outro na Raízes da Praia. A ação apoia ainda a criação de galinhas no Jangurussu e no Conjunto Palmeiras.

Muitas possibilidades

As parcerias locais também são fundamentais para o fortalecimento das ações dos grupos produtivos, como afirma Rosilene Wansetto. “Para além dos resultados econômicos e de segurança alimentar, contamos muito com os processos que este apoio pode fortalecer. As nossas parcerias com a 6ª Semana Social Brasileira, com organizações locais como o MCP em Fortaleza,  a Cáritas em Salvador, Emancipa em Porto Alegre e outras tantas revelam muitas outras possibilidades. Assim seguimos com esse trabalho coletivo em parceira, gerando sinergias”, conclui.

Em Fortaleza mulheres do Conjunto Palmeiras fazem a manutenção do Sisteminha, com a limpeza do tanque para criação de peixes

As iniciativas da Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais contam com apoio do Ministério das Relações Exteriores Alemão, que garantiu ao Instituto de Relações Exteriores (IFA) recursos para implementação do Programa de Financiamentos Zivik (Zivik Funding Program).

As ações também integram o processo de fortalecimento da Rede Jubileu Sul Brasil e das suas organizações membro, contando ainda com apoios da Cafod, DKA, e cofinanciamento da União Europeia.

O conteúdo desta publicação é de responsabilidade exclusiva da Rede Jubileu Sul Brasil. Não necessariamente representa o ponto de vista dos apoiadores, financiadores e co-financiadores.

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