Com pré-COPs em todo o Brasil, a Igreja Católica mobiliza diversas organizações, incluindo o CPP, em busca de justiça climática e conversão ecológica rumo à Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30)

Participantes da reunião da Articulação Igreja Rumo à COP 30 | Foto: Rocheli Koraleswski

Por Osnilda Lima – Cepast/CNBB

Planejamento e mobilização – Em Brasília (2/12), representantes de 100 organizações católicas debateram os próximos passos da Articulação Igreja Rumo à COP30.  Jaqueline Bertoldo, da Secretaria da Articulação, explicou que o encontro, com cerca de 120 participantes, serviu para avaliar o caminho percorrido e planejar as ações para o próximo ano. “Nós estivemos reunidos em equipes de trabalho que vão desenvolver ações como as pré-COPs, que serão realizadas em macro-regiões”, afirmou. “Teremos pelo menos cinco pré-COPs em todo o Brasil, para unificar a voz e as experiências da Igreja nesse processo.”

Rochelle Koralewski, também da Secretaria da Articulação, lembrou que a iniciativa se inspira nos apelos do Papa Francisco por ecologia integral. “O Papa Francisco nos inspira, por meio da Laudato Si, Laudato Deum, a promover a ecologia integral, a olhar para os nossos territórios”, disse. O objetivo, segundo ela, vai além da COP30: “Neste projeto, estamos promovendo ações em relação à COP30, mas também para promover conversão ecológica dentro dos nossos territórios, para podermos ser cristãos e cristãs, jardineiros e jardineiras da criação”.

O encontro reuniu representantes de diversos setores da Igreja, pastorais sociais e organismos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), movimentos sociais e organizações ambientais. Com participação presencial e online, marcou um passo importante na mobilização da Igreja Católica para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), que ocorrerá em Belém (PA) em 2025.

A articulação visa fortalecer ações conjuntas e ampliar a sinergia entre diferentes iniciativas em prol da justiça climática. Durante a reunião, os participantes refletiram sobre o cenário atual das mudanças climáticas, partilharam experiências e planejaram ações concretas para a COP 30.

Compromisso e união em prol da Casa Comum – Logo pela manhã, após a acolhida e a oração inicial conduzida pela Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), o Núncio Apostólico para o Brasil, Dom Giambattista Diquattro, partilhou o compromisso e as preocupações do Vaticano na atenção à emergência climática. Ele lembrou as palavras pronunciadas pelo Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, na recente Conferência de Baku, na COP 29. Representando o Papa Francisco, Parolin destacou com vigor a urgência de enfrentar a crise climática global com uma abordagem integral e solidária. “A Santa Sé fez um apelo veemente à comunidade internacional para superar egoísmos e divisões, colocando no centro o bem da humanidade e da casa comum”, recordou o Núncio. Ele ainda enfatizou que “É necessária uma profunda mudança nos comportamentos e nas políticas: a humanidade possui os recursos humanos e tecnológicos para reverter o curso atual.”

O secretário-geral da CNBB, Dom Ricardo Hoepers, também se fez presente na abertura da reunião. “Agora é a nossa vez, a nossa geração que precisa trabalhar. Temos que dar uma resposta e enfrentar isso confiando no Espírito Santo que nos ilumina nesse caminho”, disse, chamando à comunhão e trabalho conjunto. “Se nós estivermos em comunhão, falando a mesma linguagem, sabendo o que vamos fazer, isso será um ganho”, afirmou.

Ações e debates – Em seguida, um painel dialogado abordou o enfrentamento das mudanças climáticas no Pontificado do Papa Francisco. Frei Rodrigo Péret, frade franciscano, membro da Rede Igrejas e Mineração, lembrou que é necessária uma profunda transformação da Igreja diante da crise climática. Inspirado na “sobriedade feliz” do Papa Francisco, defendeu um compromisso samaritano com os mais necessitados e os povos originários. Péret alertou para os riscos de “falsas soluções” e a importância de ações precisas e solidárias.
A programação contou também com um painel sobre a participação da Igreja nas COP 16 e COP 29, com o intuito de traçar aprendizados e desafios para a COP 30. Outro painel apresentou o Plano de Trabalho da Articulação, a Estrutura Organizacional e a composição das Equipes de Trabalho.

Após o almoço, os participantes foram orientados sobre a Política de Proteção da CNBB. Em seguida, organizados em equipes de trabalho, dedicaram-se a levantar ideias e iniciativas para a elaboração de planos de ação nas áreas de articulação, mobilização, formação e incidência política. As equipes apresentaram suas propostas, e o dia encerrou-se com a consolidação do Calendário 2025 e a despedida dos participantes.

Formação e participação – A assessora da Comissão para a Ação Sociotransformadora da CNBB (Cepast-CNBB), Alessandra Miranda, destacou a importância da formação como preparação para a COP30. A Igreja do Brasil, mobilizada em busca de uma ação popular participativa rumo ao evento, promoverá as pré-COPs a partir da organização dos regionais da CNBB, criando espaços de aprendizado ecológico e engajamento comunitário, cristão e não cristão, em prol do cuidado da Casa Comum. “COP30 é um resultado que teremos lá na frente, mas é necessário fazer, então, a mobilização que antecede a partir dos momentos de formação”, ressaltou Miranda, confiando no potencial dos regionais da CNBB nesse processo.
O assessor da Cepast-CNBB, padre Dário Bossi, ressaltou a importância da participação da Igreja na busca por soluções para a crise climática. “Sabemos que as COPs não estão conseguindo resolver a urgência do colapso climático e ambiental em que estamos vivendo”, afirmou. “Por outro lado, são um dos momentos em que a mobilização dos povos e dos governos pode encontrar soluções. E a Igreja não pode ficar em silêncio ou omissa nestes momentos.”

União latino-americana – Vale lembrar que o evento contou com a presença de representantes da Nunciatura Apostólica, da CNBB e do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), demonstrando a união da Igreja na América Latina em torno da causa ambiental. “Foi muito importante hoje ter a presença da Nunciatura, da CNBB, do CELAM, portanto dos Bispos da América Latina, mostrando que o papel da Igreja para mostrar o cuidado da casa comum é decisivo”, disse o padre Dário. Ele convocou a todos a se unirem nesse compromisso, afirmando que a Igreja precisa “dar uma palavra profética, mostrar o seu compromisso, assumir o legado evangélico que vem da missão bíblica, de cuidar da criação que Deus nos confiou”.
A Articulação conta com a participação da Cúpula dos Povos, um amplo movimento da sociedade civil que se organiza para a COP30. Reunindo mais de 400 entidades nacionais e internacionais, a Cúpula dos Povos agrega sindicatos, associações, representantes de povos indígenas e comunidades tradicionais, entidades ambientalistas e o mundo religioso, buscando fortalecer a participação social na construção de uma agenda comum para a COP30.

Sinodalidade e esperança – A reunião evidenciou a força da sinodalidade, com vozes diversas unindo-se em prol da casa comum e da dignidade da vida. O encontro consolida propostas para o debate internacional sobre preservação ambiental e justiça socioeconômica.

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