Em Fortaleza (CE), a criatividade e a arte se manifestaram na dança do toré, rap, canções populares que enalteciam a vida na periferia

Imagens: Grito dos Excluídos/as Fortaleza

Por Rejane Nascimento

Sob as centenárias árvores da Praça dos Mártires, nosso passeio público em Fortaleza (CE), iniciou-se o 30º Grito dos Excluídos e das Excluídas, reunindo homens, mulheres, jovens, crianças e idosos que se juntaram no feriado 7 de Setembro para fazer ecoar o lema: “Todas as formas de vida importam. Mas quem se importa?”. 

Aos poucos, a dança do povo indígena Anacé deu o tom daquele começo de tarde, seguido pelos refrões de luta, entrecortados pelo Hino do 30º Grito que profetizava: “É hora de curar as feridas! Fé na vida”.

Militantes na capital cearense, Vladimir e Joyce acolhiam a todo instante as forças vivas que há 30 anos são protagonistas da resistência ao sistema de morte e opressão que enfrentamos desde que o Brasil é Brasil. Longe de desanimar, a luta inspira poetas do povo como seu Manoel, que criou e declamou um poema para celebrar as três décadas do Grito.

A palavra da Igreja Católica veio após Dom Gregório escutar um pouco sobre o que é o “Grito dos Excluídos” – e registre-se, que em Fortaleza, na verdade, estamos na 31ª edição do Grito, pois sempre contaremos com aquele, o “Grito da Panela Vazia”, proferido na Barra do Ceará, em 1993! Dom Gregório usou Caim e Abel para falar que quando a ganância entra no coração da pessoa, ela deixa de ser humana e a injustiça grassa (Gn 4,1-16). Enfatizou que Deus é o senhor da vida do início até o derradeiro suspiro e são justas as lutas para que todos vivam plenamente. “Enquanto houver um excluído, a justiça ainda não estará reinando”.

O povo se organizou e caminhou cantando, batucando, sorrindo, levando nas camisas, faixas e cartazes as variadas motivações para se resistir dia após dia na luta por moradia, trabalho, respeito às diversidades, educação, terra, justiça, tolerância…

Rejane Nascimento. Foto: Acervo pessoal

O sol já se despedia quando a caminhada chegou ao Poço da Draga. A criatividade e a arte se manifestaram na dança do toré, rap, canções populares que enalteciam a vida na periferia: “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela em que nasci, e poder me orgulhar e ter a consciência de que o pobre tem seu lugar”.

O Grito tem caráter profético, e ouvimos os clamores da Marcha das Mulheres sobre a questão do feminicídio. A Comunidade Raízes da Praia trouxe o impacto do projeto de dessalinização para Fortaleza; o Coletivo Rua relembrou as urgências das juventudes; o povo Anacé partilhando os conflitos para ter direito à terra…  

Esses e outros gritos em busca de direitos têm em comum a esperança que alimenta a resistência. A esperança de que um dia todos terão pão, terra, moradia (…) sem ter que abrir mão da poesia. Foi por esse viés duplo, denunciar o que já serve e anunciar o porvir da justiça, que essa edição celebrativa foi concluída com a leitura do livro do Profeta Isaías que descreve uma nova terra para todos. 

Confira imagens do Grito dos Excluídos e Excluídas em Fortaleza.

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