Foto: Luiz Fernando

Vamos nos despedindo de 2022, o ano que parece não acabar. O que aconteceu no último dia 12 de dezembro, ataques bolsonaristas em Brasília, com a conivência da polícia, foi um marco no ciclo de abusos e retrocessos de um governo forjado pelo que há de pior no cenário político brasileiro: a cultura do ódio, do armamento, da misoginia, do racismo, da intolerância religiosa, da homofobia. São os últimos dias de uma gestão extremamente perversa com as pessoas empobrecidas.

O Brasil está uma terra arrasada, povoada por muita miséria e violência. O novo governo eleito terá pela frente desafios que vão desde colocar comida no prato da população, até a administração de um orçamento desmantelado, além da retomada de processos democráticos no cenário político partidário.  Desde a sociedade civil, surge o apelo por um revogaço que viabilize a retomada do compromisso do país com a justiça social e com uma economia que favoreça a redistribuição da riqueza,  crescimento sustentável e as reparações das dívidas sociais. Mas é preciso lembrar que tempos de terra arrasada são também períodos de oportunidades e oportunismos. Nesse contexto, como vão se posicionar as lideranças políticas? Como a sociedade civil e movimentos populares irão se movimentar nesse cenário?

O ponto de partida do governo que terá início no dia 1º de janeiro de 2023 indica que os movimentos populares precisam continuar no processo organizativo, com esperança e sem ilusões.

Se por um lado temos o cenário inédito de uma extrema direita organizada, revoltada pela derrota nas urnas para a Presidência da República e inconformada com a entrega do centro do poder para o Partido dos Trabalhadores, por outro temos a esquerda tentando acomodar-se na gestão, às diferentes forças que contribuíram para a vitória de  Lula/Alkmin, às promessas feitas e expectativas geradas ao longo da campanha, junto ao povo que vive em situação de pobreza, com seus direitos subtraídos e junto às organizações da sociedade civil e movimentos. Ainda não é possível saber do que são capazes os partidários da extrema direita que esperneiam nas ruas, com atos violentos e vexatórios para a história da democracia no país. Como vão se portar daqui pra frente? Que nível de organização possuem?

O futuro, tanto do ponto de vista da esquerda que volta ao centro do poder, quanto da extrema direita que ocupará o posto de oposição, apresenta-se com algumas incógnitas. A resposta para tudo que já é possível observar e para tudo que ainda está em negociação virá da comunidade, da força organizativa do povo, do poder de crítica dos movimentos populares e da capacidade de escuta e diálogo do governo com esses setores.

É preciso que tenhamos um olhar estratégico para o orçamento público e sua relação com o sistema da dívida. Sem esse esforço não haverá como avançar nas transformações necessárias para termos um projeto popular para o país.

Segundo dados do Banco Central, a dívida interna brasileira está em R$ 7.292.000.00. A cada ano, são retirados bilhões do Orçamento da União para pagamento dos juros da dívida. O debate necessário, portanto, a partir de agora, deveria ser pautado na discussão de como a dívida é um instrumento de subordinação e submissão ao sistema financeiro e como esse sistema tem aprofundado as dívidas sociais no país.  

Na economia, já se vê a movimentação para o fortalecimento das Parcerias Público-Privadas (PPP), como já foi verbalizado em entrevistas pelo ministro nomeado Fernando Haddad, enquanto que os meios de comunicação já dão grande espaço para a pauta da instabilidade que será gerada pelo aumento dos gastos públicos, além de colocar em dúvida as medidas aventadas pelo novo governo.

Talvez, uma boa maneira de pensar o futuro seja lembrar de onde estamos vindo. O cenário geral se configura em uma barbárie do capital, para rebaixar o modo de vida de trabalhadores e trabalhadoras, com uma crise brutal do sistema, gerando um processo de desglobalização, a exemplo da disputa EUA x China e guerra na Ucrânia. No Brasil essa barbárie chega com o desmonte do estado democrático. Nesse cenário, a perspectiva do mercado é de crescimento abaixo de 1% em 2023.

Estamos com uma crise ambiental sem precedentes, mas o modelo de desenvolvimento empurra o capital para o cerrado e para a Amazônia. Somente medidas relacionadas à revisão da atual política econômica, ao fortalecimento de políticas públicas de ações de combate à fome e sustentabilidade alimentar, de sócio e agrobiodiversidade, à ações que garantam o respeito ao território dos povos originários e de incentivo à uma educação e saúde públicas de qualidade, serão capazes de trazer o país para um outro patamar de desenvolvimento, em sintonia com os desejos dos povos de nosso continente.

Diante de tantos desafios é preciso mais do que nunca fortalecer as comunidades territoriais e afetivas para termos a força e a inspiração para as lutas que seguirão. 

Não devemos, não pagamos!
Somos os povos, os credores!

Rede Jubileu Sul Brasil, 20 de dezembro de 2022.

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