O momento reuniu cerca de 80 mulheres dos seis territórios acompanhados na Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais

As participações se deram por meio online individualmente e em grupos reunidos nas comunidades e ocupações.

Por Natasha Cruz | Jubileu Sul Brasil

Aumento do desemprego e do trabalho precário; insegurança alimentar e fome; falta de moradia e habitação precária; difícil acesso à educação e à saúde e a exacerbação de diversas formas de violências configuram um quadro de degradação social que repercute de forma severa nas condições socioeconômicas, e, consequentemente, na qualidade de vida da população e, em específico, das mulheres.

Partilhar impressões e debater o contexto socioeconômico da vida das mulheres no Brasil foi o mote para o Segundo Seminário Nacional da Ação Mulheres por Reparação das Dívidas Sociais realizado no dia 20 de agosto.

Com a participação de mulheres de ocupações e comunidades das cidades de Fortaleza (CE), Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ), Manaus (AM), Porto Alegre (RS) e Belo Horizonte (MG), o momento foi iniciado com a exibição de dois vídeos.  “O Revés da Moeda – Economia e Solidariedade”, vídeo de 2016 produzido pelo Instituto PACS, entidade membro da Rede Jubileu Sul Brasil, que apresentara de forma didática o conceito de economia e como a população compreende esse conceito. Já a reportagem “Crise econômica deixa mulheres mais vulneráveis ao desemprego, à fome e à violência doméstica”, foi produzida e veiculada em junho de 2022 no Jornal Nacional, com foco no impacto da crise na vida das mulheres que sofrem violência.

Fio invisível

A partir da introdução dos vídeos as mulheres compartilham suas experiências do cotidiano, especialmente referentes à economia.

Articuladora Karla Monteiro, com mulheres reunidas na ocupação Alto das Antenas, em Belo Horizonte (MG).

“Quem de nós não viveu algum tipo de violência ou testemunhou? Desde os vídeos aos relatos sobre os perrengues que temos passado nos últimos tempos indicam que a gente se una sobretudo, nesse fio invisível que temos. Eu estou aqui em Goiás, tem gente em Porto Alegre, Manaus, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Rio de Janeiro e a gente está unida neste momento por um fio invisível, né? Que é esse fio que nos coloca nesse lugar de sermos mulheres. Temos os nossos companheiros que nos acompanham nessa luta, solidários, irmãos de caminhada, mas nós nos unimos nesse fio invisível. O a gente passa de violações de direitos aqui em Goiás, vocês que estão em Fortaleza também passam, com algumas características diferentes, mas a fonte é a mesma, é o patriarcado, é a exploração dos bens naturais é todo esse sistema do capital que nos coloca nesse lugar. Que rouba a vida da gente, mas somos fortes e resistentes e estamos aqui. E isso é um sinal que estamos fortalecidas, mas também temos as nossas baixas, também somos frágeis a gente também precisa assumir este lugar para que a gente seja cuidada”, apontou Alessandra Miranda, que integra a coordenação executiva da Ação Mulheres, ressaltando o entendimento comum que um dos principais caminhos de resistência encontrados para os períodos de crise é o do fortalecimento coletivo.

Mas como chegamos a esta situação? Porque ela se mantém? Para melhor entender e refletir sobre essas questões, as participantes também conversaram sobre o orçamento público e sua distribuição, prioridade orçamentária e dívida pública.

Reunidas, as mulheres conheceram um pouco mais a situação do orçamento público no Brasil

De acordo com dados sistematizados pela Auditoria Cidadã da Dívida referentes ao Orçamento Federal executado em 2021, o valor destinado para pagamento de juros e amortização da dívida equivale a 50,78% do orçamento total, enquanto para a política de habitação é de 0,0001%.

Entender o impacto da priorização orçamentária do pagamento de juros da dívida para banqueiros em detrimento de garantia de políticas públicas essenciais para a vida de milhões de pessoas ajuda a impulsionar a indignação e a revolta coletiva.

“Vivemos em uma ocupação sem água, luz, saneamento básico, calçamento… uma área completamente aberta. Mas estamos na luta. Não vamos desistir. Luta por nós, pelos companheiros e companheiras, pela comunidade em geral. Nós só nos achamos gente quando estamos na luta, se não tiver na luta não somos nada”.

Luciene, Ocupação Zona Vitória

Sabe-se que para as mulheres os efeitos da crise econômica têm sido mais graves, principalmente entre as mulheres pobres e negras. Ainda que, também para as mulheres, a gestão da economia familiar seja sua atribuição. Por isso, para a Ação Mulheres por Reparação das Dívidas Sociais, é tão importante estimular o conhecimento e as possibilidades de superação coletiva para as crises.

As iniciativas da Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais  ocorrem numa parceria entre o Jubileu Sul Brasil, 6ª Semana Social Brasileira (SSB) e Central de Movimentos Populares (CMP), com apoio do Ministério das Relações Exteriores Alemão, que garantiu ao Instituto de Relações Exteriores (IFA) recursos para implementação do Programa de Financiamentos Zivik (Zivik Funding Program).

As ações também integram o processo de fortalecimento da Rede Jubileu Sul Brasil e das suas organizações membro e contam ainda com apoios da Cafod, DKA, e cofinanciamento da União Europeia.

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