Adriana Gerônimo, moradora da Comunidade do Lagamar, em Fortaleza (CE), destaca a importância da luta coletiva por moradia, pois é o lugar da resistência

Da esquerda para direita: Louise Anne de Santana, Lila M. Salu e Adriana Gerônimo Vieira Silva. Foto: Sara Rosa

Por Osnilda Lima | Especial para JSB*

A narrativa por acesso à moradia e à justiça urbana, vem de sua luta palpável, cotidiana. Adriana Gerônimo é moradora da Comunidade do Lagamar, uma ocupação e uma das comunidades mais antigas da capital cearense.

O histórico de resistência, em especial das mulheres, é antigo frente à especulação imobiliária no local.  Nossa entrevistada é assistente social e co-fundadora da FavelAfro, Cooperativa de Mulheres Periféricas do Lagamar. Juntamente com Louise Santana e Lila M. Salú, o trio cumpre, como vereadora, o mandato coletivo Nossa Cara (PSOL), em Fortaleza.

Oficialmente, nos termos burocráticos” Adriana é quem ocupa o cargo, também, compõe a Frente de Luta por Moradia Digna, o Campo Popular do Plano Diretor e o Fórum Popular de Segurança Pública. Adriana nos conta o papel da mulher na luta por moradia, resistência e defesa do território.

Qual o papel das mulheres, na resistência nos territórios e na luta por moradia? 

As mulheres, sobretudo, as mulheres negras moradoras dos territórios periféricos e pobres, historicamente ocupam um lugar de liderança comunitária, na luta pela terra e por moradia digna. O papel dessas mulheres é histórico, inclusive garantiu o acesso à moradia que nós temos hoje. A luta por reforma urbana foi uma luta das mulheres. E o processo de resistência aos despejos, de luta para garantir terra, trabalho e moradia digna para ela e para sua família, é para além disso: é coletivo pensando para toda sua comunidade. As conquistas que nós temos hoje é fruto da luta conjunta de tantas mulheres que ocuparam terras, que lutaram por melhores condições de vida.

Por que é importante mobilizar-se coletivamente na luta por moradia e na defesa dos territórios?

Não existe luta se ela não for coletiva. Individualmente a gente não consegue cumprir a tarefa, nem chegar muito longe. As lutas populares são coletivas, isso porque existe a dinâmica da proteção. Quando a gente está juntos, a gente se protege, garante uma segurança coletiva. É muito importante por conta da força. Coletivamente a gente vira uma massa, a gente vira uma multidão, a gente consegue gritar alto, chamar atenção. Coletivamente a gente trama as lutas e as vitórias para a coletividade. Ela é importante porque protege, chega mais longe e porque a vitória é coletiva.

A Nossa Cara sofre perseguição por posicionar-se contra os despejos. O que move o trio nessa luta?

Exatamente! A gente já sabia que esse nível de perseguição poderia acontecer, visto que a cidade de Fortaleza é muito desigual, e sendo desigual, muitas vezes o município anda de mãos dadas com as grandes construtoras. Isso nunca foi segredo para ninguém. Então, é horrível que empresas que têm contratos, às vezes milionários com a prefeitura, realizem despejos violentos e isso não gere nenhuma responsabilização. O que nos move nessa luta, e a luta por justiça urbana. A gente não pode viver numa capital rica, que arrecada muita grana, e a gente só ter cidade para os ricos. O que nos move nessa luta é a justiça! A gente quer terra para todo mundo, a gente quer as pessoas morando de maneira digna, com condições de trabalho para manter sua casa e sua família. A gente quer que as mulheres grávidas, as mulheres mães, as mulheres negras não passem por despejos violentos, mas que nossa cidade possa investir em habitação de interesse social. Isso não é utópico! Deveria ser prioridade das gestões. Moradia é um direito previsto na constituição. 

Qual sua mensagem às mulheres que lutam por moradia e defendem seus territórios?

Foto: Elena Meireles

A mensagem da Nossa Cara, às mulheres que lutam por moradia pelo Brasil todo, é de muita força e de muita esperança. Essa esperança nos move! Nós mesmas fazemos o Brasil que a gente quer para nós, para nossos filhos. Eu, enquanto uma mulher-mãe, uma mulher-negra, periférica, que mora também numa ocupação, digo: resistam! Não abram mão de lutar! A gente tá juntas! Estamos mostrando que é possível pensar moradia digna, habitação de interesse social, de maneira igualitária, justa, para todas as pessoas. Sobretudo, para àquelas que historicamente são esquecidas pelas políticas públicas. E aí a gente foca na política por moradia. A gente sabe, ter um teto nos livra de muitas violências. Seja quando a mulher passa por violência doméstica, seja quando ela é despejada por conta que não tem como pagar o aluguel. Uma casa nos protege. Então vamos resistir! Uma emana força e exemplo para a outra, para que a gente esteja cada vez mais unida por uma sociedade justa, por justiça urbana e por casa e moradia digna.

*A entrevista foi publicada originalmente na Revista Sinergia Popular, acesso todo conteúdo no link abaixo:

 

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