Já se passaram mais de 8 anos de uma operação militar completamente injustificada, uma verdadeira ocupação que, sob o nome de Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haití (MINUSTAH) e sob mandato da ONU, viola a soberania de um país-irmão com milhares de tropas das Forças Armadas de nossa região e também do resto do mundo

Essas forças de ocupação foram enviadas em 2004, logo após o golpe de Estado provocado pelos Estados Unidos, em conjunto com outras potências. Estão em solo haitiano em prol de interesses alheios aos direitos humanos do povo, a serviço dos interesses das empresas multinacionais que buscam saquear os recursos e a força de trabalho haitiana.

Essa ocupação, sustentada pelo pretexto de que a MINUSTAH seria melhor do que uma ocupação direta norte-americana, mostrou seu verdadeiro rosto após o terremoto de 2010, quando permitiu, com docilidade, a entrada de 22 mil soldados dos Estados Unidos no Haiti, que tomaram o controle de todo o país e seus centros nevrálgicos.

No dia 15 de outubro pretende-se estender o mandato da ocupação, continuando com o absurdo argumento de que o Haiti –um povo empobrecido, com centenas de milhares de habitantes ainda vivendo desabrigados, dois anos após o terremoto– seria “uma ameaça à segurança do mundo”. O Secretário-geral da ONU recomenda que a ocupação continue por, pelo menos, cinco anos mais.

Aqueles abaixo assinados se pronunciam pela retirada imediata das tropas militares do solo haitiano e pela não renovação do mandato da MINUSTAH.

Não se pode seguir avalizando uma operação que está longe, inclusive, de haver cumprido com sequer os objetivos falsamente “humanitários” a que se propôs: viola a segurança da população em vez de protegê-la; acaba de gerir as eleições menos participativas e mais fraudulentas dos últimos tempos; os direitos humanos da população estão a cada dia mais precarizados e a economia está sendo entregue à interesses estrangeiros, ao passo que o custo de vida, a possibilidade de trabalho e salários dignos estão cada vez mais distantes das maiorias populares.

Nesses oito anos, a MINUSTAH também tem sido responsável pelo estupro de mulheres, meninas e jovens pelos soldados das tropas de vários países – que ainda continuam impunes – e pela introdução da cólera, provocando 7.440 mortes e mais de 580 mil infectados até o mês de Júlio deste ano; uma epidemia que ainda persiste – segundo cifras da ONU.

A MINUSTAH atua no Haiti à serviço dos interesses dos países poderosos e contra os interesses e necessidades do próprio povo haitiano, como ficou demonstrado pela repressão que desencadeou sobre os protestos contra a fome em 2008, assim como contra as lutas salariais, que deixaram dezenas de mortos.

O povo haitiano nãoprecisa de soldados e armas estrangeiras. Precisa da solidariedade dos nossos países, expressa em alimentos, medicamentos e missões de ajuda sanitária, de engenharia, educativa e humanitária, dispostas a trabalhar de braços dados com esse povo, em apoio a seus planos e propostas. Isso não chegará pela mão de tropas militares.

Cabe ressaltar que, durante estes 8 longos anos, o povo haitiano, em sua imensa maioria, tem se pronunciado de várias formas contra esta presença militar estrangeira. Há um ano, o Senado do Haiti votou por unanimidade pela sua retirada antes de outubro de 2012. E desde muito tempo tem havido pronunciamentos e ações de um espectro cada vez maior de movimentos e organizações de todo o continente, em coordenação com seus contrapartes no Haiti, solicitando a retirada da MINUSTAH.

Por todas essas razões, as entidades e pessoas que assinam esta carta se pronunciam pelo imediato fim da presença de tropas da MINUSTAH no Haiti e por seu retorno a seus países. Pela adoção, por parte dos países de nossa região, de uma nova política coordenada de verdadeira cooperação e solidariedade com o povo-irmão haitiano.

Primeiras assinaturas: Jubileo Sur/Américas- Asociación Americana de Juristas- ARGENTINA: Diálogo 2000- BRASIL: Rede Jubileu Sul Brasil, PACS, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), CSP-CONLUTAS- Justiça Global, Associação de Favelas de São Jose dos Campos, Casa da América Latina, Sindicato dos Professores de Nova Friburgo e Região, Partido Comunista Brasileiro (PCB), União da Juventude Comunista (UJC), Unidade Classista (UC), Fundação de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais Dinarco Reis (FDR), Ivan Pinheiro, secretário geral do PCB, Heitor Cesar Oliveira, membro do Comitê Central do PCB, Virgínia Fontes, historiadora UFF/Fiocruz RJ, Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves, Universidade Estadual de Goiás/UEG, Diva Borges Noronha, Marlene Soccas, Veridiana Moreira- Yuri Vasconcelos da Silva – Coordenação Nacional da União da Juventude Comunista (UJC) e Direção do Movimento de Ação Popular (MAP)- COLOMBIA: Corporación Mujeres y Economía- CUBA: Centro Memorial Martín Luther King Jr.- CHILE: Colectivo VientoSur, Marcha Mundial de las Mujeres- HONDURAS: Consejo Cívico de Organizaciones Populares e Indígenas de Honduras, COPINH- MEXICO:Otros Mundos AC/Amigos de la Tierra- NICARAGUA: Movimiento Social Nicaragüense “Otro Mundo es Posible”- PARAGUAY: CONISE, Roberto Colmán vicepresidente del Partido Popular Tekojoja- PUERTO RICO: Grito de las/os Excluidas/os, Comité Pro Niñez Dominico-Haitiana, Proyecto Caribeño de Justicia y Paz, Mujeres Solidarias y Amorosas con Haití (MUSAS).

Adhesiones: jubileosur@gmail.com

Deixe um comentário