Por Fausto Salvadori, da Ponte
Com golpes de cassetete na cabeça, seguranças agrediram dois irmãos nigerianos e uma mulher camaronesa; ‘vocês não são brasileiros’, teriam dito, segundo as vítimas.
Falando em um português hesitante, o estoquista Shakiro Akanbi, natural da Nigéria, tinha dificuldades para encontrar palavras capazes de dar conta da agressão que havia sofrido nas mãos dos seguranças da estação República do Metrô, no centro da cidade de São Paulo, no final da noite desta sexta-feira (28/9).
“Eu não sei o que aconteceu. Vi meu irmão na chão. Eu voltar. Eu falar: ‘o que acontece?’. Ele [o segurança] estava atrás de mim, por isso eu caí no chão. Ele começou a bater. Uma mulher perguntou: ‘o que acontece?’. Ele bate nela. Nós não fez nada. Nós tem vídeo”, contou Shakiro em uma transmissão ao vivo, na madrugada de hoje, realizada no Facebook pelo modelo e artista Petro Santos, que testemunhou as agressões.
“Ele bateu em nós. Olha meu cabeça”, disse Shakiro, mostrando os cortes na cabeça e a roupa manchada de sangue. “Qualquer preto que passou, eles batendo. Falaram: ‘você é trouxa, não é brasileiro’”, completou. Além dele, testemunhas da cena também afirmaram que os seguranças foram motivados por racismo. No vídeo gravado por um passageiro do metrô, é possível ouvir as críticas a um segurança negro que participou das agressões: “você é negro também, tem que proteger o pessoal que é da sua raça, isso é uma afronta”.
Com golpes de cassetete, os seguranças machucaram pelo menos três pessoas, todas negras e migrantes de origem africana. Os irmãos nigerianos Shakiro e Ulabin Akanbi, que trabalham como estoquistas em Embu das Artes, na Grande SP, contam que foram os primeiros a serem agredidos, após um desentendimento com os seguranças na entrada do metrô. Segundo eles, o bilhete de um dos irmãos não passou na catraca, por falta de saldo, e um dos seguranças tentou impedir que um deles passasse o seu bilhete para ajudar o irmão. Começou uma discussão, concluída com golpes de cassetete nas cabeças dos dois estoquistas.
Com um curativo na testa, a cabeleireira Judith Caielle, de origem camaronesa, contou que nem conhecia os dois irmãos e que foi espancada apenas por ter se aproximado para ver o que acontecia. “Parei para ver o que estava acontecendo. Esse daqui [Shakiro] saiu já com sangue. Falei: ‘nossa!’. Tomei um susto. Na hora, o segurança veio direto na minha direção e me acertou”, contou Judite. Segundo ela, o funcionário do Metrô parecia fora de si. “O cara saiu igual um bicho.”
Judite e Shakiro | Foto: Reprodução/Facebook
Durante a madrugada, as vítimas e os seguranças registraram boletim de ocorrência na Delpom (Delegacia de Polícia do Metropolitano). Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública do governo Márcio França (PSB), a Polícia Civil está investigando caso, que chamou de “tumulto”.
“Na ocasião, três pessoas foram conduzidas à delegacia, ouvidas e liberadas. Os envolvidos foram orientados quanto ao prazo decadencial de seis meses para representação. O caso será apurado por meio de inquérito policial pela 6º Delegacia do Metropolitano”, afirma a nota da SSP.
Outro lado
A assessoria de imprensa do Metrô lançou uma nota em que ignora as violências contra os migrantes, afirmando que eles foram apenas “contidos” pelos seguranças e mencionando apenas uma agressão, praticada contra um de seus funcionários.
Na madrugada deste sábado, 29, por volta de 0h, na estação República, três indivíduos foram contidos e encaminhados para a DELPOM (Delegacia de Polícia do Metropolitano) pelos agentes de segurança em serviço no local depois que um deles agrediu um funcionário. Este indivíduo agressor tentou embarcar usando irregularmente um Bilhete do Idoso. A ocorrência está sendo investigada pelas autoridades policiais.