Atuação conjunta entre Rede Jubileu Sul e Coletivo Dandara fez parte da Semana de Ação Global Contra a Dívida e as Instituições Financeiras Internacionais (IFIs)
Reivindicando a anulação, cancelamento e o não pagamento das dívidas e com uma série de atividades programadas, a Semana de Ação Global, que ocorreu do dia 10 ao 17 de outubro, foi uma resposta às deliberações do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, organizações que estiveram reunidas no mesmo período.
A programação colocou em destaque os povos e a natureza, em busca de marcar a presença e torná-los protagonistas e principais vozes de seus territórios. Entre as atividades, foi realizada a ação conjunta da Rede Jubileu Sul Brasil com o Centro Dandara de Promotoras Legais Populares, de São José dos Campos, que construiu uma série de eventos em prol da defesa à vida das mulheres.
O Centro Dandara abordou o tema da dívida e suas consequências para as mulheres. Em São José dos Campos, foi realizada oficina de caracterização da “Exposição 16 Penhas: Controle Social | Pela Vida das Mulheres!”, na Praça Afonso Pena, antiga Câmara Municipal, em parceria com o Instituto Lélia Gonzalez e Coletivo de Juristas Feministas.
Essas oficinas de caracterização já eram parte das ações do Centro Dandara desde 2008. Consistem em 16 corpos mulheres talhados em madeira, feitos a partir de uma vivência na Casa Ângela (São Paulo) por um grupo de Promotoras Legais Populares – PLPs.
O nome é uma homenagem à luta de Maria da Penha Fernandes, e o total de 16 peças é alusiva à Campanha 16 + 5 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres, realizada desde 2003 no Brasil e em mais de 153 países, sempre entre os dias 20 de novembro a 10 de dezembro, da qual o Centro Dandara e outras instituições brasileiras foram responsáveis, em 2006, tendo como principais protagonistas da campanha as Promotoras Legais Populares de São José dos Campos. O nome da intervenção “Controle social | Pela Vida das Mulheres!” é também o tema adotado pelo Centro Dandara para o desenvolvimento de ações ao longo de todo este ano.
Devido à pandemia, o máximo de cuidado e prevenção foram tomados pelas organizadoras, com agendamento de horários e limite na participação simultânea de ativistas.
Parceria pelos direitos das mulheres
Segundo Marcela de Andrade, representante da Centro Dandara e Membro do Coletivo de Mulheres do Jubileu Sul Brasil, essa foi apenas entre as várias ações realizações em conjunto com a Rede:
“Estamos em parceria já faz tempo, mas nossa atuação no projeto se dá via ‘Nós mulheres, na luta por direitos| Rota Crítica das Mulheres em Situação de Violência em São José dos Campos’ e estamos trabalhado o ‘Projeto PLP 20 anos| São José dos Campos’, assim como a realização do ‘Fórum Municipal dos Direitos da Mulher | Direitos Sexuais e Reprodutivos’”, completa.
A ativista lembra que a pandemia alterou todos os projetos do Centro Dandara, motivando o coletivo a incluir o Projeto Promotoras Legais Populares 20 anos que estavam programados na proposta do projeto, em outra dinâmica, ainda mais complexa com a necessidade do distanciamento social. “Nós já tínhamos uma ação com o tema, mulheres e suas reproduções sociais em tempos de pandemia. Aproveitamos esse tema para trabalhar a atividade agora já dentro do projeto da Ação de Fortalecimento”.
Marcela ainda destacou o trabalho conjunto com o Instituto Lélia Gonzalez e com o Coletivo de Juristas Feministas, “Nós aqui do Centro Dandara trabalhamos muito juntando outros coletivos, porque sozinho não se consegue nada”, ressalta.
Para ela, o incentivo da Ajuda a Terceiros, pelo Jubileu Sul Brasil, fez com que os coletivos pudessem demonstrar todos o seu potencial de mobilização. “Trabalhar com um projeto com essa ajuda financeira nos diz o quanto conseguimos fazer, realizar, e que só precisamos de um pouco de ajuda para a seguir em frente em nossa luta. Há muita capacidade de produzirmos material, porque temos muito conteúdo, muita história, muita vivência diante das muitas situações para articular política para as mulheres. Hoje temos um material que é muito elogiado, apesar de ser muito pesado, de ser triste de assistir”, completa.
Ambas organizações consideram a mulher negra como a parte da população mais prejudicada pela atuação dos bancos internacionais e criticam a cobrança de uma dívida que não deve ser reconhecida como nossa, como explica Rosa Miranda, do Instituto Lélia Gonzalez.
Uma das responsáveis pela organização da “Exposição 16 Penhas”, Rosa avalia que “o resultado da dívida externa brasileira impacta diretamente na vida da população mais pobre e preta. As mulheres negras são as mais afetadas, pois estão diretamente marcadas pelas situações de vulnerabilidade, são as mais atingidas pelo machismo e pela violência doméstica, além de serem afetadas pelos menores salários”.
Ela ainda retoma a discussão da má distribuição na carga de impostos na sociedade brasileira. “As mulheres negras representam mais de 55,4 milhões da população brasileira, que segue em luta por direitos básicos como saúde, educação, moradia, trabalho, cultura e lazer. As mulheres negras são as que mais pagam impostos de forma proporcional. Não estamos na base social apenas como força de trabalho e maioria da população, somos as que pagam mais tributos e, assim, sustentamos esta república”, finaliza.