Levantamento inédito revela que não houve denúncias, menções ou investigações da Lava Jato para PCO e PSTU, dentre os 35 partidos brasileiros. Cinco partidos tiveram filiados já condenados na operação
A Operação Lava Jato atingiu 33 dos 35 partidos políticos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), desde que iniciou suas operações. Apenas PCO e PSTU passaram ilesos, sem que nenhum filiado fosse citado, investigado, denunciado ou condenado na maior investigação contra corrupção realizada no país.
Cinco partidos já tiveram pelo menos um membro condenado na operação: MDB, PP, PT, PTB e Solidariedade (SD). E 13 contaram com pelo menos um filiado preso temporariamente, denunciado ou investigado pela força-tarefa: Avante (antigo PTdoB), DEM, PCdoB, PDT, PMN, PPS, PR,PRB, PSB,PSD, PSDB, PSL e PTC.
Apesar de entrarem na mira da Operação, as denúncias envolvendo estes partidos não foram confirmadas por sentença judicial. É o caso de Cândido Vacarezza (Avante), que não foi condenado, mas foi preso temporariamente em agosto de 2018, na operação batizada de Abate, por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro.
Dos 35 partidos políticos brasileiros, 15 tiveram membros citados nas investigações ou delações, sem terem sido de fato denunciados formalmente. O fato de algum político ou filiado ter sido citado em algum momento da Lava Jato não quer dizer que eles foram réus e muito menos que cometeram atos ilícitos comprovados.
Nesta categoria, há casos diversos, que vão desde acusações envolvendo caixa dois, a possíveis recebimento de propina em obras públicas e situações onde o partido teria sido delatado por receber dinheiro para apoiar candidaturas. Nela, identificamos os seguintes partidos: DC (antigo PSDC), Novo, Patriota (antigo PEN),PCB, PHS, PMB, Podemos (antigo PTN), PPL, PROS, PRP, PRTB, PSC,PSOL, PV e Rede.
Dados de agosto deste ano apontam que a Lava Jato resultou em 78 acusações criminais contra 328 pessoas em quatro anos de investigação. Dessas, 43 já foram sentenciadas por crimes como corrupção, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro durante a operação, cujas etapas primordiais foram iniciadas em 2009, segundo o Ministério Público Federal (MPF).
O levantamento inédito foi realizado ao longo de um mês pelo Truco nos Estados, projeto de checagem de fatos da Agência Pública, realizado em sete unidades da federação.
Durante debate no Ceará, em agosto, o candidato General Theophilo (PSDB) disse que em “todos os partidos hoje […] existe gente na Lava Jato”, fazendo menção a seu adversário Ailton Lopes (PSOL). Antes, Theophilo havia citado o caso da ex-deputada estadual Jandira Rocha, que presidiu a sigla no Rio de Janeiro, que foi denunciada por improbidade administrativa, porém este caso não tem relação com a operação Lava Jato.
Conforme o levantamento, o PSOL teve quatro filiados citados na operação. Três foram mencionados em delações da Odebrecht. É o caso de Paulo Rubem Santiago (ex-PDT e atualmente no Psol-PE) que, segundo delação, recebeu repasse de R$ 76 mil para sua campanha à Câmara Federal em 2010. Clécio Luís Vilhena Vieira e João Paulo Rillo também foram citados por supostamente terem recebidos quantias para campanhas políticas nas eleições de 2012.
Leonel Brizola Neto, também do Psol, contava na chamada Lista Fachin. O nome dele recebe menções por pagamento em inquérito que investiga pagamento de propina ao ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, por obras para as Olimpíadas.
Filiado do Novo repassou dinheiro para empresa de Youssef, segundo MPF
O levantamento revelou ainda o envolvimento de partidos recém-criados na operação. É o caso do partido Novo. Por meio de cruzamento de dados, foi identificado o empresário Demetrius Rios Lyrio, que foi mencionado em 2016 no processo onde o Ministério Público Federal denuncia Alberto Youssef, e é filiado no Espírito Santo ao partido de João Amoedo desde fevereiro deste ano.
O caso em que o empresário é citado envolve crimes de lavagem de dinheiro ou ocultação de bens oriundos de corrupção, mas Demetrius Rios Lyrio não foi réu e o processo em que ele foi citado já foi concluído.
Além de ser mencionado no processo, Demetrius Rios teve seu sigilo bancário quebrado, pois foram identificados repasses de sua conta corrente para a CSA Project, empresa de fachada pertencente a José Janene e Alberto Youssef.
Ao Truco, Lyrio confirmou a filiação ao partido Novo. Disse que não tem pretensões políticas, mas não descarta a possibilidade de ocupar um cargo público. Disse ainda que a operação Lava Jato é positiva para o país. Quanto ao processo em que foi citado, limitou-se a comentar: “Tive o sigilo quebrado, mas nunca houve nada, sequer fui notificado e intimado pela Justiça”.
Como foi feito o levantamento?
Durante a pesquisa, foram feitos cruzamentos de base de dados massivas, pesquisas a fontes públicas e investigações próprias. Como seria inviável fazer um levantamento exaustivo da situação judicial de cada filiado em particular, checamos se, em cada partido, houve pelo menos um caso onde algum filiado foi citado, investigado, denunciado ou condenado ao longo da operação.
Além de consultar fontes públicas, a checagem consolidou uma base de dados de filiados a partidos do TSE e cruzamos com diferentes outras listas relacionadas à Lava Jato, como os nomes dos 333 denunciados do Ministério Público Federal (MPF-PR), referente a agosto de 2018.
Também utilizamos o levantamento do Lava Jota, realizado pelo portal Jota, que agrega todas as pessoas citadas, investigadas, denunciadas ou condenadas, a partir de centenas de processos que compõem a Operação Lava Jato até setembro de 2017. E a lista da Justiça Federal do Paraná (JFPR), atualizada de setembro deste ano, que conta também com os nomes de todos os denunciados.
Também foram levados em consideração levantamentos prévios realizados pela imprensa. Afastados casos homônimos, após o cruzamento com as diversas listas citadas, a conclusão é que apenas o PCO e PSTU jamais tiveram filiados com qualquer tipo de envolvimento ou citação ao longo da operação Lava Jato.
Em nota, o Ministério Público Federal explicou que não informa nomes dos investigados. Ou seja, é possível que existam hoje filiados sendo investigados, mas cujos nomes ainda não vieram a público.