“Desigualdade gera violência… Matam as mulheres, o povo LGBT,
a juventude, o povo pobre, o povo negro, o povo índio… Tem que parar!
A Vida em primeiro lugar… Resistência para mudar!!!”
(Do Hino do Grito dos Excluídos/as 2018)
Para refletir a caminhada e continuar a construção do 24º Grito dos Excluídos/as, 40 representantes locais e 16 Estados do Brasil estiveram reunidos de 27 a 29/04, em São Paulo, no 20º Encontro Nacional dos Articuladores/as. Da região Norte participaram: AM, RR, RO e PA; Nordeste: PE, BA, MA, PI, CE e SE; Centro-Oeste: MS; Sudeste: MG, RJ e SP; Sul: SC e PR.
A partir do lema do Grito 2018: “Desigualdade gera violência. Basta de privilégios! ”, e o tema “Vida em primeiro lugar”, os participantes discutiram a conjuntura político-econômica-social e eclesial do país, foram
chamados a repensar e ressignificar o Grito, bem como a traçar estratégias de ação e de comunicação.
“O Grito é pura comunicação”
Esta foi uma das conclusões a que se chegou após a oficina de comunicação ministrada por Fabiano Viana. Os participantes se dividiram em grupos por temas referentes às ferramentas que podemos dispor para a divulgação do Grito, antes, durante e depois: Site oficial, Mídias Sociais, Audiovisual/TV, Rádio, Impresso e Assessoria de Imprensa. Durante o encontro construíram o planejamento de comunicação do Grito 2018, que deverá nortear as ações em nível nacional, de acordo com as realidades locais.
A partir do levantamento dos problemas apresentados pelos articuladores de todo o país, o professor e economista, Plínio de Arruda Sampaio Júnior, destacou o aumento da violência em todos os planos no
mundo todo e a necessidade de se buscar a raiz do problema. O capitalismo mundial, disse o economista, apresenta três características: o desemprego estrutural, com o aumento da pobreza; a incontrolabilidade do capital, o Estado é estrutura de comando da burguesia; e a crise ambiental.
Segundo ele, no Brasil vivemos uma crise social e política profunda, em que o Estado, vassalo do capital, começa a degringolar. “Trata-se de um processo de reversão neocolonial, de redução sistemática do padrão
mínimo que a sociedade brasileira conquistou a duras penas. Pela ótica do capital, estamos em crise; pela ótica do trabalho, vivemos a barbárie, que se expressa, entre outros elementos, pela naturalização das desigualdades sociais e o aumento da hipocrisia”.
Para Plínio devemos buscar a raiz do problema na perspectiva de classe, enfrentando a fundo a segregação social e a dependência externa, que caracterizam o capitalismo no Brasil. O que, afirmou, não aconteceu
nos governos, denominados populares, de Lula e Dilma. “O enfrentamento ao autoritarismo é na rua, não com frente eleitoral de uma ordem moribunda. O grito é de denúncia da barbárie, que é inaceitável e exige
mudança estrutural. A hora é de pensar o novo, falta um programa para a classe e uma conversa boa é explosiva”, assegurou.
24 anos gritando, quem nos ouviu?
Essa foi a questão que norteou a fala da teóloga Ivone Gebara, que alertou para a necessidade de se ressignificar o Grito dos Excluídos/as. “Eu só ouço aquilo que eu quero ouvir, assim como os gritos deles não
repercutem na nossa ética, os nossos gritos batem na parede e voltam, não tem ecos”. Justificou Gebara, lembrando que os governos e autoridades para quem gritamos não atendem as reivindicações. Por isso, o Grito deve mudar o seu rumo, já que a função real do Estado brasileiro é favorecer os
30% de cidadãos endinheirados.
Para gritar tem que refletir, tem que estudar o seu grito, “não basta gritar palavras de ordem que perderam seu significado”. Gebara apontou para necessidade de se formar grupos de estudo para organizar o Grito,
respeitando as contingências da vida, sair das pré determinações que impõem planos e visões. Segundo a teóloga, é difícil fazer a unidade numa diversidade tão grande expressa na fragmentação dos partidos, da esquerda, da Igreja.
“Temos que acolher o fato de que o nosso corpo está despedaçado”. Por isso precisamos ressignificar o Grito, que não quer dizer resignar-se, mas dar um significado novo, mudar as formas de gritar. Apesar da dificuldade de reunir um corpo despedaçado, há pontos de convergência que nos une, ressaltou Ivone Gebara. O Evangelho, por exemplo, amar o outro como a si mesmo, a dor de um deve ser a dor de
todos, embora vivamos em um caldo cultural profundamente individualista. “O que nos une é a ação concreta, estamos em um momento de entressafra, em que o velho não morreu e o novo não nasceu, momento de purgatório de nossas crenças ingênuas”.
Rodas de Conversa
Divididos em grupos, os participantes do encontro produziram também o subsídio Rodas de Conversa que deverá orientar os debates e reflexões do Grito 2018 nas mais variadas localidades e espaços por todo o
país. Os textos foram pensados a partir dos três eixos: Democracia e Direitos; Privilégios/Privilegiados/as e Violência.
Ao final do encontro foi aprovada uma nota de repúdio ao processo de criminalização e ameaças por parte dos latifundiários e agronegócio e à prisão de Padre Amaro Lopes de Souza, sacerdote da CPT – Prelazia do
Xingu, no Pará.
NOTA DE REPÚDIO
“Desigualdade gera violência. Basta de privilégios!”
Nós Articuladores/as Nacionais do Grito dos/as Excluídos/as, representantes de Sindicatos, Movimentos Sociais e Instituições religiosas repudiamos todo o processo de criminalização e a prisão de Padre Amaro
Lopes de Souza, que se constitui como atendimento as demandas do Latifúndio no Pará e desmoralização/destruição de todo trabalho realizado pelo sacerdote através da CPT – Prelazia do Xingu.
Este atentado representa de maneira direta a perseguição aos trabalhadores e trabalhadoras, aos
defensores/as de Direitos Humanos, aos Movimentos Populares e à luta incansável do povo contra a injustiça e a violência. Nosso Grito em 2018 é contra todas as formas de Violência, Padre Amaro é defensor da vida e do direito dos trabalhadores e trabalhadoras rurais na região de Anapu, na luta por terra, na preservação da floresta e aguas da Amazônia.
Outros defensores já foram assassinados: Ir. Dorothy, o casal ambientalista José Claudio e Maria do Espírito Santo, as lideranças do campo, Doutor Fusquinha, Dezinho, também os mortos na chacina de Pau d’Arco, reflexos da dimensão absurda da violência existente na região. Padre Amaro é constantemente ameaçado de morte por parte de fazendeiros que ocupam ilegalmente terras públicas no município de Anapu. O ódio dos fazendeiros contra ele e a CPT é devido ao apoio dado aos trabalhadores/as rurais na conquista de terras. Padre Amaro não responde a nenhum processo criminal, o que está em curso é apenas uma
investigação policial, é absurda sua prisão preventiva.
Estamos juntos/as na defesa de Padre Amaro e contra todas as injustiças impostas pela “justiça” dos latifúndios e agronegócio, que realiza e dissemina destruição de vidas e esperanças de Trabalhadores e
Trabalhadoras no Pará e em outros lugares do Brasil. Nossa Voz não poderá ser silenciada “Vida em Primeiro Lugar!”.
São Paulo, 29 de Abril de 2018
Articuladores/as do Grito dos/das Excluídos/das.