Luana Almeida - CESE (12)
Foto: Luana Almeida

Por Luana Almeida, de Salvador (BA)
“Vocês vêm pra cá porque vocês sabem que a gente não pode matar aqui. Mas a gente pega vocês aqui, leva pra lá [Subúrbio] e mata.” Essa foi uma das histórias que Nora Cortiñas, cofundadora da Associação Mães da Praça de Maio da Argentina, ouviu de Sandra Coelho, coordenadora estadual do Movimento Sem Teto da Bahia (MSTB), durante visita à Ocupação IPAC III – Pelourinho, dentro da programação de ontem, dia 12 de julho, da Jornada de Direitos Humanos e Democracia. Com lágrimas nos olhos, a memória de Sandra volta ao momento em que fazia a ocupação de um prédio no centro há dez anos e recebeu a ameaça de uma sargento. A história revela a Nora a realidade de gentrificação do Centro Histórico de Salvador.
Sandra Coelho ainda reforçou durante a conversa o protagonismo das mulheres na luta por direito à moradia. “Somos nós que sentimos a força da bala, a gente que vai pra frente de polícia, pra frente da bala”. E emenda o hino: “Pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer, participando sem medo de ser mulher!”
A comitiva seguiu para o pátio da Igreja do Rosário dos Pretos para Roda de Diálogo com diversas organizações e movimentos sociais, como Levante Popular da Juventude, Odara – Instituto da Mulher Negra, Amacha – Amigos da Chácara Santo Antonio, Quilombo Rio dos Macacos, comunidade Guerreira Zeferina (mais conhecida como Cidade de Plástico). Um minuto de silêncio foi feito em homenagem a ex-ministra Luiza Bairros, liderança do movimento negro falecida nesta terça-feira (12).
Nora Cortiñas fez a saudação inicial aos presentes e destacou a luta que a move: o desparecimento de seu filho Gustavo há 40 anos, durante a ditadura militar na Argentina. Maura Cristina (MSTB) faz uma ponte com a realidade soteropolitana, explicando o genocídio da juventude negra. “Como aconteceu com seu filho, mães aqui fazem a mesma coisa. Temos números de guerra”, explica a militante.
A escolha do local para a Roda, nesse sentido, não poderia ser mais apropriada, já que a Igreja simboliza a resistência do povo negro em Salvador.
Ana Paula Rosário, do Odara, exemplifica essa realidade de genocídio lembrando do assassinato dos 12 jovens no Cabula, que é vista como aceitável por parcela expressiva da população e visto como um “gol de placa” pelo governo do Estado (enaltecendo a atuação da Polícia Militar).
“Quem deveria nos proteger é quem nos mata”, atesta Nildes Sena do Amacha, acertando em cheio na frase para explicar o racismo no Brasil: “aqui é preciso entender que ser preto e branco faz diferença sim”.
Performances poéticas de movimentos e grupos culturais e mesa de café da tarde ainda marcaram a programação de terça (12) da Jornada de Direitos Humanos e Democracia com Nora Cortiñas.
Confira a programação da semana abaixo:
13/07 – quarta-feira
9h – Universidade Estadual da Bahia
Cabula – Encontro e entrega de comenda Honoris Causa a Nora Cortiñas
14h – Cabula – Roda de Conversa promovida pela Aduneb com participação de movimento de mulheres
14/07 – quinta-feira
13h30 – Campo da Pólvora – Homenagem às vítimas das ditaduras
15h30 – Forte Barbalho – Plenária Popular
15/07 – sexta-feira
Dia livre
16/07 – sábado
8h30 às 9h30 – Encontro com as Pastorais Sociais o Convento São Francisco (Pelourinho)
17/07 – domingo
Retorno para Argentina
A atividade é uma realização da rede Jubileu Sul Brasil, Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul (PACS) e Jubileu Sul/Américas. Conta com o apoio da ADUNEB, UNEB, UFBA/Pró-Reitoria de Extensão, MSTB – Guerreiras Sem Teto, CEAS, CESE, CÁRITAS Brasileira e Regional Nordeste 3, Pastoral da AIDS, SINDIPETRO, MST, LPJ, ODARA- Instituto da Mulher Negra,  GTNM-BA, Quilombo Rio dos Macacos, AMACHA – Amigos da Chácara Santo Antonio, Vida Brasil, CPP e Movimento Médicos Pela Democracia.

Deixe um comentário