“As mudanças climáticas não são uma ‘questão’ a ser somada à lista de coisas com as quais se preocupar, ao lado de creches e impostos (…). São antes a convocação para um despertar civilizacional. Uma mensagem poderosa – falada na linguagem de incêndios, enchentes, secas e extinção –, dizendo que precisamos de um modelo econômico inteiramente novo e uma nova maneira de partilhar este planeta. Dizendo que temos de evoluir”.
A afirmação acima, feita pela jornalista e ativista canadense Naomi Klein, em seu livro “Isso muda tudo: capitalismo versus meio ambiente”, é precisa ao direcionar os problemas ambientais dos nossos dias ao modo de produção capitalista e, ao mesmo tempo, apontar que alternativas efetivas devem passar pela construção de outras dinâmicas de produção e consumo.
É esse binômio – denúncia dos impactos ambientais do modelo em curso e, ao mesmo tempo, anúncio da necessidade e possibilidade de outro projeto coletivo de relação com a natureza – que move o trabalho de articulações da sociedade civil brasileira.
Enfrentar a problemática da desertificação é essencial
Uma dessas tranças de coletivos é o Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental , que se autoconceitua como “uma articulação de entidades, pastorais e movimentos sociais que atuam em rede para gerar consciência crítica e enfrentamento em relação a tudo que causa o aquecimento da Terra e vai tornando mais perigosas as mudanças climáticas, de modo especial para os povos, comunidades e pessoas que as sociedades capitalistas jogam na marginalização e na miséria”.
Com atuação em âmbito nacional e presença nos diferentes biomas e territórios do país, o FMCJS tem desenvolvido o projeto “Políticas públicas em favor dos afetados/as pela desertificação”, como parte da Ação de Fortalecimento da Rede Jubileu Sul Brasil.
Quantas pessoas vivem nas áreas desertificadas do Brasil? Há entidades que atuam nessas áreas? Que iniciativas desenvolvem? Há iniciativas que visam enfrentar a desertificação? Quais as características delas? Há políticas públicas nas áreas desertificadas? Quais seus objetivos? Essas são algumas das perguntas que guiam o projeto do Fórum, que busca reunir representantes de comunidades que habitam esses territórios e identificar esforços já realizados por esses agentes para a recuperação de áreas desertificadas e em desertificação.
E alguns dados não deixam dúvidas sobre o caráter fundamental da iniciativa do Fórum. Segundo informações do Ministério do Meio Ambiente, as “áreas suscetíveis à desertificação” representam 16% do território brasileiro (o equivalente aos territórios somados da França, Alemanha, Itália e Holanda); essas áreas estão distribuídas em 1.488 municípios, o que representa 27% do total do país; e 17% da população brasileira – mais de 31,7 milhões de pessoas – vivem nessas regiões.
Em sintonia com o alerta de Naomi Klein, citada na abertura desse texto, o pesquisador do Instituto do Semiárido (Insa), Aldrin Pérez-Marin, ressalta que “a desertificação é um fenômeno antrópico, causado pelo ser humano e seu modelo de desenvolvimento. Portanto, é um fenômeno provocado [e não natural]”. Logo, a saída deve ser também por ações também humanas, mas que apontem outro modelo de desenvolvimento, a exemplo do que faz o Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental.
Outra política energética é necessária
Outra iniciativa que coloca em evidência a construção de uma nova forma de relação com a natureza é o projeto “Nossa Casa Solar”, realizado pela Frente por uma Nova Política Energética para o Brasil.
Conforme consta em sua carta de princípios, a Frente tem como missão “contribuir para a viabilização de uma nova política para o setor energético que responda adequadamente aos desafios do século 21 e seja baseada nos seguintes princípios: participação popular; justiça socioambiental com respeito aos direitos humanos, da natureza e à diversidade cultural; eficiência energética; abandono dos combustíveis fósseis e da energia nuclear; diversificação da matriz energética – priorizando a geração descentralizada com fontes renováveis de menor impacto; e autonomia energética das pessoas e comunidades, na perspectiva do bem viver”.
Em sintonia com esses propósitos, e também parte da Ação de Fortalecimento da Rede Jubileu Sul Brasil, o “Nossa Casa Solar” constitui-se como uma ação orgânica em defesa da energia solar fotovoltaica descentralizada que busca popularizar a utilização dessa fonte energética.
Para atingir esse objetivo, a Frente definiu um conjunto de medidas nas áreas de comunicação e mobilização, a exemplo da elaboração de uma cartilha sobre o tema, com linguagem acessível; oficinas para integrantes de movimentos populares; desenvolvimento de roteiro para multiplicação das oficinas; reformulação de site; e publicações em redes sociais.