“Nós estamos construindo um futuro catastrófico para o Brasil”, diz cientista do Inpe durante encontro nacional de mudanças climáticas.

O Encontro Nacional Mudanças Climáticas e os Processos de Desertificação nos Biomas do Brasil aconteceu de 14 a 17 de setembro de 2021

Redação | Palloma Pires, jornalista e comunicadora popular (ASDP-CERSA)

Para ampliar o debate sobre os graves impactos ambientais que afetam o mundo todo, o Comitê de Desertificação que integra o Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS), realizou o Encontro Nacional com o tema: “Mudanças Climáticas e os Processos de Desertificação nos Biomas do Brasil.

O evento que aconteceu de maneira virtual, teve início na manhã da quarta-feira (15), com a apresentação do Diagnóstico Situacional do Estado de Degradação de Terras em Processos de Desertificação no Brasil. O resultado reforçou a leitura do Fórum sobre o perigo do processo nos biomas. O diagnóstico mostrou que as questões ambientais são pouco visíveis do ponto de vista da consciência coletiva da sociedade.

Um dado importante apresentado foi que, em 60,71% das situações de degradação da terra nos biomas brasileiros, que são processos de desertificação, não há intervenção urgente sendo realizada para combater ou mitigar o problema.

O diagnóstico que mobilizou 235 organizações sociais com atuação em 12 estados dos 7 biomas brasileiros, mostrou ainda que o desmatamento é o principal vetor da desertificação, somado às queimadas e incêndios, o uso de fertilizantes sintéticos e pesticidas/agrotóxicos que intensificam ainda mais a devastação dos biomas.

Aldrin Martin Pérez, representante do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), destacou os efeitos que perduram além do período de seca. Enfatizou ainda que, diante das nuances da amplitude conceitual da “desertificação” da Convenção de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (UNCCD), o ideal é que se defina o campo de ação de luta contra a desertificação a ser implementada em âmbito nacional.

Luciana Gatti, pesquisadora e Coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa (LaGEE), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apresentou durante o Encontro uma pesquisa publicada na última quarta-feira (15) com conclusões importantes sobre a realidade da Amazônia.

De acordo com a pesquisadora, a degradação faz com que as consequências do desmatamento, a falta de chuva e temperaturas elevadas façam com que os efeitos negativos das mudanças climáticas se alastrem mais rapidamente.

“A gente pode usar a fundamentação científica para propor as mudanças. Não é sustentável o que estamos fazendo hoje no Brasil. Nós estamos construindo um futuro catastrófico”, concluiu.

Propostas de superação

Com o objetivo de fortalecer as ações já em desenvolvimento e novas práticas, os participantes do “Encontro Nacional de Mudanças Climáticas e Processos de Desertificação nos Biomas do Brasil” apresentaram na manhã de sexta-feira (17) as propostas elaboradas no dia anterior.

Entre as ações propostas com o objetivo de mobilizar a sociedade brasileiro para combater os impactos ambientais e a devastação dos biomas, podem ser destacadas: a expansão da articulação em rede, o fortalecimento do debate nas comunidades rurais por meio do intercâmbio das boas práticas de recuperação do solo, a promoção da educação ambiental e o fortalecimento da agroecologia.

Foi destacado também que geração de consciência e a mobilização da sociedade exige um melhor trabalho de comunicação popular, bem como a valorização da Economia Solidaria.

Para Rosângela Dias, representante da Rede do Comércio Justo e Solidário, de São Leopodo (RS), é importante usar uma linguagem comunitária e popular: “Me senti útil. Por isso eu trago essa fala tão importante de ter essa linguagem mais comunitária, mais popular. As palestras me abriram horizontes para colocar ainda mais em prática as ações da comunidade”.

No âmbito das políticas públicas, os grupos defenderam a busca por fundos que favoreçam os camponeses em ações de recuperação das áreas devastadas, o envolvimento das Secretarias de Meio Ambiente, a otimização do assessoramento jurídico para formulação de denúncias e o fortalecimento do debate sobre uma moratória da derrubada de floresta no Brasil. Foi destacada também a necessidade de provocar a atuação dos conselhos municipais, dos representantes políticos e dos sindicatos.

A iniciativa foi organizada pelo Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS), junto com o Movimento de Educação de Base (MEB) e aconteceu de 14 à 17 de setembro, com apoio da Rede Jubileu Sul, por meio do Projeto Fortalecimiento de La Red Jubileo Sur/ Américas en el logro del desarrollo y de la soberanía de los pueblos latinoamericanos y Caribenhos. A atividade também compõe a campanha Justiça Socioecológica.

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