O país registra cada vez mais desempregados e, sem a ajuda do Estado, a união da população precisa ser cada vez maior para combater a fome

Por Marcos Vinicius dos Santos* – Jubileu Sul Brasil

A pandemia de coronavírus ainda não acabou. Com a vacinação seguindo a passos lentos e a pouca assistência do Estado, é fato que ela deve continuar por muito tempo. Os preços seguem aumentando e o auxílio do governo é cada vez menor, aumentando o cenário de fome e miséria no Brasil.

Com isso, faz-se ainda mais necessário a união e a solidariedade nesse período em que o país está abandonado à própria sorte.

Em Fortaleza (CE) a Associação das Mulheres em Movimento, o Grupo de Mulheres do Jangurussu, o Grupo BÉ-RUYS-FONDS, o Movimento dos Conselhos Populares (MCP), as Mulheres do Pici, o Instituto Negra do Ceará (Inegra) e a Rede Jubileu Sul Brasil são exemplos de alguns grupos que se uniram para prestar auxílio às comunidades mais vulneráveis, como a distribuição de cestas básicas e kits de higiene, além de uma campanha de conscientização popular sobre a importância da proteção com máscaras e da divisão igualitária do trabalho doméstico.

A iniciativa, que também conta com a apoio da Cafod, da DKA, e da União Europeia por meio da ajuda a terceiros do projeto Protagonismo da Sociedade Civil na Políticas Macroeconômicas, atendeu os bairros do Jangurussu, Palmeiras, Gereba, Planalto Pici, Barra do Ceará e Padre Andrade, distribuindo os recursos arrecadados desde o ano passado, quando a campanha teve início. Seja solidário e doe para manter a entrega das cestas (confira os dados no final do texto).

Ouça abaixo o áudio de divulgação da campanha que percorreu os bairros de todas as comunidades:

Para os moradores do Planalto Pici a ajuda das cestas básicas foi fundamental. Como contou Francisco Fernando Martins, militante do Movimento dos Conselhos Populares, uma frente de luta por moradias atuante na região. Ele lembrou que raramente as esferas públicas – municipais, estaduais e federais – dão algum tipo de auxílio.

“Eu não tenho conhecimento de nenhum tipo de ação emergencial do Governo para as famílias em geral. As famílias que têm crianças nas escolas públicas recebem uma cesta básica da prefeitura, mas a maioria não tem crianças estudando, então não recebem esse tipo de ajuda. E as cestas básicas, doadas pelo Jubileu Sul em parceria com o MCP e o grupo de mulheres, é muito importante para as famílias aqui da comunidade”.

O Pici é uma ocupação iniciada no começo da década de 1990. Segundo Francisco, a principal luta do MCP é pela regularização fundiária da região, que atualmente é considerada pela prefeitura de Fortaleza como uma zona especial de interesse social em 2009. Apesar disso, o território que conta com mais de 25 mil moradores ainda não foi regularizado.

“Isso leva à vários problemas. A falta de regularização fundiária deixa os moradores com dificuldade de acesso às políticas públicas e isso é uma das grandes dificuldades da comunidade. Temos ainda problemas de violência, tráfico de drogas, facções e, com a pandemia de coronavírus, a situação social da comunidade piorou muito. Muitas famílias perderam o emprego, formal ou informal. Para as famílias que recebem cestas básicas doadas, esse é o alimento que têm, e as cestas e o material de limpeza são fundamentais para essas famílias de baixa renda, ou sem nenhum tipo de renda aqui do Pici. Então as cestas básicas fazem muita diferença entre comer e não comer, por isso são fundamentais, para dar um pouco de esperança, de alimento para as famílias”.

A falta de apoio do poder público foi um dos principais problemas apontados por Ângela Maria de Souza Almeida, de 65 anos, mais conhecida como Tia Rosa, moradora da comunidade Raízes na Praia. Ela acredita que o auxílio do governo foi muito pouco, considerando que a principal fonte de renda dos moradores foi afetada pela pandemia. A comunidade cresceu muito nos últimos anos, segundo pesquisa dos próprios moradores.

“Na nossa comunidade, durante essa pandemia toda, não chegou um político aqui, de canto nenhum para dizer assim ‘vocês estão precisando de uma cesta básica, de um remédio?’ Esse decreto do governo atrapalhou muito, sem ele seria pior, mas a ajuda ainda é muito pouca. Mas eu não entendo como um favor, porque é o imposto que a gente paga. Ele está fazendo só a obrigação do Governo mesmo. Na nossa comunidade temos 102 famílias. É uma comunidade pequena, mas com essa pandemia foi todo mundo morar junto, porque não podia mais pagar aluguel, luz. De 74 famílias que éramos aqui, a nossa pesquisa mais recente chegou a 102 famílias, contando só o chefe e 100% estava nem trabalhando. Voltaram agora porque o que sustenta aqui é mais o mar e a praia, tudinho sem trabalhar, vendendo coco, vendendo sardinha”, relata a moradora.

Tia Rosa lembrou a importância do trabalho coletivo em nome da sobrevivência, trabalho conjunto que se desenvolveu muito devido à necessidade de proteger uns aos outros. Um dos objetivos é a conclusão de um tanque do chamado Sisteminha, para poder gerar alimento para dividir com todos.

“Conheço e tenho orgulho das comunidades que têm a associação de mulheres. Só aqui na Raízes da Praia estamos há 12 anos, e não tínhamos nenhum projeto de nada. Eu não tinha tempo de me envolver muito com a comunidade, aí chegou essa pandemia, e foi quando passei a me envolver totalmente, integralmente com a minha comunidade. O meu sonho é o meu tanquinho, para começar tirar um peixinho, para o pessoal comer sem tá comprando, dar para outras comunidades virem aqui buscar um peixe. Se Deus quiser meu sonho é esse”, afirma Tia Rosa.

O Sisteminha é um projeto de segurança alimentar que vem dando certo nas comunidades. Com taques de criação de peixes, espaços para cultivo de hortas ou galinheiros, o Sisteminha visa produzir alimentos durante todo ano no quintal das casas das comunidades,  uma forma de garantir o sustento das famílias. Weyne Tiago, ativista do MCP há mais de 15 anos e morador do conjunto Palmeiras desde a infância, explicou o funcionamento da técnica.

“Ele engloba peixe, tilápia, frango, codorna, pepino, macaxeira, quiabo, de uma forma que se tenha o ano todo independente da época. Estamos agora iniciando aqui em Fortaleza, mas é uma forma que as famílias estão encontrando de ter alimento em casa para que não precise comprar. Na verdade, tem os dois intuitos – o compartilhar se você tem o peixe ali, e o outro tem o frango, e outro já investiu os legumes e as frutos. O outro é garantir à família que implantou ter na sua casa, no seu quintal o seu sustento. Esse é o objetivo, compartilhar o que cada um conseguiu implantar”.

O radialista lembra que ele se mudou para a ocupação devido a uma desapropriação no centro da cidade, pois lá iriam construir “a casa de barões”, expulsando muitas famílias que se viram obrigadas a se mudar para regiões periféricas da cidade, onde não havia nenhum tipo de suporte, como eletricidade ou saneamento básico.

Desde então a trajetória dos moradores da região foi de muita luta, e as formas de comunicação alternativa, como as rádios comunitárias, megafones, cartazes e panfletos ajudaram muito a conscientizar a população da comunidade do Palmares, que vem sofrendo bastante com a falta de emprego gerada pela crise.

“Ainda pegando esse gancho infeliz da falta do alimento. A gente encontra dentro de nós mesmos um pouco de abatimento por não conseguir atender à demanda. A gente precisa escolher quem são os mais necessitados, mas para resistir tivemos que encarar o problema – o problema sanitário, do coronavírus, mas tivemos que continuar a nos reunir. Tivemos que abrir exceções ou então ir à rua fazer uma denúncia, com megafone, áudio, ligar para alguém e continuar discutindo formas de como reivindicar ajuda”, conclui.

Confira os dados para doação:

Banco do Brasil:
Francisco Vladimir Lima da Silva
Agência: 3468-1
Conta corrente: 122.206-6
Pix: 647 190 733-87

Magnólia Azevedo Said
Agência: 2917-3
Conta corrente: 107914-0

Banco Bradesco:
Instituto Negra do Ceará – INC
Agência: 0645
Conte corrente: 0020335-1
CNPJ: 07.969.406/0001-26

Informações e envio de comprovantes de doação:
Francisco Vladimir: (85) 99703-6769Magnólia Said: (85) 99963-8610

*Com supervisão de Jucelene Rocha

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