Em tempos difíceis a individualidade pode ficar de lado, em especial às mulheres que são sempre responsabilizadas pelo cuidado de todo o grupo familiar
Por Marcos Vinicius dos Santos* – Jubileu Sul Brasil
A Rede Emancipa realizou no final de maio mais uma atividade como parte da ação “Migração sem fronteira: ações de acolhimento pelo direito à cidadania de pessoas em deslocamento”. Em um cenário de aprofundamento das desigualdades e da crise sanitária atual, o movimento deu suporte a aproximadamente 70 mulheres imigrantes, venezuelanas e haitianas, com a distribuição de kits de autocuidado e artigos de higiene em Porto Alegre (RS).
Nos kits distribuídos, itens como absorvente, preservativos, tubo de álcool gel, creme hidratante, xampu, condicionador e batom, além de vir acompanhado de um material informativo sobre a questão da violência contra a mulher.
Desenvolvido desde 2019, a ajuda aos migrantes é ainda mais importante neste momento, dado o aprofundamento da crise sanitária no país em meio à pandemia do coronavírus.
A proposta do coletivo ao trocar experiências com a população migrante é de ser uma sede do Projeto Emancipa Mulher, no bairro Santa Rosa, em Porto Alegre. Segundo Claudia Favaro, articuladora da Rede Emancipa Santa Rosa, foi justamente nesse diálogo com a população que se notou uma carência também quanto às necessidades individuais das mulheres da comunidade.
A alimentação é fundamental para manter a família, porém existem outras necessidades, como os itens de higiene pessoal, que acabam por expor as mulheres a situações de mais vulnerabilidade ainda.
“Muitas delas falavam dessa coisa de usar os banheiros, de que não conseguem comprar absorventes. Nosso objetivo foi tentar trabalhar o acolhimento, então fizemos um momento de escuta ativa onde construímos um questionário para trocar ideias ali com elas, sobre a questão do posto de saúde, onde elas estão sendo atendidas etc”, explica a articuladora.
Apesar da conclusão da parceria com o Jubileu Sul Brasil, após dois anos de realização de atividades, a “Migração sem fronteira” de assistência aos migrantes continua. Nesse cenário, a busca é por meios que possibilitem a essas mulheres gerar a própria renda.
“Uma das tarefas para as mulheres aqui na comunidade é justamente trabalhar essa questão da geração de renda com cursos de costura, de artesanato. Estamos no meio de uma pandemia e sabemos da dificuldade de fazer isso presencialmente, mas estamos pensando em formas, como trabalhar com cartilhas e com coisas que elas possam fazer em casa mesmo”, conclui.
A Rede Emancipa Santa Rosa é um movimento de educação popular que surgiu em 2011 na região norte da capital do Rio Grade do Sul. A atividade realizada como parte do “Migração sem fronteira” integra a ação de fortalecimento territorial da Rede Jubileu Sul Brasil, com apoio da União Europeia. Por meio do projeto conjunto foram desenvolvidas iniciativas de ajuda mútua entre migrantes e brasileiros/as, como ato de resistência a uma série de violências institucionais.
*Com supervisão de Jucelene Rocha