Junto com as organizações parceiras, a Rede Jubileu Sul Brasil convida a refletir sobre as graves consequências da interferência do Banco Interamericano de Desenvolvimento na economia e nos estados latino-americanos e caribenhos
Por Marcos Vinicius dos Santos*
Fruto de exposições e debates dos últimos dois anos, a Rede Jubileu Sul lança a publicação “O BID no continente: um cheque em branco para o genocídio e as violações aos direitos humanos na América Latina e Caribe”.
A história de perseguições, golpes militares e regimes ditatoriais é comum a todos os países da América Latina e Caribe, sempre apoiada em “um programa de reformas neoliberais que abriu, desregulou e privatizou suas economias nacionais, orientada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e respaldada pelo Banco Mundial (BM) e o BID”, explica o texto de abertura Magnólia Said, da coordenação do Esplar e membro da Rede Jubileu Sul Brasil.
O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), se especializa na cooperação e investimentos de longo prazo com o Estado, formando assim um experimento de “cooperação” entre Estado e capital, que usa os investimentos para os interesses próprios de exploração desde a criação do BID, nos anos 1960.
As consequências para a população
Complementando o estudo institucional dos acordos financeiros e políticos do BID, o artigo também traz relatos das regiões envolvidas diretamente na luta. Caso da Vila Cambuí, ligação entre as regiões Leste e Sudeste de São José dos Campos, no Vale do Paraíba. Ali foi realizado o primeiro financiamento do BID na cidade, de 1997 a 2005.
Quando o projeto começou a atuar, se percebeu que o seu principal objetivo era remover bairros inteiros das regiões centrais, antes desvalorizadas e agora com alto interesse do mercado para “construções de hipermercados, revendedoras de carro, de grandes avenidas, que não poderiam ser construídas com os bairros de baixa renda em seu entorno”, relata Cosme Vitor, representante da Associação de Favelas de São José dos Campos e um dos colaboradores da publicação.
A remoção da população da região é violenta, e a fiscalização dos órgãos públicos também é inexistente, como Cosme afirma. “No dia da mudança não há tempo às pessoas. A luz é cortada, um trator passa quebrando tudo, outros quebrando com marreta, e com a presença de policial civil armado, para construção de um supermercado Carrefour no local”.
Sem contrapartida, os moradores das comunidades do Caparaó, Nova Detroit e Vila Nova Tatetuba foram mandados para regiões distantes do centro – sem estrutura necessária e longe do trabalho e da vida com que estavam acostumados.
Além do caso de São José dos Campos, a publicação ainda traz casos parecidos, como o da Represa Hidroituango, na Colômbia, relatado por Juan Pablo Villamizar, e a relação entre o México e o BID, descrita por Eduardo Cervantes.
A publicação foi originalmente produzida pelo Jubileu Sul Brasil e pelo Jubileu Sul/Américas como parte da campanha A Vida Acima da Dívida!, e conta com o cofinanciamento da União Europeia.
Acesse a publicação na nossa biblioteca.
*Com a supervisão de Flaviana Serafim