Nesta quinta-feira, 15 de outubro (quinta-feira), às 19h, a Rede Jubileu Sul Brasil realiza ao vivo o debate virtual “A vida acima da dívida: quais os impactos no nosso dia a dia?“. Participam a secretária executiva da organização, Rosilene Wansetto, e as lideranças de comunidades de Fortaleza (CE): Angela Maria de Souza Almeida, a Dona Rosa (Raízes da Praia); Cícera Maria Silva (Coletivo de Mulheres Negras Cearenses – Inegra); Cícera da Silva Martins (Planalto Pici); Emanuela Ferreira Matias, a Manu (Conjunto Palmeiras); Francisca Luciana dos Santos S. Paulino (Gereba); Wayne Tiago (Movimento dos Conselhos Populares-Palmeiras), além de Francisco Vladimir, do Jubileu Sul Brasil.
A facilitadora será Magnólia Said, advogada e técnica do ESPLAR – Centro de Pesquisa e Assessoria A transmissão é pela página oficial da Rede Jubileu Sul Brasil.
A atividade integra a Semana de Ação Global Contra a Dívida e as Instituições Financeiras Internacionais (IFIs), mobilização internacional promovida entre 10 e 17 de outubro pelo Jubileu Sul/Américas reivindicando a anulação das dívidas, em contraponto às deliberações do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial que se reúnem entre os dias 12 e 18 deste mês.
No Ceará, o foco do debate são os impactos da dívida pública no cotidiano da população. No caso de Fortaleza, o prefeito Roberto Cláudio Rodrigues Bezerra (PDT) fez empréstimo junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), dinheiro que deveria ser destinado para enfrentar a pandemia na cidade. Porém, além do endividamento da prefeitura, os munícipes não estão sendo efetivamente beneficiados com medidas contra a crise sociosanitária, como denunciam as lideranças dos territórios.
Ângela Maria de Souza Almeida vive na ocupação Raízes da Praia e é categórica: “Tem muita gente passando fome e necessidade. Se o prefeito está com esse dinheiro, aqui não gastou nenhum tostão”. Além de todos os problemas com a falta de regularização das moradias, a moradora, que é conhecida como Tia Rosa, conta que a comunidade pode ficar sem eletricidade a qualquer momento porque a prefeitura não está pagando a conta à Enel.
Membro do Coletivo de Mulheres Negras Cearenses (Inegra) Cícera Maria Silva afirma que a dívida pública também afeta a vida das comunidades porque faltam recursos para políticas públicas nas áreas de saúde, educação, lazer para a juventude, segurança, saneamento básico, além de geração de trabalho e renda.
“Em praticamente todas as comunidades da periferia de Fortaleza há a ausência dessas políticas. Além dessa dívida ter sido contraída para realizar obras não prioritárias para a população em geral, ainda pagamos juros absurdos e injustos. Os bilhões que são destinados ao pagamento da dívida também poderiam ser investidos em políticas de combate ao racismo, à violência de gênero e proteção da vida do povo pobre e preto, mas infelizmente é uma desigualdade conscientemente construída”, critica.
Impactos da dívida e da crise na vida das mulheres
Do Conjunto Palmeiras, que concentra uma das populações mais vulneráveis da capital cearense, Emanuela Ferreira Matias, conhecida como Manu, diz que não viu nenhuma ação concreta da prefeitura. As únicas medidas foram a entrega de merenda diretamente aos pais das crianças, devido à suspensão das aulas presenciais nas escolas públicas, e entrega de cestas básicas pelos Centros de Referência da Assistência Social (CRAS) exclusivamente aos beneficiários do Bolsa Família.
“Para as outras famílias não vi nada concreto ser feito com esse dinheiro do BID e também não sei se os recursos dessas ações vêm desse empréstimo” afirma Manu. Ela também alerta para os impactos sobre a vida das mulheres, como perda de empregos formais e informais.
“Isso trouxe as mulheres para a vida diária e também seus companheiros que perderam seus empregos, o que afetou a sobrevivência, as condições de alimentação e pagamento das contas. Também aumentou as brigas em casa, os atritos com a falta de dinheiro, a preocupação em para pagar as dívidas e contas”, pontua Manu.
Cícera da Silva Martins, liderança do bairro Planalto Pici, ressalta que quem paga a conta sempre são as crianças, idosos e mulheres, e que os problemas financeiros influenciam as situações de discórdia nas famílias. “Quantos desabafos ouvi de companheiras sobre brigas, agressão por falta de dinheiro e das aflições geradas por esse fator. Infelizmente aqui no nosso estado temos uma cultura machista, onde o provedor tem que ser o homem e a mulher tem que ficar em casa e ser escrava do lar”, conclui.
Debate virtual “A vida acima da dívida: quais os impactos no nosso dia a dia?”
Data: 15 de outubro de 2020 (quinta-feira)
Horário: 19h
Acompanhe a transmissão ao vivo: https://www.facebook.com/redejubileusul/