Momento formativo sobre processos produtivos proporcionou partilha de saberes e experiências, além de inspirar equipes que integram a Ação Mulheres por reparação de dívidas sociais em seis estados do Brasil.
Por Natasha Cruz | Jubileu Sul Brasil
Produção de artesanato com biscuit ou sementes, materiais de limpeza, horta e cozinha comunitária, quintais de cura e até sistema de produção de alimentos integrados, ou “Sisteminha”, são algumas das iniciativas desenvolvidas e fortalecidas nas comunidades da Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais.
Os grupos produtivos de mulheres têm buscado incidir para o fortalecimento econômico e social das comunidades através dos princípios da economia solidária, que se baseia em uma ideia de colaboração e coletividade onde a produção, o consumo e a distribuição de riquezas são organizadas sob a forma de autogestão e com o objetivo de redução das desigualdades.
O modelo econômico em que estamos inseridas, gerador de crises e desigualdades, está alicerçado para manter a pirâmide social distribuída como ela está: muitos com pouco e poucos com muito. É preciso inverter o modelo que se apropria das riquezas dos indivíduos e dos territórios, que está pensado a partir das violências estruturais e desenhado para sustentar desigualdades.
Para partilhar algumas das iniciativas autogestionárias em curso nas comunidades que integram a Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais, articuladoras do Amazonas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul reuniram-se na última terça-feira, 6 de setembro. As lições e saberes serão sistematizados para serem replicados a partir das experiências dos territórios.
“Queremos pensar uma engrenagem com esses quatro eixos – solidariedade, ação econômica, autogestão e cooperação -, trabalhados transversalmente. Como fazemos, por exemplo, a comunidade se envolver nos cuidados coletivos com uma horta, a partir de uma perspectiva de geração de renda e inclusão social? Fortalecer o processo participativo dos grupos ao mesmo tempo que incidimos pela defesa de direitos”, aponta Marcela Vieira, articuladora de Manaus.
Partilha dos territórios
A produção de materiais de limpeza como sabão, detergente, amaciante e água sanitária, além de complementar a renda de algumas famílias a partir da venda na comunidade e nas feiras, contribui com o abastecimento próprio, uma vez que os itens são insumos de uso cotidiano. As comunidades Nova Brasília (Salvador), Coliseu I (Manaus) e São Borja (Porto Alegre) já trabalham com essa produção.
O combate à fome e à insegurança alimentar no contexto pós-pandemia têm sido um importante motivador para as experiências de hortas comunitárias, quintais produtivos e solidários. A produção de ervas e hortaliças, no contexto rural ou urbano, com possibilidade de abastecimento de toda a comunidade e entorno, é uma alternativa utilizada em diversos territórios. O Quilombo da Gamboa, no Rio de Janeiro, produz cerca de 350 quentinhas em sua cozinha solidária para distribuição entre seus moradores.
Ainda na perspectiva da segurança alimentar, Fortaleza vem desenvolvendo, desde 2019, uma importante tecnologia social de produção integrada de alimentos. Além de tanque e galinheiro para produção de proteínas, cultivo de hortas e biogás, o “Sisteminha” busca emancipar as pessoas e comunidades. É através dessa produção de partilha e busca por emancipação que conseguimos inverter a lógica perversa da economia da desigualdade.
Ação Mulheres
As iniciativas da Ação Mulheres por reparação das dívidas sociais ocorrem numa parceria entre o Jubileu Sul Brasil, 6ª Semana Social Brasileira (SSB) e Central de Movimentos Populares (CMP), com apoio do Ministério das Relações Exteriores Alemão, que garantiu ao Instituto de Relações Exteriores (IFA) recursos para implementação do Programa de Financiamentos Zivik (Zivik Funding Program).
As ações também integram o processo de fortalecimento da Rede Jubileu Sul Brasil e das suas organizações membro e contam ainda com apoios da Cafod, DKA, e cofinanciamento da União Europeia.
O conteúdo desta publicação é de responsabilidade exclusiva da Rede Jubileu Sul Brasil. Não necessariamente representa o ponto de vista dos apoiadores, financiadores e co-financiadores.