Alternativas e desafios para continuidade das atividades também foram pauta do encontro que reuniu lideranças de Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).

Participantes do encontro nacional realizado na cidade de São Paulo. Fotos: Flaviana Serafim

Por Flaviana Serafim – Jubileu Sul Brasil

Lideranças de todas as regiões do Brasil participaram do Encontro Nacional de Monitoramento, Avaliação e Continuidade da Ação Mulheres, realizado nos dias 9 e 10 de outubro, no Ipiranga, Zona Sul da capital paulista. O encontro reuniu a equipe da Ação “Mulheres por reparação das dívidas sociais” para apresentar os resultados, os desafios e perspectivas nos territórios de Belo Horizonte (MG), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).

Após a mística e acolhida às participantes, por Raimunda Oliveira e Josilene Passos, de Salvador, uma análise de conjuntura coletiva abriu os trabalhos, a partir de reflexões trazidas pela advogada feminista Magnólia Said, do Esplar, organização membro do Jubileu Sul Brasil (JSB), e da economista e educadora popular Sandra Quintela, da coordenação do JSB.

No contexto nacional, foi destacado o avanço e espraiamento do fundamentalismo religioso e político, a exemplo das disputas para eleição nos conselhos tutelares; o avanço das várias violências de gênero; o crescimento acelerado de megaprojetos sem licença ambiental e a agenda neoliberal que tem sido mantida nas finanças pelo governo federal. “Também temos que estar atentas ao feminismo neoliberal, que está se tornando feminismo de Estado”, afirma a advogada.

No cenário internacional, o alerta foi para os impactos nos territórios caso o acordo Mercosul-UE seja concretizado e para a transição energética que tem colocado o país como “A Disneylândia da renovação energética”, pontua Sandra Quintela. “O Brasil voltou’, mas para entregar nossos territórios?”, questiona a economista. Foram pautados ainda os conflitos bélicos na Ucrânia, Síria, Israel e Palestina, e o avanço da extrema direita, como a candidatura de Javier Milei à presidência na Argentina.

Dando continuidade à programação do dia, coordenado por Alessandra Miranda, da equipe executiva nacional da Ação Mulheres, e pela articuladora Jamile Mallet, as lideranças das equipes locais apresentaram os resultados alcançados nos territórios no último período, considerando não só o trabalho com mulheres, mas também com crianças e juventudes, além da formação, dos grupos produtivos de geração de renda. Elas compartilharam os desafios enfrentados, as perspectivas e aprendizados, e trocaram experiências, sobretudo nos processos de articulação e incidência na luta por direitos.

De São Paulo, a articuladora Ana Paula Evangelista apresentou o balanço da atuação no Grupo Geracional realizado com a Pastoral Operária (PO), e com migrantes e refugiadas, acolhidas na Casa de Assis pela Ação Social Franciscana – SEFRAS, e também as residentes nas ocupações Dom Paulo Evaristo Arns e Jean Jacques Dessalines, na região central da cidade. Entre outros, destacou a relevância das formações a partir da série de cartilhas produzidas pela ação e alertou para a questão das vulnerabilidades que impactam no engajamento de algumas mulheres.

Nas ocupações da capital paulista, as atividades também contam com a parceria do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).

A articuladora Jamile Mallet fez a apresentação dos territórios de Porto Alegre, onde a Ação Mulheres ocorre na Vila Nossa Senhora da Conceição, na chamada região da “Pitinga” na Zona Sul da capital gaúcha, e nas ocupações Cidade Nova, no bairro Belém Velho, e Vida Nova, no bairro da Restinga. Entre outros, foi destacado o fortalecimento dos grupos produtivos, das articulações locais e políticas pelo direito à moradia digna, a instalação de rede de água nos territórios de Porto Alegre e o engajamento das crianças nas Cirandinhas promovidas na Ação Mulheres. As atividades tem parceria da Rede Emancipa.

Do Rio de Janeiro, Gorete Gama falou dos avanços e realizações nas ocupações Quilombo da Gamboa, Vito Giannotti e Morar Feliz, destacando, entre outros, a reforma da cozinha comunitária, as oficinas de formação e autocuidado, o trabalho com juventudes e crianças. Na capital fluminense, as atividades são realizadas numa parceria do Jubileu Sul Brasil com a Central de Movimentos Populares (CMP), que também é parceira nacional da Ação Mulheres junto com a 6ª Semana Social Brasileira (SSB).

Regularização, direito à moradia e à cidade

Em Manaus, Marcela Vieira destacou a derrubada da reintegração que garantiu não só a permanência, mas que também abriu caminhos para a regularização fundiária da comunidade Nova Vida, onde residem centenas de famílias, sobretudo indígenas de 17 etnias. A articuladora também pontuou a importância de mobilizar a juventude, e a realização de abaixo assinados e mobilizações para reivindicar saúde, transporte, educação e regularização fundiária. Além da comunidade Nova Vida, na capital amazonense a ação é realizada nas ocupações Coliseu 1 e 3. Na capital amazonense, a ação é realizada numa parceria local com a Cáritas Brasileira.

Da capital mineira, a articuladora Karla Monteiro trouxe o balanço dos trabalhos na ocupação Comunidade Alto das Antenas, no Bom Sucesso, e ocupação Vitória, no bairro Granja Werneck. Foi destacada a relevância das oficinas de formação na luta por moradia, enfrentamento à violência e autocuidado das mulheres, e também houve um alerta para a demanda de atendimentos por saúde mental. Em Belo Horizonte, a ação ocorre numa parceria com a Rede Nacional Feminista de Saúde.

A ampliação de parcerias, o trabalho ativo com a série de cartilhas, a integração e interação dos territórios para troca de experiências em Salvador estão entre as realizações apresentadas pela articuladora Raimunda Oliveira e pela mobilizadora Josilene Passos. Elas também ressaltaram as reflexões em torno da segurança alimentar e nutricional, e a campanha intensa que garantiu a eleição de mulheres das comunidades para o Conselho Tutelar. Na capital baiana, as atividades ocorrem no território de Valéria, na comunidade Águas Claras e na Ocupação Nova Brasília de Valéria, em parceria com a Cáritas Regional Nordeste 3.

Na tarde do primeiro dia, os trabalhos prosseguiram com a oficina avaliativa da Ação Mulheres, conduzida pela assistente social e educadora popular Francisca Sena. Após a avaliação inicial, as participantes se organizaram em grupos para uma avaliação coletiva.

Avaliação e continuidade

Na manhã do segundo dia, coordenado por Raimunda Oliveira e Sandra Quintela, uma breve retrospectiva do dia anterior, seguida da mística, conduzida por Marcela Vieira. A avaliadora externa Francisca Sena prosseguiu com o trabalho nos grupos, que partilharam a avaliação coletiva iniciada no primeiro dia.

Na sequência, foi apresentado o balanço da Comunicação, com destaque para o alcance de 30 mil internautas nos conteúdos da Ação Mulheres nas redes e mídias sociais. O monitoramento dos indicadores da ação foi apresentado pela assessora técnica Carolina Mendonça, mostrando os impactos, resultados e alcance das atividades.

No conjunto realizado, fortalecimento da organização coletiva das mulheres; o programa de formação sobre o direito à moradia; a assessoria jurídica e de mediação às áreas de ocupação, com apoio à regularização fundiária e acompanhamento de processos de reintegração de posse; o apoio à execução de planos de resposta aos impactos gerados por conflitos urbanos, com a atualização e ampliação dos planos já elaborados e construção dos planos nos novos territórios.

A equipe executiva nacional e as equipes locais abordaram os desafios e alternativas para dar continuidade às atividades da Ação Mulheres. A importância das parcerias e articulações foi um dos destaques pontuados por Rosilene Wansetto, secretária executiva da Rede JSB. No encerramento, Raíssa Lazarini, da equipe técnica, conduziu a mística, reunindo as participantes numa roda de partilha com avaliação final do encontro.

Entre os encaminhamentos do encontro estão a realização de um seminário nacional com parceiros e de uma avaliação junto às mulheres atendidas nas comunidades. Também está previsto o lançamento de um média metragem documental mostrando como a Ação Mulheres tem contribuído na transformação de realidades nos territórios atendidos.

As iniciativas da Ação “Mulheres por reparação das dívidas sociais” contam com apoio do Ministério das Relações Exteriores Alemão, que garantiu ao Instituto de Relações Exteriores (IFA) recursos para implementação do Programa de Financiamentos Zivik (Zivik Funding Program). Também integram o processo de fortalecimento da Rede Jubileu Sul Brasil e das suas organizações membro, contando ainda com apoios da Cafod, DKA, e cofinanciamento da União Europeia.

O conteúdo desta publicação é de responsabilidade exclusiva da Rede Jubileu Sul Brasil. Não necessariamente representa o ponto de vista dos apoiadores, financiadores e co-financiadores.

Confira as fotos do encontro:

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