Economista afirma que a alta no preço do gás, energia e alimentos impacta mais as brasileiras, sobretudo as negras.
Amélia Gomes | Brasil de Fato MG*
Quando o assunto é economia no Brasil, é assustador como o custo de vida subiu. As tarifas de água, gás e energia aumentaram drasticamente. Sem contar o preço dos alimentos, que bateu recordes. O único índice em baixa, é o aumento do salário mínimo que, em 2022, foi de 10,2%. Para especialistas do setor, diante da situação do país, esse reajuste é insignificante.
“Está tudo muito caro, cada dia que a gente vai no supermercado é uma surpresa, sacolão outra surpresa, carne nem se fala”, se espanta Luciene Aparecida Rodrigues, trabalhadora informal. Não é para menos, em Belo Horizonte, de acordo com o Mercado Mineiro, os consumidores podem ter que desembolsar até R$9,90 para comprar um quilo de tomate e R$19,90 para comprar um quilo de jiló.
Como trabalha fazendo bolo por encomenda, Luciene compra, em média, dois botijões de gás por mês. E esse foi um dos grandes vilões do orçamento doméstico, com um reajuste anual de 36,99%. Mas o gás não está sozinho, a energia aumentou 21,1%, o transporte 21,03% e a gasolina quase dobrou de preço e aumentou 47,49%.
Elas são maioria no mercado informal
“Eu não tinha ocupação nenhuma, porque eu era faxineira e como fechou tudo, perdi minha renda. Então, comecei a fazer máscaras. E agora eu vendo cosméticos, conserto roupas e faço bolo por encomenda”, conta Luciene.
Acompanhando as taxas de reajustes nos preços dos itens básicos de sobrevivência, o índice de desemprego no país também está nas alturas, atingindo 11,1%. E, para piorar, as mulheres são a maioria entre os brasileiros desempregados, em empregos informais, precarizados ou sem proteção social.
“Além disso, os rendimentos das mulheres são em torno de 75% daquilo que ganha um homem não negro. Já as mulheres negras, chegam a receber 47% da remuneração paga para um homem branco”, explica a economista Isabela Mendes.
Isabela ressalta que a instabilidade econômica somada à ausência de políticas sociais, também coloca as mulheres em vulnerabilidade social, com maior chance de vivenciar situações de violência doméstica. “A implementação do Bolsa Família, por exemplo, que tinha como prioridade a titularidade das mulheres, teve um grande impacto no número de divórcios no Brasil e, consequentemente, no índice de violência doméstica”, diz. “Ao contrário do Bolsa Família, o Auxílio Brasil não é permanente, acaba em dezembro de 2022 e depois o cenário é de completa instabilidade”, lamenta a especialista.
Sem apoio do governo
“O auxílio do governo não está sendo suficiente para suprir as necessidades. Tudo aumentou muito. Não está sendo nada fácil sobreviver nesta pandemia. Estou passando por dificuldades para manter minhas filhas”, relata Taciane Cristina. Ela, que é mãe de cinco filhas, critica a falta de apoio do governo para população mais pobre do país.
Moradora da Pedreira Prado Lopes, um dos maiores aglomerados de Belo Horizonte, cotidianamente presencia o sofrimento que as mulheres da periferia têm enfrentado. “Que as próximas pessoas eleitas cumpram as promessas e de fato olhem para o povo”, anseia a dona de casa.
Infelizmente, segundo Isabela Mendes, no curto prazo, as perspectivas não são animadoras. “2022 deve seguir neste mesmo cenário, porque o conjunto de fatores que nos trouxe até aqui se mantém. Reflexo de um governo que abandonou completamente o compromisso com a vida dos brasileiros, sobretudo das mulheres”, aponta.
Para a economista, a receita para reverter o atual cenário das brasileiras “obrigatoriamente” tem que ter como ingredientes políticas de geração de empregos de qualidade, soluções coletivas para os cuidados, como o aumento no número de creches, hospitais e escolas, políticas de assistência social e de combate à violência.
*Matéria publicada originalmente em 03 de março de 2022, no site Brasil de Fato. Edição: Larissa Costa