Mudanças climáticas pautaram seminário com Gilmar Mauro, do MST. Encontro resultou em carta compromisso às candidaturas nas eleições de outubro

Por Flaviana Serafim – Jubileu Sul Brasil

“Não há alternativa neste padrão, não há outra alternativa a não ser o combate ao capital. Precisamos agir, fazer a luta anticapitalista, antissistema. São medidas radicais, que precisam ser tomadas em curto espaço de tempo, para sobrevivência”.

A reflexão é de Gilmar Mauro, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), painelista do Seminário “Mudanças climáticas, terra, água e floresta: perspectivas & desafios”, realizado sábado (14), na Casa de Clara, da Ação Social Francisca (Sefras), na capital paulista. O evento é uma iniciativa do Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Socioambiental (FMCJS), entidade membro da Rede Jubileu Sul Brasil.

Gilmar Mauro (ao centro) na análise de conjuntura. Fotos: Flaviana Serafim

O centro da análise de conjuntura feita pela liderança do MST foi o questionamento do capitalismo, e que enfrentar a mudança climática exige mudar o sistema e estabelecer novos paradigmas. “Se você anda a pé, não gera Produto Interno Bruto. Se usar carro e congestionamento, aumenta o PIB. Qual montadora vai deixar de produzir carro? É a lógica econômica. Precisamos de modelos, paradigmas de felicidade, do bem viver e não do ter”.

Na avaliação de Gilmar Mauro, “precisaria abolir a indústria plástica, petroleira, de adubos químicos e mineração, alterar toda a indústria. Descentralizar as cidades porque é inviável lugares como São Paulo, inviável a quantidade de transporte de comida por caminhão, com 30% de perda”.

Caminho coletivo

O líder do MST também chamou atenção para os impactos da agropecuária, que está entre as principais causadoras do aquecimento global: de 80 milhões de hectares de terra agricultáveis no Brasil, 45 milhões têm soja e 20 milhões têm milho, restando cerca de 14 milhões de hectares para os demais cultivos, que são os de alimentos que chegam à mesa da população.

Participantes reunidos na Casa de Clara, na Zona Leste de São Paulo

Enquanto o setor do agronegócio cresce desde a década de 1990 recebendo subsídios, isenção de impostos e financiamento, “há 4 milhões de agricultores pobres sem financiamento e são os que produzem alimentos”, criticou ao defender uma reforma agrária agroecológica, com tecnologia e cuidadores de florestas. “Plantar árvore é plantar cuidado. O MST já plantou 28 milhões de árvores, a meta é de 100 milhões”.

Do (FMCJS), Ivo Poletto participou on line do seminário e fez um breve histórico do surgimento da articulação do fórum, que há 15 anos atua em rede para gerar consciência crítica no combate ao aquecimento global e às mudanças climáticas.

Ao abordar a recorrência dos fenômenos climáticos extremos no Brasil, o filósofo e cientista social alertou para o que fato de “estão acontecendo antes do havia sido previsto. Os sinais indicam que as ameaças à vida pela ação humana estão aumentando rapidamente, e isso nos preocupa muito. Já temos a pauta do que deve ser feito se não quisermos morrer. A humanidade, os caminhos estão em nossas mãos. Podemos ajudar a mudar a relação com o ambiente e ajudar a Terra a se reequilibrar de uma economia que mata e só vê lucro”, ressaltou.

Polleto também divulgou o lançamento da coleção de cartilhas Corredores Culturais do Brasil, um material pedagógico, informativo e ilustrado sobre cada um dos sete biomas do país, disponível para download gratuito clicando aqui ou na imagem abaixo.

Mudanças climáticas e as eleições municipais

A segunda parte do seminário foi mediada pela socióloga Rosilene Wansetto, secretária executiva da Rede Jubileu Sul Brasil. A partir dos debates, os participantes refletiram sobre quais as ações de formação, mobilização e incidência são necessárias ao FMCJS para atuar diante da emergência climática.

Os participantes também refletiram e apontaram medidas prioritárias frente atual cenário climática, e a partir dos elementos destacados pelo público será elaborada uma carta compromisso para entrega às candidaturas de vereadores/as e prefeitos/as que disputam o pleito municipal de outubro próximo, e também para os que forem os/as eleitos.

“Estamos a pouco mais de 20 dias das eleições e, ainda que seja possível a entrega antes da votação, a carta é um documento para dialogar também com quem for eleito, para que se comprometam em cumprir as medidas”, afirma a secretária executiva.

Entre as proposta apontadas na carta: ações de incidência para garantia de orçamento público, emendas parlamentares e construção de projetos de lei voltados à mitigar e enfrentar as mudanças climáticas nas cidades; criação de um protocolo que orienta a população sobre como agir nas situações de emergência; realização de estudos de impacto climático e mapas de risco; revisão do plano diretor dos municípios considerando as questões climáticas; participação popular nas decisões sobre medidas de enfrentamento à crise do clima.

O documento está em elaboração e será divulgado oportunamente.

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