Depois de uma campanha tensa e intensa, a vitória progressista mudou o clima político e acendeu um Brasil com muitas expectativas, com uma pressão positiva com a qual o novo governo tem que lidar. Ainda que a vitória represente mais um rechaço, um “não Bolsonaro” e ao bolsonarismo do que a convicção na frente ampla que apoiou o presidente Lula, o momento de saída desse governo autoritário nos traz um dinamismo e a perspectiva de novas mobilizações das forças populares progressistas, sobretudo mulheres, juventudes negras, LGBTQIA+, cultura e meio ambiente. 

Observamos com atenção os discursos do Presidente eleito, a disputa mercado x investimento social. Por que manter por décadas um teto de gastos que tira do Estado seu papel na garantia de políticas públicas fundamentais ao povo?  Há tempos nos somamos pela derrubada do teto, porque é uma medida fundamental no combate à fome e garantia das políticas de saúde, educação, assistência social, moradia, dentre outras que sofreram desmonte (como a violência às mulheres, que triplicou no período, mas o orçamento 2023 não tem recursos para políticas de enfrentamento).

Por isso, não baixar a guarda é a palavra de ordem. Porque um mal maior foi barrado, porém, não vamos nos iludir: precisamos de uma frente ampla do lado de cá porque a luta continua para reconstruir o país, buscando garantir os direitos dos que estão no andar de baixo. Junto com a derrubada imediata do teto de gastos públicos, precisamos de um “revogaço”, um plebiscito ou um referendo revogatório contra o conjunto de retrocessos e desmontes dos últimos quatro anos, num caminho de debate nas comunidades que é pedagógico e formativo, para além dos resultados. 

Não à financeirização da natureza

No cenário internacional, esse momento de reconfiguração do capitalismo mundial, com mudanças de plataformas e nova geração tecnológica, vem com a ultra exploração de trabalhadores (sobretudo dos muitos jovens, recebendo o mínimo do mínimo). Ao mesmo tempo, as mudanças climáticas e a questão ambiental no centro da pauta, tendo a Amazônia como uma grande moeda de troca, como observamos na Conferência do Clima, a COP 27, recém-concluída no Egito.

Temos acordo total quando o Presidente Lula afirma que a luta contra o aquecimento global não pode estar separada do combate à pobreza e por um mundo mais justo, menos desigual. Porém, nos preocupamos quanto ao avanço da financeirização, coloca a Amazônia e a natureza do Sul global como recursos a serem usados com “responsabilidade” e “sustentabilidade”, ignorando os impactos sobre os corpos e territórios.

Nos preocupa também a instalação de eólicas offshore sobre o mar do Nordeste ou hidrogênio “verde” em florestas do Sul, devastando comunidades indígenas e de pescadores para exportar energia.  Por que não fortalecer as empresas estatais de geração e a pequena produção de energia, em vez de grandes multinacionais ultra concentradas num setor tão estratégico?

O que defendemos é uma transição energética justa e inclusiva, não as falsas soluções da “economia verde” para essa e outras questões, nem margem para privatizações como a ocorrida com a Eletrobrás, que poderia ser um exemplo de referendo revogatório para recuperar esse patrimônio do povo, estratégico para o país.

Unidade e soma de forças

Continuaremos pautando nossas bandeiras nas áreas sociais e econômicas, defendendo um projeto popular no qual possamos incidir, propor caminhos, soluções e alternativas que não sejam nem a cartilha do “mercado” nem a repetição de governos anteriores.

Em sintonia com os movimentos populares, temos o desafio de pensar e pautar um projeto popular e sermos propositivos, sem os riscos de ficarmos novamente reféns de pautas que vêm de cima para baixo, nem entrando de novo no engano de “não poder fazer crítica porque há um governo em disputa”.

Localmente fica mais um desafio e o mesmo alerta de não baixarmos a guarda: é preciso “des-bolsonarizar” os rincões do Brasil, atuar de forma mais intensiva nesses bolsões com uma política organizada porque o nazismo e o fascismo podem ficar e trazer retrocessos de novo daqui a quatro anos; dialogar sobre os fanatismos religiosos, que afetam sobretudo as mulheres; seguir traduzindo a questão das dívidas sociais e financeiras para popularizar o debate sobre os impactos e consequências desse sistema no cotidiano.

O momento é de unidade, de nos somarmos para ampliar forças nas pautas comuns porque com pressão popular a Câmara federal funciona a nosso favor. Daí a importância de um processo pedagógico como o “revogaço”, de reforçar a formação nas bases para poder politizar, estar perto do povo e não cair nos mesmos erros de antes.

Sim, são muitos os desafios, e por isso seguimos no esperançar. Mais do que nunca apostamos no verbo esperançar que Paulo Freire nos indica: “Esperançar é se levantar (…), é ir atrás, é construir, é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo…”, com foco na formação territorial, na soma de forças rumo a um projeto que inclua as reivindicações e necessidades da população que cada dia sofre mais os impactos da financeirização da vida e do meio ambiente.

Pelo #Brasildaesperança façamos de outro modo, façamos melhor pelos povos e pela natureza, construindo juntas, juntos, juntes, sem desistir nem baixar a guarda!

Não devemos, não pagamos!
Somos os povos, os credores!

Rede Jubileu Sul Brasil, 17 de novembro de 2022

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