Por Flaviana Serafim – Jubileu Sul Brasil
“O poder da comunicação é tão forte que chega a derrubar gente do poder, mas o povo quando toma consciência se posiciona”. A afirmação é do jornalista Olmedo Carrasquila, do Coletivo Vozes Ecológicas (COVEC) e da Rádio Temblor Internacional, do Panamá, que compartilhou seus conhecimentos como painelista das três oficinas de podcast realizadas virtualmente nos dias 11, 18 e 25 de março, numa iniciativa da Intipachamama, a partir da secretária da Rede Jubileu Sul/Américas, e da Rádio Semillas Rebeldes, na Nicarágua.
Carrasquilla fez essa afirmação ao explicar às pessoas participantes da oficina a importância, além da criatividade e da “queima de neurônios”, de decifrar qual é o campo de incidência e o funcionamento dos algoritmos para furar a bolha e a censura nas redes sociais tradicionais, por meio das quais viralizam – junto com atuação de robôs e notícias falsas – tentativas de desestabilizar governos, como já ocorreu em Honduras e Cuba.
“Em tempo de golpe de Estado em Honduras, todas essas redes sociais se alinharam com a censura dos golpistas. Essas corporações fazem parte dessa engrenagem e censuram a circulação de informações numa área ou país, a exemplo do que ocorre agora com a guerra entre Rússia e a Ucrânia”, alertou.
Por isso, na terceira e última oficina, em 25 de março, o jornalista explicou que, além das plataformas gratuitas como a iVoox para publicação dos podcasts, a divulgação dos conteúdos produzidos também merece atenção para não correr o risco de ser invisibilizada pelas redes tradicionais.
Nesse sentido, existem redes sociais livres e alternativas, com servidores descentralizados, independentes e software de código aberto, como é o caso da Diaspora, uma versão alternativa do Facebook, do Mastodon, semelhante ao Twitter. Já o Friendica é uma aplicação de rede social distribuída, que permite que os usuários se conectem com outros pelo servidor próprio da Friendica, ou ainda usando a ferramenta de forma integrada, o que permite publicar conteúdos em outras plataformas, sejam redes sociais, blogs, entre outros.
Carrasquilla também falou sobre os melhores horários de divulgação do podcast em cada rede, períodos em que há maior fluxo de internautas e permitem maior alcance. Os melhores horários variam de país para país, assim como são variáveis nas diferentes redes sociais, sendo necessário pesquisar a melhor hora de acordo com a região e a rede social na qual vai se publicar o podcast.
Voz e identidade
Sobre as características do podcast, Olmedo recordou que é importante que o arquivo seja em Mp3, um formato universal de áudio e compatível com as plataformas, e não ultrapassar 5 minutos para respeitar o tempo da audiência. Mas há outros cuidados importantes, segundo o comunicador, tais como “processar e viver o conteúdo”, ter qualidade e não fazer um produto passageiro:
“O podcast tem que expressar as pessoas que estão participando e ouvindo, tem que ter identidade. O formato feito pelos movimentos sociais deve ser diferente do que é criado pelos jornalistas, deve ir além para incidir na opinião pública, para trazer outras opiniões com conteúdo eloquente, com o qual as pessoas se identifiquem”, afirma.
Além da identidade no conteúdo de áudio, a identidade visual é outro elemento relevante. No caso do Ivoox, ao criar uma conta gratuitamente, é possível personalizar o perfil incluindo a logomarca, cores, frase ou lema que identifiquem a organização ou movimento.
“Se é uma série de podcast, também é importante ter um nome que identifique e que seja algo curto. No Ivox também é possível ter algum ícone, card ou imagem para a série”, explicou Olmedo, recomendando outra ferramenta gratuita específica para criação de identidade visual, o Canva.
O aplicativo se usa on line, sem necessidade de instalar programas no computador ou celular, tem uso fácil, simples e possui diversos modelos pré-formatados e editáveis para criação de todos os materiais necessários à divulgação do podcast, como artes de cards, capas e posts. O Canva também tem a vantagem de trazer os vários formatos já com os tamanhos padrão necessários para as diferentes redes sociais.
Socializar informação e conhecimentos
Coordenadora da Intipachamama e secretária geral do Jubileu Sul/Américas, Martha Flores afirmou na conclusão da oficina de podcast sobre a importância de coletivizar conhecimentos e de socializar a informação, ressaltando o rico processo de aprendizagem nos três encontros.
“Temos uma dimensão ainda maior do que fazem, são um coletivo de muitas pessoas e é isso que nos nutre. Não somos pessoas individuais, que não querem dividir nada. Trabalhamos aprendendo com esse processo desde nossas ações individuais, coletivas, políticas, espirituais, ancestrais”, destacou.
Martha informou que a construção dessa experiência prossegue com a realização de uma formação sobre rádio on-line, prevista para o mês de abril, e que também há a proposta de uma oficina de fotografia.
Ao longo dos encontros virtuais, participaram representantes de movimentos sociais, populares e organizações do Brasil, Chile, El Salvador, Guatemala, Nicarágua, Panamá e República Dominicana.