*Por Alessandra Miranda

Em março de 2020 com o tema mutirão pela vida, por Terra, Teto e Trabalho, foi lançada a 6ª Semana Social Brasileira, organizando e articulando forças eclesiais, sociais e políticas para adesão e participação. Em uma conjuntura de profundas violências e instabilidades sociais, por conta das crises presentes na economia e nos processos democráticos no país, mas também pela chegada de uma forte crise sanitária mundial, o COVID19, que encontrou no Brasil as mazelas das desigualdades sociais tornando ainda mais evidentes o empobrecimento da sociedade e suas consequências, a perda das vidas de muitos brasileiros/as, a 6ª Semana Social Brasileira é desafiada a atuar de forma que possibilite processos de articulação, formação e construção de alternativas de superação das desigualdades.Na ausência da possibilidade da realização de atividades presenciais, a 6ªSSB assume a importante tarefa de concretizar os Seminários on-line de formação, nos 18 regionais da CNBB[1], contando com a presença de mais de 730 lideranças das diversas pastorais sociais, bispos, religiosos/as, leigos/as, organismos e movimentos sociais do campo e da cidade[2], coletivos que atuam na defesa dos direitos humanos e da natureza.

Os seminários foram importantes momentos de vivencia da espiritualidade, integração entre as lideranças, formação, debate sobre a conjuntura, indicativos de horizontes por onde a 6ªSSB deve priorizar suas capacidades de mobilização e de construções concretas por um Brasil Popular, democrático, soberano e com processos de economia para a vida.

No debate relacionado aos temas centrais, Terra, Teto e Trabalho, foram refletidos elementos, diagnósticos e alternativas que somam às construções por onde a 6ªSSB devem centrar as energias e ações para estes três anos. São eles: a reforma agrária popular no Brasil; o combate ao uso do agrotóxico; o fortalecimento da agricultura familiar; a defesa dos territórios ameaçados (quilombolas, povos indígenas, ciganos, pescadores/as); o reconhecimento da população de rua como fenômeno do mundo capitalista e globalizado; a denuncia do abandono que ameaça fortemente os povos tradicionais, a juventude negra e as mulheres; a reforma política e tributárias, o combate e denuncia do racismo, homofobia e a transfobia nos diversos espaços; a luta histórica pela moradia para o à cidade; o apoio às ocupações urbanas e rurais; a reformulação das políticas publicas, para que garantam dignidade e a superação do assistencialismo; a concepção de que o sistema capitalista é destrutivo e mata; o apoio aos trabalhadores/as dos aplicativos que tem claramente aumento da  jornada de trabalho, diminuição de salários e ausência total dos direitos trabalhistas e a luta pela renda emergencial altamente ameaçada pela política de governo.

Porém, os levantamentos das lutas que necessitam ser fortalecidas vieram acompanhados das possibilidades de articular ações e proposições que gerem transformações. A força mobilizadora do ESPERANÇAR como orientação para seguir em mutirão através da organização das equipes da 6ªSSB nos âmbitos dos territórios; da dimensão da construção coletiva gerando processos participativos; da realização de atividades virtuais (até que sejam possíveis as presenciais) nas diferentes instancias de participação; do fortalecimento e participação no Grito dos Excluídos e as iniciativas locais e nacionais de mobilização para as denuncias e construções de alternativas para este importante e urgente momento de transformação política.

Para o período que segue até final de 2022, os mutirões populares têm a importante tarefa de refletir sobre os temas, sobretudo os eixos estruturais: democracia, soberania e economia, para mobilizar através das plataformas e redes virtuais de interação social, espaços de integração para a realização dos levantamentos das principais violações dos direitos humanos e da natureza, refletindo e identificando dos problemas estruturais, que limitam ou anulam o acesso a Terra, Teto e Trabalho e o justo reconhecimento e valorização da diversidade. Uma atenção e tempo especial nos seminários foram dedicados aos processos metodológicos para a 6ªSSB, com destaque para uma educação popular, não violenta e inclusiva, em todas as suas dimensões. São princípios das Semanas Sociais Brasileiras a participação popular, o protagonismo dos excluídos/as e das vítimas que tem seus direitos negados ou violados e o respeito à diversidade cultural, equidade de gênero, geração, raça e etnia, presença dos leigos/as, sem discriminação de manifestação de fé.

E por fim, a espiritualidade, profundamente presente nos seminários, marcada pela relação de fé e vida. Foram trazidas as indignações e profecias como compromisso sustentado na esperança que brota da mística do encontro e é alimentada pelo Bem Viver. A Solidariedade, harmonia com a natureza, ética, justiça social, sementes que começaram a ser plantadas e que a 6ªSSB se dispõem a radicalizá-las. São essas experiências concretas que estão sendo construídas nos diversos espaços de vida que trarão a força e esperança transformadora que a 6ªSSB pode gerar.

*Alessandra Miranda integra a secretaria nacional da Semana Social Brasileira


[1] Norte 1; Norte 2; Norte 3; Noroeste; Sul 1; Sul 2; Sul 3; Sul 4; Oeste 1; Oeste 2; Centro-Oeste; Leste 1; Leste 2; Nordeste 1; Nordeste 2; Nordeste 3; Nordeste 4 e Nordeste 5

[2] Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara; Comissão Brasileira de Justiça e Paz; Comissão Pastoral da Terra; Conselho Pastoral dos Pescadores; Movimento dos Trabalhadores sem Terra; Movimento pela Soberania Popular na Mineração; Observatório Nacional de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Oliveira; Pastoral Operária; Rede Jubileu Sul Brasil; Serviço Pastoral dos Migrantes; Setor de Mobilidade Humana da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; Conselho Nacional Laicato do Brasil; Movimento Pequenos Agricultores/as; APIB-Articulação dos Povos indígenas; Ampliada da CEBs; Movimentos dos Trabalhadores por Direitos; Pastoral da Juventude; Juventude Franciscana, dentre outros.

Deixe um comentário