Município de Vitória do Xingu, dia 13 de fevereiro de 2013, quarta-feira de cinzas: a fuga de uma adolescente de 16 anos, natural do Rio Grande do Sul, mantida em cárcere privado e obrigada a se prostituir, revelou mais uma realidade trágica na construção de barragens nos rios da Amazônia.
A usina hidrelétrica de Belo Monte tem sido denunciada como um grave atentado contra a vida. Seja contra povos indígenas, ribeirinhos, pescadores ou moradores de vilas e cidades; seja contra espécies animais ou vegetais, algumas correndo risco de extinção.
Tem sido denunciada como um grave atentado às leis ambientais e às leis de proteção às comunidades indígenas; como mais uma falsa promessa de desenvolvimento para a região.
Mas nenhuma dessas denúncias tem sensibilizado Juízes, Ministros, Governadores de Estado ou Presidentes da República. É um belo monte de violências, que nos últimos três anos tem sido “varridas para debaixo do tapete”, em nome de uma grande farsa montada com a desculpa de que a sociedade brasileira necessita de mais e mais geração de energia, e que isso só seria possível com a construção de hidrelétricas em diversos rios Amazônicos.
Após a denúncia da adolescente, uma ação da polícia local prendeu dois gerentes da Boate Xingu e libertou outras três mulheres e um travesti. Todas eram mantidas em regime de trabalho escravo: ficavam em pequenos quartos, sem janelas ou ventilação e trancados pelo lado de fora; eram mal alimentadas; o que consumiam era comprado no próprio local do cativeiro e incorporado à suas “dívidas”; segundo noticiado na imprensa, eram liberadas para ir à cidade uma vez por semana, sempre vigiadas por capangas armados; e somente poderiam ir embora se pagassem todas as “dívidas” feitas na boate. O pagamento era feito com a prostituição. Mas a “dívida” nunca acabava.
No dia seguinte, mais de 10 mulheres também teriam sido libertadas, na região, em condições similares. Em depoimentos, elas identificam seus “clientes”: seriam, principalmente, empregados da usina de Belo Monte. Adão Rodrigues, apontado como dono da boate, está foragido. Ex-operador de máquinas, hoje “ganha a vida” abrindo prostíbulos no entorno de grandes barragens, como já fez em Jirau, no Rio Madeira. Criminosos e vítimas são oriundos dos estados da Região Sul do país.
O mais absurdo dessa estória toda é que nenhum membro dos Poderes Executivo, Legislativo ou Judiciário pode dizer que “não sabia” que tais fatos iriam ocorrer. Os vereadores e prefeitos de Altamira e Vitória do Xingu; os parlamentares do Congresso Nacional e da Assembléia Legislativa do Pará; os Juízes do TRF-1; os governadores Ana Júlia e Simão Jatene; os ministros do Meio Ambiente e das Minas e Energia; os presidentes do IBAMA, da FUNAI e do BNDES; os presidentes Lula e Dilma; TODOS foram informados sobre as irregularidades de Belo Monte.
E TODOS estão sendo informados sobre o avanço do caos na região. Mas insistem em manter a construção dessa obra insana e desnecessária.
É válido destacar que TODOS acima sabem que esse crime sempre ocorre em torno de grandes projetos. É um grave problema social cujo risco é mencionado nos estudos de impacto das obras. Mas em Belo Monte, o descumprimento das condicionantes sociais impostas pelo próprio órgão que licencia a obra (IBAMA), são visíveis. E mesmo assim TODOS os interessados em sua construção permanecem omissos ou cúmplices.
BASTA da imposição de projetos que destroem a Amazônia, seus povos, culturas e meio ambiente. BASTA de mentir à população sobre os “benefícios” trazidos pelas grandes barragens. BASTA de ludibriar a legislação que ampara povos indígenas e tradicionais. BASTA de violar as leis ambientais. BASTA de iludir trabalhadores com falsas promessas de trabalho regular, fácil e lucrativo.
BASTA de aliciar mulheres e meninas para escraviza-las. Esse Belo Monte de mentiras, crimes, violência, destruição e morte está sendo utilizado para impor um modelo de “desenvolvimento” que somente enriquece poucos empresários, e deixa ao povo apenas a miséria.
BASTA de destruição no Rio Xingu.
PARE Belo Monte!
omitê Metropolitano Xingu Vivo Para Sempre