Por Karla Maria | Rede Jubileu Sul
Vídeo e fotos: Dirlene Marques
O final de semana na região central de Minas Gerais foi de tensão e tristeza. Enquanto moradores da cidade de Barão dos Cocais, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, realizavam treinamentos de fuga e aguardavam o toque da sirene anunciando o rompimento da barragem da Mina Gongo Soco, da Vale; em Brumadinho, uma procissão chorava as 241 mortes confirmadas com o rompimento da Barragem de Córrego do Feijão, da mineradora Vale, no dia 25 de janeiro.
Além das vítimas fatais, a Defesa Civil confirma que 29 pessoas ainda estão desaparecidas. Os rejeitos destruíram famílias, casas, plantações e contaminaram parte do Rio Paraopeba, afluente do São Francisco. Monsenhor Bruno Duffé, do Pontifício Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral, representante do papa, esteve neste final de semana em Córrego do Feijão para prestar sua solidariedade aos familiares das vítimas. “Consigo imaginar a dor do povo de Brumadinho e trago, a pedido do papa [Francisco], uma mensagem de esperança. Crendo que, no Córrego do Feijão, está o coração da Igreja e da humanidade”, disse, convidando o povo de Brumadinho a se tornar “profeta que anuncia um tempo novo, que consola e luta por um mundo mais justo, combatendo a ganância”.
Durante a caminhada, os nomes de todas as vítimas foram lembrados. Segundo o religioso Rodrigo Peret, a ideia era levar o representante do Vaticano até um ponto que foi atingido pela lama, mas a rua foi interditada pela mineradora Vale. O monsenhor não conseguiu ver de perto os estragos provocados pela lama. “A Vale bloqueou a procissão, com o representante do papa, impedindo a chegada junto à lama. Lama que desceu sem pedir licença, matando pessoas, destruindo meios de vida e a natureza. Um Estado capturado, uma organização criminosa que controla a cena do crime e o território”, denuncia Peret em suas redes sociais.
Cerca de 30 mulheres da Rede Jubileu Sul Brasil também estiveram em Brumadinho prestando sua solidariedade. Caminhando com as famílias e denunciando a dívida socioambiental causada pela mineradora Vale. “Foram instantes de pura emoção. Uma região linda e que de repente abriu um canteiro de obras por cima da lama. Durante a celebração, vem a segurança da Vale e detém o cortejo que iria até onde ainda se procuram os corpos. Imaginem. Se fazem isto com o representante do papa, o que não fazem com o povo”, questionou Dirlene Marques, economista e mestra em Ciência Política.
Acompanhada por mulheres do Coletivo São Mateus, de Contagem, Dirlene, destaca que a experiência foi também um processo formativo. “Fizemos um “corredor de conversa” dentro do ônibus” e a vivência de ver o crime da Vale. E a vivência da celebração, com os relatos e o simbolismo da região. E, apesar de tudo a região de Brumadinho continua linda, com um povo acolhedor. Como disse uma companheira “ sua beleza não esta só nos monumentos e sim no seu povo”.