41 anos depois de sua morte, as ideias e ações do líder sindicalista e da Pastoral Operária seguem fundamentais

1979. As emissoras de rádio do país ecoavam os versos de O bêbado e a equilibrista, música mais tocada naquele ano, composição do carioca Aldir Blanc, na voz da gaúcha Elis Regina. Naqueles tempos de autoritarismo, repressão e silenciamentos, era preciso, como cantava Elis, “cuidado, meu bem” porque havia muito “perigo na esquina”.

E foi numa dessas esquinas, em 30 de outubro daquele efusivo 1979, que o perigo encontrou um dos oito filhos de Jesus Dias da Silva e Laura Amâncio Vieira: Santo Dias, nascido 37 anos antes, em 1942, no município de Terra Roxa, interior de São Paulo.

Nenhum livro de história pode contar que Santo Dias morreu, mas foi morto pela Polícia Militar, ou seja, pelo Estado brasileiro. E, como era comum e institucionalizado à época, de maneira brutal.

Após uma série de mobilizações e reivindicações por salário justo e outros direitos trabalhistas – todas rejeitadas pelos patrões – os metalúrgicos de São Paulo, em 28 de outubro, iniciam uma greve, aprovada por uma Assembleia, realizada na rua do Carmo, com mais de seis mil trabalhadores e trabalhadoras.

Naquela última sexta-feira de outubro, as subsedes do Sindicato dos Metalúrgicos foram invadidas por agentes da Polícia Militar, que prenderam mais de 130 pessoas. A alternativa encontrada pela categoria foi abrigar os comandos de greve na Capela do Socorro, na Zona Sul de São Paulo.

Da capela, Santo Dias e outros homens e mulheres se deslocaram até a porta da fábrica Sylvânia, – dois dias depois do início da greve. Ali mesmo, buscando dialogar com os policiais para libertar um operário preso de forma arbitrária, Santo Dias foi alvo de tiros do policial Herculano Leonel e, ao chegar ao Pronto Socorro de Santo Amaro, já não estava mais entre nós.

O metalúrgico Santo Dias

Não estava mais entre nós fisicamente. Porque 41 anos depois do seu assassinato, Santo Dias – sua vida, sua história e sua dedicação à classe trabalhadora brasileira – permanece inspirando gerações a resistir a um regime de governo que, a cada dia, se aproxima do regime que matou o operário de Terra Roxa.

Os dois últimos lugares que Santo Dias esteve, uma capela e uma porta de fábrica, expressam com fidelidade a sua trajetória, afinal as suas principais atuações se deram no sindicalismo e na Igreja Católica, sendo ainda hoje uma das mais importantes referências da Pastoral Operária.

Ao lado de sua companheira, Ana Maria, Santo Dias participou também do Movimento Custo de Vida, articulação que coletou 1,3 milhão de assinaturas propondo a redução dos preços dos alimentos e produtos básicos. Num 2020 que o Brasil vê aumentar a quantidade dos seus filhos e filhas que passam fome e que estão desempregados/as, como não lembrar da importância de um ato como esses, em que Santo Dias desempenhou papel central?

“Não há coisa pior que não ter como comprar comida, pagar o aluguel, para isso alguns vivem pedindo nos semáforos ou mesmo sobrevivem de doações de cestas básicas. São 65 milhões de pessoas vivendo de apoio do auxilio emergencial enquanto 37 milhões vivendo do seu salário. Dentre esses, ainda há aqueles/as que tiveram redução no seu rendimento salarial, alguns chegando até 63%. Logo em seguida vem a exploração de trabalhadores e trabalhadoras, jornadas exaustivas e salários rebaixados, insuficientes para viver com dignidade”.

Essas foram palavras ditas por Jardel Lopes, da coordenação nacional da Pastoral Operária, em entrevista concedida à equipe de comunicação da Rede Jubileu Sul Brasil, por ocasião dos 50 anos da entidade.

São palavras que descrevem um cenário de profundas dificuldades para a classe trabalhadora brasileira e não deixam dúvidas sobre a importância de, mais de quatro décadas depois da sua morte, reivindicar a memória e a história de Santo Dias.

Celebrações

Diversas homenagens a Santo Dias serão realizadas nessa sexta-feira, 30 de outubro. Por ocasião da pandemia de Covid-19, todas as atividades serão virtuais.

14h: Fábrica Sylvania – Cemitério Campo Grande
Transmissão ao vivo da pintura da rua Quararibeia, onde Santo Dias foi assassinado, e celebração no cemitério Campo Grande. – Facebook: https://fb.me/e/54Zmix1Aa

19h: Live com Luciana Dias, entrevistada por Gustavo Conde
Transmissão pelo Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=A-aWMGFvN28

20h: Transmissão ao vivo da homenagem feita por Celso Maldos e Comitê Santo Dias, com músicas e depoimentos dos familiares e companheiros de Santo Dias.

Transmissão pelo Youtube: https://www.youtube.com/channel/UC8rzDfqpnEDSIqV4M8sLXYQ

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