Por Flaviana Serafim – Jubileu Sul Brasil
Apesar do Brasil ser atualmente o foco de contágios e mortes pelo novo coronavírus (COVID-19), desde o início de junho o governo do Ceará iniciou um calendário de flexibilização das atividades, obrigando principalmente as populações mais pobres e já em dificuldades, a se arriscarem, como ocorre na capital, Fortaleza. O estado contabilizou mais 108 mil casos até 1º de julho, segundo o Ministério da Saúde.
Neste cenário, o isolamento social é o melhor caminho para diminuir os riscos de contágio nas populações mais pobres, mas a flexibilização imposta pelo modelo capitalista, a ausência de direitos trabalhistas, o desemprego e a informalidade dificultam o sustento das famílias vulneráveis.
Para dar suporte às comunidades pobres cearenses, a Associação das Mulheres em Movimento, o Grupo de Mulheres do Jangurussu, o Movimento dos Conselhos Populares, as Mulheres do Pici, o Instituto Negra do Ceará e a Rede Jubileu Sul Brasil prosseguem com a campanha de distribuição de cestas básicas, produtos de limpeza e remédios iniciada em março.
As cestas têm garantido a alimentação das famílias, muitas delas com trabalhadoras e trabalhadores em ocupações informais ou que acabaram perdendo o emprego na pandemia.
Na ação de solidariedade, os movimentos e organizações falaram da importância do isolamento social para proteção das famílias, do uso de máscaras e higienização das mãos, e ainda quanto à importância dos homens contribuírem ajudando as mulheres nas tarefas de cuidado com a casa os filhos.
Também questionam a falta de políticas públicas, a precarização do Sistema Único de Saúde (SUS) e a falta de saneamento básico, situações que contribuem para que a as camadas mais pobres do Brasil sofram diretamente os impactos gerados por falta de assistência e direitos.
Para conscientização dos moradores, jovens da comunidade Planalto Pici gravaram um áudio informativo e educativo que está circulando na comunidade. Ouça:
Chegada em boa hora
Moradora do bairro Planalto Pici, na periferia da capital cearense, Cícera da Silva Martins, de 53 anos, é do grupo de risco e expressa seu temor ao afirmar que, até a metade de junho mais de 200 pessoas haviam sido infectadas pela COVID-19 no bairro, com 48 mortes. Com a flexibilização, ela diz que muitas pessoas estão sem máscaras e aglomeradas no comércio de Fortaleza.
Ela conta que algumas das famílias conseguiram o auxílio emergencial do governo federal, mas os R$ 600 são insuficientes porque muitas pagam aluguel, estão com dificuldades para se alimentar e sem condições de comprar materiais de higiene contra o coronavírus, como álcool gel. Sobre a importância da ação de solidariedade, afirma:
“Com o recebimento das cestas percebi o alívio e emoção ao receberem, algumas mulheres mencionando que não tinham quase nada em casa para alimentação e a gratidão por ter sido beneficiados com as cestas. Houve até comentários ‘chegou em boa hora’. Agradeço em meu nome e em nome das companheiras pelo ato de solidariedade do Jubileu Sul em fazer essa doação”.
Solidariedade essencial
Aos 64 anos, Ângela Maria de Souza Almeida é mais conhecida como tia Rosa na ocupação onde mora, na comunidade Raízes da Praia. Ela explica que passou 10 dias com sintomas semelhantes ao da COVID-19, fazendo tratamento isolada em casa com remédios, chás medicinais e repouso.
Com a saúde reequilibrada, tia Rosa diz que a ação de solidariedade tem “dado muito força” diante da pandemia na comunidade. “Temos tido muita ajuda. No começo desta semana recebi os alimentos e temos merenda para as crianças por uns 15 dias”.
Segundo a moradora, na ocupação Raízes da Praia duas pessoas morreram de COVID e seis casos foram confirmados, um deles, confirmado no final de junho, de uma jovem de 16 anos que diariamente faz acompanhamento na Unidade de Pronto de Atendimento (UPA) e segue em tratamento em casa.
Do bairro Jangurussu, Juliana Araújo, de 28 anos, conta que as ações de solidariedade têm garantido o sustento principalmente porque, além da informalidade, houve demissões no retorno às atividades pelos trabalhadores formais, entre os quais o setor de transportes que tem demitido em massa, como uma empresa que mandou 100 pessoas embora num só dia no final de junho.
“As ações dão algum suporte para as famílias que estão perdendo o emprego, as que estão tendo dificuldades como feirantes que não puderam trabalhar na quarentena, os trabalhadores de aplicativos. Quem está desempregado ou em dificuldades, é com as ações de solidariedade é que estão conseguindo se manter.
Como contribuir
Para saber como ajudar nas ações de solidariedade basta entrar em contato com:
Igor Moreira: (85) 98569-5663
Magnólia Said: (85) 99963-8610
Chicão Oliveira: (85) 98416-0118
Francisco Vladimir: (85) 99703-6769
André Lima: (85) 98705 7557
Juliana Araujo: (85) 8607-8796