Frente à crise econômica e sanitária como enfrentar o tema do endividamento público? Essa foi a questão norteadora do debate da terceira edição do Trio de Conversa que aconteceu no último dia 6 de agosto.
Promovido pela Rede Jubileu Sul Brasil o evento contou com participação de Roberta Traspadini, doutora em educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenadora do Observatório de Educação Popular e Movimentos Sociais na América Latina (OBEPAL-UFES), e também Marisa Amaral, doutora em economia pela Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA USP), professora da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política.
Na visão da professora Roberta Traspadini, “A dívida, ela faz parte da nossa trajetória histórica, em especial de quem nasce do [anos] 70 em diante e ela é um resultado político econômico da hegemonia estadunidense sobre a América Latina, isso é muito importante. Que se faz pela moeda, que se faz pela cultura, que se faz pela lógica da produção – e, portanto, da própria superexploração – e que é continuamente renovada nos tratados do norte para o sul. As vezes vem em formato de golpe real, militar, outras ela vem em formato de tratados comerciais ou tratados político comerciais, como foi todo esse plano logístico para América Latina.”
Durante o debate, Marisa Amaral comentou sobre como a dívida pública insere as populações periféricas na dinâmica financeirizada. “Ao meu ver o elo que permitia a vinculação da periferia – no caso da economia brasileira – a essa dinâmica financeirizada, é justamente a dívida pública. No contexto dos anos 70 com agravamento nos anos 80, a partir da crise da dívida dos países latino-americanos, que vem combinado a uma sequência de declarações de moratória de vários os países latino-americanos. O que isso nos trará é a implementação profunda e efetiva desse arranjo, desse aparelho neoliberal que vai contar particularmente com medidas vinculadas a necessidade de sustentação de estabilidade monetária, necessidade de sustentação de superávits fiscais primários, que são aqueles que não incluem o pagamento de juros de dívida, necessidade de abertura comercial de segmentação financeira, processo de privatização de segmentação dos mercados, sobretudo mercado de trabalho, e tudo isso tem obviamente razão de ser.”
A dívida é um resultado da forma como o capital maneja as formas de apropriação de recursos, ressalta Roberta ‘No contexto da América latina e Brasil, a dívida é um tema tabu, e ao ser um tema tabu, não se discute de fato o impacto de coisas cotidianos que temos vivenciado nos últimos anos, mesmo nos governos progressistas. A divida é também o resultado histórico de como o capital maneja, a cada tempo histórico, todo o processo de apropriação destes recursos. Por exemplo, se a gente pegar o BNDS e o financiamento do BNDS ao longo dos últimos anos, a gente vai visualizar que quem ficou com maior montante desse financiamento foram os grandes capitais’
André Lima Sousa, doutor em geografia, professor da UECE – Universidade Estadual do Ceará (UECE), membro da coordenação da Rede Jubileu e responsável pela mediação do debate, esse desafio de popularizar o tema da dívida pública é um dos compromissos da Rede Jubileu.
Assista o debate completo:
Leia sobre as edições anteriores do Trio de Conversa:
Segundo Trio de Conversa fala sobre o impacto da dívida na vida da classe trabalhadora
Dívida pública brasileira não é debatida no enfrentamento à crise